quarta-feira, 4 de junho de 2025

O fim da vergonha. Um olhar

Os seres humanos são seres sociais e os seus comportamentos não acontecem de forma isolada. Pelo contrário, ocorrem normalmente em contextos em que outras pessoas os podem observar, julgar e relatar a quem não estava presente. O modo como estes observadores julgam as acções de uma pessoa, pode condicionar o que ela decide fazer. A simples previsão de que os outros podem desaprovar os nossos actos é, muitas vezes, suficiente para pensarmos duas vezes acerca deles.

Com base nesta ideia, este livro tentou centrar a discussão acerca dos motivos que explicam as comportamentos políticos das pessoas não em torno das suas ideias políticas, mas antes das normas sociais que definem o leque de condutas e ideias considerados aceitáveis ou desejáveis. Dado que o seu desrespeito pode ter repercussões sociais, estas regras informais podem fazer com que os indivíduos não expressem as ideias politicas que têm em privado. O exemplo que analisei nesta obra foi o das ideias e comportamentos associados à direita radical. Havendo pressão social contra a manifestação pública de apoio a tal ideologia, muitos dos seus simpatizantes coibem-se de o mostrar.

Partindo desta ideia, a teoria da normalização propõe que o avanço da direita radical em tantas democracias ocidentais deve ser entendido, pelo menos em parte, como um processo de mudança nas normas sociais vigentes. Muitas pessoas que já tinham ideias de direita radical, mas não estavam dispostas a expressá-las, estão a sentir-se cada vez mais à-vontade em agir com base nelas. Este aspecto é essencial porque permite explicar como é que a direita radical (e os comportamentos a ela associados) podem, por vezes, registar um crescimento tão rápido. Se estas acções são realizadas por pessoas que já tinham ideias de direita radical em privado, o seu número pode aumentar muito depressa, porque tal não implica que tenham realmente mudado o que pensam o que seria um processo muito mais lento. Tudo o que quer dizer é que estas pessoas se sentem, agora, mais confortáveis para manifestarem o que já anteriormente pensavam.

Excerto de O fim da vergonha,

1 comentário:

Olinda disse...

Um livro que dará, certamente, para reflectir. Pessoalmente, não gosto de chamar "direita radical" à ideologia fascista. Abraço.