Os seres
humanos são seres sociais e os seus comportamentos não acontecem de forma
isolada. Pelo contrário, ocorrem normalmente em contextos em que outras pessoas
os podem observar, julgar e relatar a quem não estava presente. O modo como
estes observadores julgam as acções de uma pessoa, pode condicionar o que ela
decide fazer. A simples previsão de que os outros podem desaprovar os nossos
actos é, muitas vezes, suficiente para pensarmos duas vezes acerca deles.
Com base nesta
ideia, este livro tentou centrar a discussão acerca dos motivos que explicam as
comportamentos políticos das pessoas não em torno das suas ideias políticas,
mas antes das normas sociais que definem o
leque de condutas e ideias considerados aceitáveis ou desejáveis. Dado que o
seu desrespeito pode ter repercussões sociais, estas regras informais podem
fazer com que os indivíduos não expressem as ideias politicas que têm em
privado. O exemplo que analisei nesta obra foi o das ideias e comportamentos
associados à direita radical. Havendo pressão social contra a manifestação pública
de apoio a tal ideologia, muitos dos seus simpatizantes coibem-se de o mostrar.
Partindo desta
ideia, a teoria da normalização propõe que o
avanço da direita radical em tantas democracias ocidentais deve ser entendido,
pelo menos em parte, como um processo de mudança nas normas sociais vigentes.
Muitas pessoas que já tinham ideias de direita radical, mas não estavam
dispostas a expressá-las, estão a sentir-se cada vez mais à-vontade em agir com
base nelas. Este aspecto é essencial porque permite explicar como é que a
direita radical (e os comportamentos a ela associados) podem, por vezes,
registar um crescimento tão rápido. Se estas acções são realizadas por pessoas
que já tinham ideias de direita radical em privado, o seu número pode aumentar
muito depressa, porque tal não implica que tenham realmente mudado o que pensam
o que seria um processo muito mais lento. Tudo o que quer dizer é que estas
pessoas se sentem, agora, mais confortáveis para manifestarem o que já
anteriormente pensavam.
Excerto de O fim da vergonha,
1 comentário:
Um livro que dará, certamente, para reflectir. Pessoalmente, não gosto de chamar "direita radical" à ideologia fascista. Abraço.
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