quarta-feira, 25 de novembro de 2020

TEMPOS DE LUTA por Manuel Begonha

TEMPOS DE LUTA por Manuel Begonha


Manuel Begonha Presidente da Assembleia Geral

ACR – Associação Conquistas da Revolução

 

A partir do início de Novembro de 1975, na Comissão Dinamizadora Central (CODICE) que coordenava as Campanhas de dinamização cultural, as notícias que chegavam eram alarmantes para a revolução.

Desde as ligações espúrias de parte da Igreja Católica no Norte do país, às intromissões que tínhamos de embaixadas e serviços secretos ocidentais sob as mais criativas formas, às acções criminosas e conjugadas do ELP, MDLP e rede bombista, às ligações militares com o grupo Maria da Fonte, as reuniões do embaixador Frank Carlucci com os mais altos responsáveis civis e militares contra-revolucionários, à alteração das estruturas de comando das Forças Armadas e muito mais que faz parte de outra narrativa.

Era claro que se preparava o que viria a ser o golpe do 25 de Novembro.

No que nos dizia respeito, éramos o único órgão em actividade da 5ª Divisão do EMGFA que já havia sido coerciva e brutalmente encerrada em Agosto. Isto devia-se a termos uma campanha ainda a decorrer na zona de Castro Daire.

Entretanto multiplicavam-se as acções conducentes a estrangular a CODICE , quer no que se refere à retirada de meios humanos quer materiais.

Já sob uma nova chefia de direita na Região Militar Norte, foi suspensa a Campanha Maio Nordeste que actuava no Distrito de Bragança.

Progressivamente, o desalento ia-se apodera do de alguns elementos civis e militares que poderia levar ao conformismo.

Mandei então colocar nas paredes do local onde trabalhávamos, o seguinte cartaz :

 

"O DIFÍCIL É CONTINUAR A LUTAR QUANDO O

DESISTIR É FÁCIL".

 

A data que vivemos e o momento perturbado que atravessamos levaram-me a recordar este apelo.

Hoje o tempo também é de cansaço e o desistir pode tornar-se fácil.

Mas acima de tudo, o tempo é de luta.

Estão conceitos fundamentais em causa. 

Não é tempo de desistir, nem de abdicar dos princípios que nos norteiam. 

Porque por vezes, não se pode renunciar sem traição.

Não se pode enveredar por uma espera passiva, numa indolente ausência de princípios e convicções. 

Não se pode desistir da dignidade como o ladrão ou o corrupto.

Nem desistir da vida como o suicida. 

Nestas ocasiões, dizia Vítor Hugo:

"a suprema angústia é a desaparição da certeza". 

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