domingo, 25 de outubro de 2009

Pão Ázimo - Miguel Torga

Pedir!... Pedir o meu pão!
Uma boca não pede o que lhe é dado!

(Foto de António Flor)
Pão Ázimo

--- SimPerdãoSimMas não posso:
Murmurou o Padre Nosso
E tenho medo e vergonha
SimPerdão, PadrePerdão
É pecado

Pedir!... Pedir o meu pão!
Uma boca não pede o que lhe é dado!

Sim!... Prometo e comprometo
A minha
Mas, ó Padre, quem é…?!
Ah! NãoNão, PadrePerdão

--- E vem a morte
--- Pois vem…
--- E o inferno
--- Também
--- Vai pedir perdão a tua Mãe
E a teu Pai
Vai…

--- Ninguém me perdoou, Padre, ninguém!
Nem meu Pai, nem minha Mãe!
Dizem no mesmo tom
Que nem sou mau nem sou bom.
Não me aceitam disforme,
Mas conforme

--- Pecador, faz penitência!...
--- fiz sangue nos joelhos
--- Faz penitência!
--- tenho os olhos vermelhos,
dei murros nos ouvidos,
matei os sentidos
--- Faz penitência!
--- Perdão, Padre, Perdão,
Mas não,
fiz tudo o que podia…
--- Tem paciência,
Faz penitência
Mais um dia
Miguel Torga

5 comentários:

  1. Seria intressante que conferissem a pontuação colocada no Vol 1, p. 33-34 Poesia Complet de Miguel Torga, editado pela Publcações Dom Quixote, Lisboa, 2007.
    José Carlos Abreu Teixeira.

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  2. Vale a pena conferir a potuação com o poema publicado em Lisboa no Volume I de Poesia Completa de Miguel Torga, ecitora Publica Dom Quixote, 2007.
    José Carlos A. Teixeira

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  3. Muito grato pelo seu interesse. Como editei este post em 2009 neste momento não o consigo rectificar mas tentarei mais tarde. Obrigado.

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  4. Muito obrigada por trazer à tona este actualíssimo poema de Miguel Torga!
    É preciso acordar!
    É preciso pensar que não temos de pedir o que é nosso por direito.
    ... O que outros, sem pejo, não param de roubar!

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