sexta-feira, 22 de março de 2013

Óscar Lopes na Cooperativa Piedense

Faleceu Óscar Lopes
wikipédia (aqui)
"Na biblioteca da Cooperativa Piedense"

A genese do titulo deste blogue”

«AS PALAVRAS SÃO ARMAS»

Era uma da manhã quando tivemos que dar por terminado o colóquio que Óscar Lopes tinha vindo fazer à Piedade. Ali na sala do café, mantinha-se sem arredar , um público composto por trabalhadores, cuja média de instrução oficial não devia ir além da quarta classe e Óscar Lopes com um entusiasmo contagiante procurava fazer-se entender. “Se não me compreenderem, sou eu que não me sei fazer entender”, dizia-nos. E mais do que os ensinamentos sobre literatura, frases como estas ficavam a vibrar nos nossos sentidos, acostumados que estamos à imbecilidade reconfortante dos que “sabem” tudo e à arrogância daqueles, para quem, no pedestal da sua sapiência todos os outros são asnos.
 "Óscar Lopes na apresentação do livro de Almeida Faria, Cooperativa Piedense 1966/7"
Óscar Lopes sabia que não é tempo perdido passar uma noite entre trabalhadores para quem a literatura depois de um dia de árduo trabalho não deve ser coisa fácil, que elucidar é tarefa difícil mas necessária. E porque eram trabalhadores os que ali se deslocaram, o facto de ali estarem era razão de sobra para se respeitar esse esforço e a vontade de querer ir mais além.
E ciente do manancial de verdade que existe em nós, falou-nos das palavras, que devíamos conhece-las, que as palavras são armas, com palavras também se consegue muita coisa e nós redobrámos o nosso esforço e interesse em saber utilizá-las, e fizemos trincheiras de frases  e atirámos palavras as mais explosivas e passámo-las a outros a quem incitámos a ir mais além, e procurámos compreende-las e saber porque é que nos cortam a palavra logo no princípio do discurso e também porque é que somos por vezes obrigados a falar por monossílabos, por gestos, por gritos.

É também pela palavra que procuramos comunicar o que em nós existe de verdade.

Ao sairmos da sala, passámos em frente da vitrina onde tínhamos expostos todos os seus livros, alguns muito pequenos e simples certamente feitos a pensar em nós. E Óscar Lopes indicava-nos a sequência em que deveriam ser lidos: primeiro aquele, depois o outro e depois aqueloutro…

Mais tarde fomos falar com alguém que nos tinham indicado e de quem nos disseram “que sabia umas coisas de cinema”, Convidámo-lo a fazer um colóquio na Cooperativa Piedense e aceitou em ajudar-nos. Tinha chegadopouco tempo a Lisboa e quando lhe dissemos de onde vínhamos disse-nos que não sabia onde era a Cova da Piedade mas tinha tido conhecimento que o Óscar Lopes tinha estado e era também por isso que aceitava sem reservas o nosso convite.

AS PALAVRAS SÃO ARMAS E O EXEMPLO TAMBÉM, APRENDERMOS A SERVIR-NOS DELAS NO BOM SENTIDO, DE UM MODO CLARO E SIMPLES, SERÁ ENTRE OUTRAS UMA FORMA DE HOMENAGEAR ÓSCAR LOPES MAS SOBRETUDO SEGUIR AQUILO QUE DIZEMOS PARA SERMOS O QUE ESPERAM DE NÓS.

(publicado no "A Opinião" em 1973 com cortes da censura)

2 comentários:

  1. Gostei de ler esta pequena homenagem a Ôscar Lopes,Um historiador Cubano ,disse hâ pouco tempo,sobre Marti,que ·"La muerte no es verdad,cuando se ha cumplido bien la obra de la vida".Ê uma grande verdade.

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  2. De facto Óscar Lopes conseguiu "libertar-se da lei da morte".


    Um beijo.

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