Vasco Gonçalves
3/5/1922 – 11/6/2005
NOME DE VASCOA tua voz excessiva tornava-os mais pequenos.
Eles exigiam-te palavras untuosas,
as secas flores da jactância,
seu sono e alimento.
A verdade saía da tua boca iluminada
e eles tinham os ouvidos postos na mentira
no bocejo intrigante, na fala camuflada.
A tua voz recuada na origem não se perdia
nos afazeres verbais da litigância
não sabia a ganância.
Era o vento dos pobres sobre os metais do luxo.
Não te punhas a embalar o povo
como à criança que tarda a adormecer.
Atiravas-lhe à cara as palavras abruptas
um rosto incorruptível por marés de ferrugem
e gestos de morrer.
A tua fronte vasta tornava-os mais pequenos.
Nela despertava o susto das mães familiares,
o trigo parco dos homens nas tabernas
que te olhavam ingénuos vendo a seara crescer.
Ao colo dos pais os meninos sorriam
e os velhos viam coisas saltar dos teus cabelos.
Mas eras tu que soltavas a vida
amarrada a um poste como um burro de carga
a vida desavinda que os enraivecia
e que lhes dava um coice na pança saciada.
Aqui perde-se o tempo a trabalhar as lendas.
Mas o teu rosto não pode adormecer
sobre a toalha tépida que tece a tua ausência
onde derramo o choro e os outros vão beber.
Porque o teu pulso não suportava a febre
e erguia-se no ar como um pássaro agudo
que respirasse os ventos antes de partir.
Sobre o ladrar dos cães a tua voz alteia
como a papoula que o tempo não desfolha
a coluna de fogo que cai sobre a alcateia.
És o lagar imenso onde as uvas fermentam
sob os pés descalços e vivos da memória.
És a boca que a História utilizou por boca
o corredor onde o orvalho cresce entre a juventude
e os homens se passeiam com trigo na cintura.
Neste lugar de Inverno lembramo-nos de ti
como quem desperta.
Ninguém aqui precisa de recuar no tempo
nem das sereias que engolem o nevoeiro.
Ninguém aqui suporta que tu voltes
como um Desejado
com o seu cortejo de rotas feiticeiras
que gritem pelo teu nome junto aos becos do mar
com as suas luas gordas de saudade e preguiça.
Teu nome está de pé como um mastro
de cal rubra.
Estás aqui, entre nós, no meio do teu País.
Connosco vais contigo porque o povo assim o quis.
Armando
Silva Carvalho
Só acredito nos homens que têm vida digna de se lhe fazer uma poesia e, talvez não por acaso, também acredito nesta poesia!
ResponderEliminarUm abraço que pode não chegar a ser um verso mas será de certeza uma sílaba: "se"
Que extraordinário poema. Fez-me vir à memória aquela manhã empolgante dos princípios de Outubro de 1974 em que, sem demagogia mas com coragem e firmeza afirmou, em frente à Câmara Municipal para uma Avenida completamente cheia, que só havia um caminho a seguir, a REVOLUÇÃO. As suas palavras traziam-nos a confiança e a esperança. Por isso o calaram.
ResponderEliminarMas ele continua connosco percorrendo os caminhos da REVOLUÇÃO.
Um beijo.
ResponderEliminarLindo poema dedicado ao General-Companheiro-Vasco,que defendeu a construcao de um paîs mais livre,mais justo e mais fraterno.Por isso,foi ferozmente caluniado pelos inimigos do povo.A hist{oria o absolverâ,nao tenho a menor duvida.