segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

ANOSOGNOSIA e ELEIÇÕES


“Os anosognósicos não possuem capacidade de verificação automática da realidade”

António Damásio

Ler António Damásio, melhor dizendo, comprar Damásio, o que é bem diferente, esteve na moda porque desconhecer Phineas Gage, seria a vergonha das vergonhas e a entrada sem regresso na maioria esmagadora dos iliteraciados.

Ao saber-se que 73 por cento da população portuguesa tem menos de seis anos de escolaridade, 17 por cento são analfabetos funcionais, 70 por cento confessam que nunca ou raramente lêem livros, compreende-se melhor o baixo nível de certos espectáculos nas campanhas eleitorais.

Alguns candidatos trocaram os seus programas, se é que os tinham, por pantominas de pacotilha, encenadas como se a débeis se dirigissem. A rábula representada sobre quem melhor se aproveitou dos bens do Estado para seu benefício, foi a peça mais vergonhosa que a ficção política jamais imaginou.

Estimulando a emoção, manipulando-a quanto baste, fizeram esquecer a realidade quantas vezes pesadelo.

Sem pudor, espezinharam sem escrúpulos a faculdade colectiva de compreender, de conhecer as relações das coisas e distinguir o verdadeiro do falso, o bem do mal,”.

Pensar pressupõe um esforço enquanto que a emoção surge natural ao mais pequeno estímulo.

As máquinas que vendem, com a mesma facilidade, detergentes e Presidentes não deixaram aos incautos espaço à reflexão sobre a realidade, que tanto envolve um analfabeto como um doutorado e as sondagens espartilharam e conduziram o raciocínio pelas veredas onde rola a inércia.

Face ao comportamento individual e colectivo dir-se-ia que a anosognosia é um mal latente na sociedade como qualquer vírus que aguarda, pacientemente, os momentos de debilidade física e/ou mental para se nos impor.

“Os anosognósicos, ensina-nos António Damásio, lembram-se de quem são, onde vivem e trabalham, conhecem os que lhes são chegados. Mas essa fonte de informação não pode ser usada para raciocinar correctamente sobre o actual estado pessoal e social”.

Confrontados com as suas próprias dificuldades, esmagados pela realidade social que os envolve, conhecedores dos seus agentes directos, indivíduos de todos os sectores sociais e níveis de conhecimento comportam-se, nomeadamente nos actos eleitorais, como se de anosognósicos se tratasse.

A anosognosia impede o indivíduo ou um povo de estar cônscio da sua própria doença. E não tendo consciência da enfermidade que o molesta, menos compreenderá o que a motiva entregando-se ao primeiro curandeiro que se apresente.

As eleições elegem candidatos e definem os eleitores.

A terapia é longa e dolorosa.


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1 comentário:

Sérgio Ribeiro disse...

Boa!
Da parte de alguns candidatos (menos 1!) também há asnognosia desonhecendo que são asnos e convencidos que são brilhantes ou brilhantinas...

Um grande abraço