sexta-feira, 17 de junho de 2011

OS PSITACISTAS


OS PSITACISTAS

“A arte da imitação é tão rica, que só um animal não a simboliza exigindo um bicho composto de papagaio e macaco ao mesmo tempo: o papaco ou macagaio, também chamado papamaco, pacagaio ou mapapaco.”

Olavo de Carvalho

Não fazem qualquer diferença na plumagem, assobiam no mesmo tom e a palração é de falsete; repetem, repetem, repetem sempre. São os psitacistas. Falam tão bem, colocam em cada palavra, em cada frase, tal ênfase, que os próprios se convencem da veracidade das patranhas que bolçam. A fria técnica verbal sobrepõe-se à inteligência e o lugar-comum, porque bem aceite, não fosse ele comum, são a forma e o conteúdo dos palradores que se apresentam, que os apresentam sempre circunspectos e com o rótulo de doutores ou professores em qualquer coisa para emprestar credibilidade ao discurso e melhor projectar a sentença.

Preparados para preencher um vazio, abafar um acontecimento, deturpar uma realidade incómoda ou impor uma ideia difícil de vender, há quem lhes dê o mote, mote que nunca é inócuo e não surge por acaso.

As centrais de desinformação com os seus exércitos de psitacistas, guarda pretoriana dos modernos imperadores, encarregam-se de glosar o tema proposto e imposto. Pagos principescamente, os psitacídeos cumprem, sem qualquer réstia de pudor ético ou rebate de consciência, agressivamente ou de modo sorrateiro e velhaco, a missão de que são incumbidos: metamorfosear a mentira em verdade e esta, em palavra divina, que os psittakós de serviço, em dourados poleiros, vão arengando com melodias diversas, mas sempre com o mesmo texto.

Recusam opiniões verticais, tão-pouco lineares, optam pelas circulares, ideias feitas, tóxicas e, como tal, não biodegradáveis que começam, desenvolvem-se e terminam sem alterar o conteúdo, deixando sempre e insidiosamente para quem as consome, tal como o mercúrio, vestígios no sistema nervoso ou no inconsciente individual e colectivo.

Macia Picabea, em 1898, definia o termo “psitacismo” (de psittakós, papagaio) como “síndrome doentio da idiotice”, cretinismo que, tal como hoje entre nós, grassava em Espanha, nas Cortes e no jornalismo da época.

A doença, como é dado constatar, embora com diversos matizes a que o tempo reforça a patine, vem de longe.

Se não fosse evidente a chancela ideológica ou a marca de quem os alimenta, poderíamos supor que os nossos papagaios se encontravam afectados por distúrbios psíquicos que o termo, “psitacismo” também consigna – palavreado vazio e abundante; loquacidade ou verborreia; repetição mecânica – significado que bem se adapta ao discurso oco e mecânico, inseparável dos nossos comentadores que, empertigados, se nos dirigem por todos os meios, sempre com a ladainha glosada de quem os precedeu.

“O síndrome doentio da idiotice”, pela gravidade e inquietantes repercussões sociais a que nos sujeita, merece estudo aturado. Um grupo de cientistas seleccionou alguns testes ao dispor de qualquer um de nós. Por exemplo: Quer em debates ou entrevistas, ou quando lhe aparece o comentador, suprima o som e veja como se comportam os mapapacos; restabeleça a sonoridade e observe a metamorfose do mapapaco em pacagaio. É um exercício divertido e muito instrutivo.

Quando do noticiário se fizer zapping continuamente, só encontrará diferença no estilo e, por muito que se esforce, não consegue fugir da notícias que, à força, lhe pretendem impingir; e outras há, que dado os escassos segundos de antena que lhes não concedidos, não consegue agarrar.

Colocar um papagaio, nem que seja de plástico, junto a essa gaiola que é a televisão, é de grande utilidade e de maior significado.

Se for um papagaio a sério, deixe-o desabafar com um ou outro palavrão. Caramba!

Os outros papagaios são muito mais desavergonhados.

3 comentários:

  1. Não é só no jornalismo infelizmente. A educação dentro e fora de recinto escolar em muito treina adeptos de papagaios.

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  2. A doença é perigosa potque é contagiosa.
    Mas nós temos a Vacina.

    Um beijo.

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