O QUE SERIA UM GOVERNO BOLSONARO
Prof. João Marcio, UFRRJ
Rio de janeiro, 12 de outubro de 2018
O deputado Bolsonaro já se comprometeu com o
"mercado" a entregar toda as decisões da área econômica ao grandes
agentes privados, sob a hegemonia do capital financeiro (personificado no tal
Paulo Guedes). Pelas declarações do candidato, seria um governo comandado
diretamente por homens de negócio comprometidos com a redução do "custo
Brasil", ou seja, com o aumento do lucro privado. Um governo com esse
perfil não apenas continuaria, mas radicalizaria a agenda Temer, a fim
de implantar:
1) A redução brutal dos custos de remuneração da força de trabalho
(isto é, a redução do salário mínimo e o fim de diversos direitos trabalhistas
combinadas com a deterioração das condições de trabalho, por meio da
generalização do trabalho intermitente, da terceirização e do sucateamento da
justiça do trabalho);
2) O fim
das restrições legais à máxima exploração econômica dos recursos naturais,
passando por cima de populações tradicionais e preocupações ambientais;
3) O sucateamento
e a privatização da educação pública (mediante o desfinanciamento crônico de
escolas e universidades, a implantação em massa do ensino à distância via
empresas privadas, a substituição de concursos públicos para técnicos e
professores pela contratação via terceirização, a redução drástica das bolsas
de estudo, pesquisa e apoio à permanência nas universidades, a imposição de
reitores pelo MEC contra a escolha democrática de comunidade acadêmica e a
perseguição ideológica à liberdade de ensino e pesquisa);
4) O sucateamento
e a privatização da saúde pública (mediante o desfinanciamento do SUS, a regulação
fraca das empresas privadas de saúde, a generalização das parcerias
público-privadas como modelo de gestão e a substituição de concursos públicos
pela contratação temporária via terceirização);
5) O favorecimento à indústria armamentista (nacional e estrangeira),
mediante a liberação do porte de armas e a prioridade orçamentária às demandas
das polícias e das forças armadas;
6) Um
modelo de segurança pública ainda mais belicoso, menos responsável perante a
sociedade e menos responsabilizável juridicamente;
7) O alinhamento
externo do Brasil aos EUA e a Israel, colocando o país numa agenda militarista
que contraria a sua tradição diplomática e põe em risco a paz na região.
Além disso tudo, ainda teríamos uma reforma da
previdência (que cortaria direitos para os de baixo, mas manteria privilégios
para a elite estatal e os militares), uma reforma tributária que reforçaria a
concentração de renda e riqueza, a privatização de empresas e bancos públicos e
a fragilização das instituições de controle e investigação contra a corrupção.
Para implantar uma agenda desse tipo (os capitalistas
de cima vão aplciar a "lei do cão" para os debaixo), só com
intimidação, perseguição e violência. Aquilo que a historia registrou
como métodos fascistas.
João Márcio Mendes Pereira
SOBRE O PERSONAGEM QUE OS CAPITALISTAS PRECISAM
Antes de tudo o Bolsonaro é um imbecil, que nunca foi
levado a sério, nem nas forças armadas. Ele só é confiável para o
"mercado" (a burguesia, como se dizia não tão antigamente assim) se
terceirizar todas as decisões estratégicas do seu eventual governo, ficando
apenas com pautas secundárias para despejar as suas bravatas e lançar factóides
à opinião pública. Essa é a leitura dos agentes econômicos relevantes que estão
pagando a conta da campanha dele. O problema (para eles) é que o Bolsonaro é
despreparado até pra entender isso, o que coloca um horizonte de
imprevisibilidade e incerteza para os "investidores" (os
capitalistas). Ademais, o sujeito não tem base política sólida (o tal do PSL é
um fenômeno de ocasião, sem consistência programática).
Por outro lado, o Bolsonaro carrega um ranço
autoritário que é constitutivo da sua figura pública, do qual ele não pode
abrir mão sem negar a si próprio. E é esse ranço que gera uma reação contrária
a ele que é socialmente plural e internacionalmente consensual até agora.
Em suma, o sujeito só convence de fato os fanáticos
que o seguem. Os capitalistas o estão utilizando agora, mas já o precificaram,
estabelecendo como prazo de validade a execução das reformas neoliberais (o
pacote de maldades contra o povo e contra o patrimônio nacional, ao estilo
terapia de choque - um ou dois anos, no máximo). Depois disso, o sujeito será
dispensável.
A incerteza (para todos) consiste em que, depois de
aberta a caixa de Pandora, os demônios não voltam a ela facilmente e, como diz
a lei de Murphy, nada é tão ruim que não possa piorar mais.
João Márcio Mendes Pereira
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