quinta-feira, 13 de abril de 2017

O que não se mostra não existe

O que não se mostra não existe
Juan Ignacio Zubiarrain

“Vivemos na mentira do silêncio. As piores mentiras são as que negam a existência do que se quer que seja desconhecido. E isso é feito pelos que têm o monopólio da palavra. Combater esse monopólio é fundamental”. Emir Sader


“Não há discurso (análise científica, manifesto político, etc.) nem ação (manifestação, greve, etc.) que, para ter acesso ao debate público, não deva submeter-se a esta prova de seleção periodística, ou seja, a essa colossal censura que os jornalistas exercem, sem se darem conta, ao não reterem mais do que é capaz de os interessar de “captar a sua atenção” quer dizer, de fazer parte dos seus interesses, dos seus esquemas mentais, e condenar à insignificância ou à indiferença expressões simbólicas merecedoras de chegar a todos os cidadãos” de Pierre Bourdieu no livro “Sobre a Televisão”.
(…)
Os media generalistas têm evidentes laços visíveis e invisíveis com o poder, com o estado, com a banca, com os protetores, com os políticos corruptos e não corruptos, com empresas multinacionais, com capitais sórdidos, com capitais enredados de acionistas que nem sempre se sabe de onde vêm.

E tudo se passa numa suposta harmonia democrática, de liberdades ocidentais e cristãs, liberdades teatralizadas, liberdades amordaçadas.
Um oligopólio mediático de quatro amigos que dirigem todos os media com a anuência cúmplice de jornalistas de faz-de-conta, da banca e do estado. Estão aí todos. Encenando essa obra de ficção que se chama jornalismo livre e comprometido.

É dada prioridade ao anunciante e narcotiza-se a audiência, vomitam-se as notícias e serializam-se as entrevistas, em muitos casos mutiladas pela publicidade, condicionam-se as conferências de imprensa, as perguntas e ainda o teatro político, alimentando deste modo o aspeto franzino e enfermiço do ser humano. Vangloria-se a importância de personagens que desfilam pelos estúdios (como representantes) já não como jornalistas, mas quase porta-vozes de uma bancada de partido ou tendência partidária ou mesmo lobistas de meios de comunicação disfarçados de jornalistas. Envergonha ver como os responsáveis dos despedidos, dos desalojados, de uma economia capitalista desregrada que alimenta e gera a usura e a avareza, são os mesmos capitais que favorecem estes jornalistas de renome, nesses programas de êxito que chegam aos nossos televisores, rádios e meios gráficos.

Mudar tudo para que nada mude

A mudança nos media generalistas exige que lavem os seus trapos e a sua ética e se renovem porque as suas programações cheiram a ranço, ou então investiguem ou mudem o atual medíocre estado do que mitificamos como jornalismo responsável e que todos sabemos que aí está, mas nos media alternativos, universidades, em pessoas que exercem o jornalismo cidadão e necessitam um canal através do qual possam canalizar os seus trabalhos de investigação, suas denúncias. Mas por medo ao ridículo, numa sociedade de cobardes e acomodatícia, torna-se difícil reconhecê-los e dar-lhes lugar no statu quo mediático. Difícil, se não impossível, é pedir aos media comerciais que se retratem da sua participação na sórdida cortina informativa que nos mostraram nestes últimos anos e que seguem praticando. Disfarçam de premissas o que todo o mundo já sabe, entrevistam personagens quer sejam corruptas ou não e fazem-lhes sempre perguntas condescendentes sem abordar os temas de fundo. O jornalismo das generalistas é insano, manipulador e procura abranger audiências à custa da integridade ontológica, não pensam na informação, mas só na conta dos resultados. Auto enaltecem as suas notícias, quando a realidade é que, entre os compromissos comerciais e os favoritismos políticos, só procuram posicionar-se comodamente nalgum recanto do arco político para serem cobiçados e abrigados sob a esteira de qualquer financiamento.
Apostar no jornalismo cidadão oposto ao jornalismo subordinado ao capital é a saída natural e necessária para dar lugar aos invisíveis, aos ocultados, àqueles a quem não se dá voz e a uma informação sã e direta. Por isso, o projeto de televisões, rádios e meios comunitários e alternativos é a opção ao atual obscurantismo mediático.

Tradução de CS/LA

Sem comentários: