sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Nós por cá, todos bem!



- Milhares de agricultores em luta em Aveiro.

- A Delphi em Ponte de Sôr vai despedir 430 trabalhadores.

- A liquidação total da construtora João Salvador e de mais 320 empregos em Tomar.

- Despedimento colectivo de 15 trabalhadores da Fleximol, empresa de suspensões para veículos, em Vila Chã de Ourique (Caertaxo).

- O jornal O Crime deve 15 meses de salários a vários colaboradores nas regiões de Coimbra e Braga.

- Lay-off rejeitada na Metalúrgica Oliva em São João da Madeira.

- Na Saint-Gobain Glass em Santa Iria da Azóia a pressão exercida sobre os trabalhadores pela administração provocou dois casos de AVC e um problema cardíaco.

- Com o subsídio de férias em atraso e impedidos de trabalhar desde 7 Outubro os trabalhadores da Império Pneus Indústria concentraram-se em Braga diante do Governo Civil.

- CP-Lisboa em greve no dia 5 de Novembro.

- Trabalhadores da OGMA concentraram-se, dia 23, em vigília, contra despedimentos e repressão.

- GDP e Lisboagás em greve no dia 2 de Novembro.

- A greve ao trabalho suplementar, está a ser cumprida na Euroresinas.

- A COMIL apelou a todos os militares, através de um comunicado, para que se mantenham unidos contra a “política de destruição da condição militar e de confrontação com as associações”.

- Os trabalhadores das auto-estradas vêem empregos e direitos ameaçados.

Os administradores da PT , além das mordomias e dos salários (Zeimal Bava recebe 51.433 € mensais), foram contemplados com um prémio de 834 mil euros.

517 euros é o vencimento dos funcionários de “instalação redes”.


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

REFER, REN e Cia

PORQUE É QUE OS POBRES NÃO "LAVAM" DINHEIRO?

Sentado, bandeira nacional e da U.E. dando o aval indispensável ao discurso, o senhor ministro, através da TV, banhou-nos de justiça: A partir de agora (porquê só agora?), acabava-se a lavagem de dinheiro. Tal e qual! Não eram renovados mais alvarás para tão higiénica actividade.

Alertou ainda, haver somas exorbitantes que estavam a ser lavadas em bancos, seitas, casinos e noutras lavandarias de igual respeitabilidade.

Deixou um oportuno alerta: Era de desconfiar quando alguém aparecia com muito dinheiro.

Tudo novidades! Não creio mesmo que alguma vez se tivesse ousado pensar que não era lícito o dinheiro quando surge às golfadas, ainda manchado de sangue.

Tal notícia levou a que no bairro, para não levantar suspeitas, ninguém ousasse pagar com notas de cinco euros, batatas compravam aos meios quilos e a manteiga aos pacotinhos de 125g. Os vizinhos vigiavam-se desconfiados. A dona Gertrudes nunca mais vestiu o casaco de caraculo (100% polyester), e o Mário da mercearia nem estreou o chinó.

Para chatices, diziam, bastava as que tinham, não viesse a bófia pedir-lhes contas e saber se tinham ou não o dinheiro para lavar.

Uma outra personagem, o senhor Júlio, ainda não se refizera do choque. "Lavar" dinheiro!?... Com o prato da sopa a meio caminho da notícia, perdera o apetite. Lavar dinheiro!...

Ele e a sua Joaquina que não haviam feito outra coisa em toda a sua vida: Lavar. Ele lavou barcos, lavou ruas, lavou carros, lavou tudo. Tudo o que encontrou sujo lavou, desengordurou, poliu. E a sua companheira, fez barrela, branqueou, esfregou casas, escadas, tudo. Tudo o que estava sujo, lavou. E o que é que têm hoje? Uma reforma suja, para não lhe chamar nojenta.

Mas essa de lavar dinheiro até podia servir de biscate, pensava o senhor Júlio que abandonou a sopa e foi até ao banco do jardim procurar alguém que o elucidasse sobre tão bizarra notícia.

E ia cogitando: “Isto deve estar muito mau! Os ricos a lavar... Eles que por onde passam só fazem imundice.”

E continuava sonhador: “O ministro desconfia dos bancos e das seitas é natural, ninguém sabe como conseguiram tanto dinheiro em tão pouco tempo; mas o Júlio!... O Júlio e a Joaquina todos conhecem cá no bairro. Foram sempre pessoas sérias. O senhor ministro pode confiar mais num dedo do Júlio do que em todos os banqueiros. Todos.”

E já idealizava uma lavandaria moderna, subsidiada pela U.E. máquinas de lavar, secar, passar... Um brinquinho!


Pobre senhor Júlio, de consciência asseada, que só soube amealhar miséria durante toda a sua vida. Não! Ele nunca conseguirá compreender, na sua bela simplicidade, que a sujidade não está no dinheiro, mas nas mãos de quem dele se apoderou.

E que esse dinheiro quando muda de bolso não troca de fato, ou se muda de farpela não altera o seu objectivo: Continuar do mesmo modo a espalhar o terror e a sordidez na bulimia sem limites do mais e mais, despedindo, fechando fábricas e entrando no sub mundo da especulação.

Tampouco se apercebe que os donos dos bancos são os banqueiros. os concessionários dos casinos, os grandes magnates, banqueiros também alguns deles, bondosas criaturas que acolhem no seu seio, digo, sua teta, todos os que estejam à venda, melhor ainda se estão em saldo, projectando-os na vida política como seus servidores.

E que os senhores do dinheiro possuidores dessas respeitáveis instituições de caridade, são os “jet-set” que se pavoneiam pelas colunas sociais de mistura com ministros, proprietários sinistros e outros benquistos do poder, num mundo que o senhor Júlio nem imagina que exista.

Milhões e milhões de contos, lavados ou por lavar, continuam a entrar em circulação como de trocos se tratasse, sem que ninguém dê por eles. Ninguém?...

Não será nas grandes e galopantes fortunas que os vamos encontrar.

Claro que não!


terça-feira, 27 de outubro de 2009

Guerra Santa


Os guerreiros

Os media tocaram a reunir e de Bíblia em punho os defensores do Santo Sepulcro saíram a terreiro.


De armaduras a rigor; elmos e escudos de marca, lanças vindas das mais ilustres armarias do Vaticano e muita, muita fé, encontram-se em plena refrega tentando resgatar Caim.

Para vos atiçar os instintos que têm provado ser o que de melhor tem a espécie que denominamos por "humana"
sugiro-vos este livrinho para lerem enquanto tomam nova alento para recomeçar o combate


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

INDEX LIBRORVM - PROHIBITORVM


Poema para Galileu

Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileu! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios).


Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria...
Eu sei... Eu sei...
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileu Galilei!

Olha. Sabes? Lá na Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.


Eu queria agradecer-te, Galileu,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate, Galileu!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.

Pois não é evidente, Galileu?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.


Estava agora a lembrar-me, Galileu,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um guiso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.

Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando um perigo
para a Humanidade
e para a civilização.


Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscava os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas - parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.

E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.


E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma

Ai, Galileu!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andava a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.


Tu é que sabias, Galileu Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.

Por isso, estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.

António Gedeão


domingo, 25 de outubro de 2009

Pão Ázimo - Miguel Torga

Pedir!... Pedir o meu pão!
Uma boca não pede o que lhe é dado!

(Foto de António Flor)
Pão Ázimo

--- SimPerdãoSimMas não posso:
Murmurou o Padre Nosso
E tenho medo e vergonha
SimPerdão, PadrePerdão
É pecado

Pedir!... Pedir o meu pão!
Uma boca não pede o que lhe é dado!

Sim!... Prometo e comprometo
A minha
Mas, ó Padre, quem é…?!
Ah! NãoNão, PadrePerdão

--- E vem a morte
--- Pois vem…
--- E o inferno
--- Também
--- Vai pedir perdão a tua Mãe
E a teu Pai
Vai…

--- Ninguém me perdoou, Padre, ninguém!
Nem meu Pai, nem minha Mãe!
Dizem no mesmo tom
Que nem sou mau nem sou bom.
Não me aceitam disforme,
Mas conforme

--- Pecador, faz penitência!...
--- fiz sangue nos joelhos
--- Faz penitência!
--- tenho os olhos vermelhos,
dei murros nos ouvidos,
matei os sentidos
--- Faz penitência!
--- Perdão, Padre, Perdão,
Mas não,
fiz tudo o que podia…
--- Tem paciência,
Faz penitência
Mais um dia
Miguel Torga

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Um texto pornô

Vasco Pulido Valente
sempre atento


Sempre que alguém, a quem por mérito foi dada voz, manifeste opinião contrária aos dogmas da igreja, lançam-lhe de imediato os seus guardiões, prontos a eliminar o sacrílego.

Ao Vasco Pulido Valente lhe faltam os fósforos. Tem o ódio, os apoios e a pira, o hábito sacerdotal não será difícil de encontrar.

A baixeza do que VPV vomitou hoje no “Públicosobre Saramago, por tão rasteira, não permite qualquer abordagem crítica; limito-me a transcrever alguns parágrafos.

«São ideias de trolha ou de tipógrafo semianalfabeto, zangado com os padres por razões de política e de inveja. (…) Claro que Saramago tem 80 e tal anos, coisa que não costuma acompanhar uma cabeça clara, e que ainda por cima, não estudou o que devia estudar (…) Claro que Saramago ganhou o Prémio Nobel, como várioscamaradasque não valiam nada, e vendeu milhões de livros, como muita gente acéfala e feliz que não sabia, ou sabe, distinguir a mão esquerda da mão direita. (…) Não assiste a Saramago a mais remota autoridade para dar a sua opinião sobre a Bíblia ou sobre qualquer outro assunto (…) Saramago está mesmo entre as pessoas que nenhum indivíduo inteligente em princípio ouve.»

Além do ataque pessoal de uma vileza pouco comum, o VPV não aborda qualquer das questões que têm gerado polémica.

Que dirão os que se encontram no mesmo chafurdo do VPV*


* VPV faz lembrar marca de whisky mas não é.