(Oswaldo Guayasamín)
PROCURAR A BELEZA?
- ISSO NÃO É NOTÍCIA...
Um assunto tão
importante como a Beleza nunca é motivo de grandes títulos a não ser que se
trate de exibir mulheres ou fazer publicidade ao conceito de “arte” sequestrado
por alguns museus ou galerias mercantilizadas. Contra isso, e desde as suas
entranhas, deve desenvolver-se uma produção simbólica, uma revolta dos signos,
um avanço semiótico, artístico, comunicacional, revolucionário definitivo,
compreensível e compreensivo.
É simplesmente um erro que um “reformismo da beleza” sirva para emblematizar a Revolução estética que luta por nascer, porque também os seus melhores triunfos – sempre perfectíveis – estão armadilhados. Enquanto o imperialismo gera morte, destruição, miséria e barbárie nos países coloniais e semi-coloniais; enquanto pinta com desolação os imaginários actuais, enquanto faz o inimaginável para sequestrar e fulminar o futuro... enquanto padecemos o grande embuste das máfias mercantis transnacionais. A produção de um movimento estético genuíno, desde a base, não será alcançada enquanto nos limitarmos a esgaravatar nos repertórios “folclóricos” para reviver aquilo de que “o povo gosta” e disfarçar de “popular” aquilo que uma elite decide. As condições e os tempos não o toleram. Não se amadurece uma estética revolucionária só com a invenção de fraseologias modernaças “lindas” em audiovisuais, estações radiofónicas, realizações revisteiras ou cibernéticas...
Não nascerá a estética da Revolução plagiando-se a velha estética das oligarquias, a sua paixão duvidosa pelos “clássicos da arte”. Nem as suas adorações demagógicas pela “ilustração”. O surgimento de um projecto estético revolucionário não brotará da imitação dos costumismos, dos conservadorismos, das burocracias nem das seitas, mas das suas contradições sociais de fundo. Não será obra dos funcionários nem dos empresários. É impossível revitalizar o mundo em que vivemos, é inútil aferrar-se a ele, é preciso atrever-se a mudá-lo criticamente desde os seus melhores sucessos e a partir da base. Se há um movimento estético nascente nas próprias entranhas do monstro, isso acontece porque há processo revolucionário e a ele responde. Não há melhor motor para uma produção estética radical (desde as raízes) do que a própria revolução que germina a partir de dentro. Mas trata-se de uma produção em transição que reflete a sua dialética e as suas urgências.
A beleza da
Revolução não nasce dos “mass media”, não sai dos discursos, não nasce dos
congressos nem dos simpósios. Nasce das contradições que, aos milhares, vão
estalando desde a própria alma do sistema. Mas o seu nascimento é uma gestação
e parto difícil e é necessária uma “maiêutica” que ponha atentos e obedientes
quantos os actores que sejam capazes de apoiar, proteger e construir a
transição, o parto. O nascimento da Beleza nova não implica que ela viva,
haverá que fazer milhares de coisas para que tal beleza, “convulsiva” e
transformadora, cresça, engorde e brilhe plena para todos. Maiêutica luta
adentro, alma adentro, cérebro adentro com camponeses, estudantes e operários.
Maiêutica com todos e em todos.
Essa estética da Revolução humanista exige
meios de comunicação que dêem visibilidade à Beleza Revolucionária, que todos a
vejam e comparem o seu contributo, que todos a olhem activamente, os seus meios
e os seus modos, que se tornem visíveis as ferramentas e as relações sociais
para a produzir e que as lutas as estendam e aperfeiçoem, que sejam – esses
meios – a revolução Bonita de Carne e osso, que a não dêem por “acabada”, que
não a dêem por institucionalizada, que não a considerem “definitiva”. Que a
façam Revolução Permanente. Radiodifusoras, televisoras, jornais, páginas
web... revolucionários e mesmo revolucionando-se, claro, igualmente na
estética. A chave é insistir, insistir, avaliar e voltar a provar com um
programa consensual e incisivo. A própria Beleza.
A Beleza nova transformará, à sua escala,
o estado de coisas que a humanidade herdou. Tansformará tudo com uma luta
semiótica contra os conceitos ou significados que a refrearam. Tomará dele o
melhor e avançará Permanentemente. Ou será nada. Há que
capacitar-se para dominar as técnicas e capacitar-se para nos livrar dos
esquemas ideológicos mais pertinazes, clichés que repetimos inconscientemente,
ou quase. Educar-nos para des-educar-nos e re-educar-nos. Educar-nos para
superar o que nos ensinaram, educar-nos para sermos sensíveis às nossas
sensibilidades novas. Educar-nos para uma estética que não conhecemos, que nos
impõe novos desafios. Ora educar-nos para superarmos o que fomos e sermos desta
vez melhores... seria uma coisa muito bela. Ou não?
Uma transformação na Beleza a partir da
própria medula de todas as contradições sociais não é questão que só aos
artistas, galerias, políticas culturais ou sabichões do “bom gosto” diga respeito. Poetas,
pintores, músicos, teatrólogos, produtores de vídeos, intelectuais,
bailarinos... deixaram de ser donos
ou contabilistas da Beleza. A estética revolucionária enquanto
produção deve ser tarefa de todos os sectores que se disponham a
interrogarem-se inteligentemente, que estejam dispostos a auto-transformarem-se
crítica e dialecticamente. Uma revolução estética que redefina o belo por
revolucionário, não por outra qualquer razão. Isso não nega a “beleza” que
houve antes, só que a torna diferente e tão de todos que tendemos a
eclipsar-nos legitimamente subjugados pelo peso da beleza das contas claras,
das escolas ganhas, dos doentes assistidos e curados, da fome desterrada, da
ternura disciplinada, dos acordos, alianças e amores solidários contra toda a
alienação dos seres humanos com o seu trabalho, em todos os lugares.
É a beleza dos novos consensos, nas
eleições ganhas pelos povos, nos debates abertos e leais, nas tarefas assumidas
e em tudo o que está pendente, incompleto. É também o suor no trabalho criador,
dos médicos e dos voluntários, é todos quantos arriscam a pele para defender o
coração. A beleza nova de uma Estética militante, e magnética, para a reclassificação
programada e espontânea das coisas segundo uma ordem mais profunda e mais
precisa e impossível de dilucidar mediante a razão da miséria. Beleza como uma
categoria social que exprime um certo grau de desenvolvimento do sentido do
gosto, da harmonia e do papel da estética no conjunto das relações humanas.
Contra a esclerose mercantilista que se empenha em fabricar estereótipos e
palavreado banal para excluir do seu mundo “formoso” todos aqueles que não
entram nas modas e no merchandising estandardizado
da “beleza” de mercado. A “beleza” nova cresce e derrota o horror conceptual e
fáctico lavrado por ideologias hegemónicas frequentemente horríveis, pela sua
aparência e suas origens, para nos dar o prazer enorme de libertar todos os
caudais expressivos da humanidade hoje aprisionados por estereótipos de classe.
“Que a ética seja a estética do futuro.”
(1)
Director do Instituto de Cultura e Comunicação UNLa
4 comentários:
Cada mulher que nasce é mais uma estrela que brilha na terra e ilumina o caminho da vida. Embora sendo homem nada me impede de homenagear poeticamente esse ser humano ímpar.
Gostei de ler o seu texto
.
* (Poetizando e Encantando) MULHER ... O Equilíbrio da Vida *
.
Votos de um dia feliz
O problema é ,nestes tempos de contracultura com o objectivo de formatar o indíviduo,como dar a volta na procura do conceito do belo que Buen Abade fala neste interessante texto?Abraço
Muito bom, Cid! o teu blogue é uma fonte de boa informação
Um abraço de bom fim de semana
Boa partilha
Abraço
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