segunda-feira, 19 de abril de 2021

FUNÇÃO SOCIAL DA IMPRENSA Por Fernando Buen Abad D

FUNÇÃO SOCIAL DA IMPRENSA

Por Fernando Buen Abad D

Não é o primeiro dever do que procura a verdade dirigir-se diretamente à verdade, sem olhar à esquerda e à direita?

  K. Marx

 Nestas horas a Imprensa, com todos os seus meios e modos, deve fazer com que as gargantas, emancipadas e emancipadoras, cantem tempestades de insurreição bem pensada e organizada. Imprensa mais ética do que estética; científica, com tecnologia avançada, veloz e ubíqua, ampla e irredutível. Uma forma moral da luta... uma álgebra superior da organização, profunda e concreta. Quem abraçar o trabalho da Imprensa como arma da verdade, em luta, deixará que se beba Revolução e nos impulsione a sair dos marcos desesperantes da vida miserável; a debilidade e a impotência; a desinformação e as falácias jornalísticas burguesas. Da ditadura ideológica com que o capitalismo afoga os povos.

        A Informação é um Direito inalienável. Há pelo menos três tarefas que se impõem na conjuntura atual: 1. Desmascarar farsas e farsantes. 2. Elevar o nível da organização revolucionária. 3. Destacar as lutas emancipadoras. O arsenal mediático da burguesia, subordinado ao projeto capitalista, ataca furiosamente tudo aquilo que implique avanço organizativo, clareza política e moral de luta. Compete-nos estar preparados.

        Todos os manuais de ação direta, e desde baixo, devem ser atualizados sob a pressão da dinâmica objetiva que a luta de classes impõe. A História da humanidade conta com mais pessoas empobrecidas (mais do que nunca), mais enriquecimento açambarcado por menos mãos. Deve ser revista toda a sintaxe rotineira, as frases feitas e o facilitismo narrativo. Deve pôr-se em crise o nosso modo geral de contar a História para lhe exigir que se renove e esteja à altura da contenda e ao lado dos povos com a parcialidade ética da justiça social concreta. Nada disto implica apologia da petulância expressiva nem do obscurantismo léxico. Muito pelo contrário. A claridade é a ética. Que a ética seja a estética da informação.

Há que revolucionar toda a estratégia bibliográfica, as referências teóricas e os santorais académicos. Não alimentar contendas hereditárias. Não tolerar fanatismos eruditos. Aproveitar o melhor do caudal teórico com as ferramentas metabólicas do pensamento crítico forjado nas condições concretas da luta em movimento. Trata-se de uma guerra semiótica, para dentro e para fora da Imprensa, que não é nova, mas que se sofisticou com a concentração de monopólios de meios e a proliferação de laboratórios de guerra psicológica a partir dos quais se desenvolve, parágrafo a parágrafo, a produção do sentido.

        Eles disparam falácias, calúnias e linchamentos contra os líderes e as lutas emancipadoras. Escolhem palavras que blindam com algoritmos de horários, de idades, de regiões, de género e de poder aquisitivo. Eles chamam “conflito” à repressão; chamam “desigualdade social”! à exploração inumana da classe dominante sobre uma imensa classe oprimida. Eles pintam o seu mundo de injustiças como se fosse o paraíso das oportunidades e negam, até à morte, a igualdade de condições. Investem milhões a consolidar a realidade patética onde os pobres (enfermos de individualismo e consumismo) odeiam os pobres enquanto desorganizados defendem os poderosos. E creem que isso é democracia.

A informação produz-se no seio da vida social. Não é independente dela. Não é propriedade da Imprensa. A Imprensa é intermediária, salvo quando relata as suas próprias lutas internas e identifica o seu lugar na luta de classes. Em todas as suas dimensões, a produção de informação tem um carácter intermediário entre os factos, a sua complexidade e multifactoliaridade. Entre o conhecimento e a enunciação; entre a realidade e as subjetividades. Em cada uma de tais dimensões é imprescindível a crítica e a autocrítica. É imprescindível explicar desde que lugar das contradições sociais se informa. Está sempre em jogo o controlo e a direção que estão comprometidos, indissoluvelmente, com os interesses da comunidade e da vida boa para todos.

É um compêndio disto o vínculo e a obra de John Reed com Lenine. Reed diz: “Ao relatar a história daqueles grandes dias esforcei-me para observar os acontecimentos com olhos de analista consciente, interessado em fazer constar a realidade”.

        No mercado das notícias a palavra publicada vende-se como “palavra sagrada”. É longa a luta encetada para devolver o seu lugar ao escrutínio social perante a Imprensa e repor o caráter crítico de todos os atores nas relações de produção informativa que não devem excluir, nem reduzir, o papel do interlocutor como protagonista chave do processo informativo, como é norma excludente da imprensa burguesa. É imprescindível acabar com o império intermediário da imprensa como criadora da realidade, demiurgo bufarinheiro, segundo os interesses do mercado e do mercenarismo “jornalístico”. Há que o repetir sempre.

Isso implica exigências programáticas, organizativas e disciplinares cuja base é a luta de classes e cuja práxis deve desenvolver-se ao lado das lutas emancipadoras da classe trabalhadora. Já é tempo de um qualquer “saltimbanco informativo”, capaz de publicar as suas canalhices à sombra de quaisquer métodos e meios, deixar de poder chamar-se “jornalista” à custa da degeneração da verdade que é de todos. De os deixar a falar sozinhos. Isso implica a criação de escolas novas, estilos novos, sintaxe, comunicação e consciência revolucionários. Isso implica impulsionar gerações novas de trabalhadores do jornalismo e do direito à informação, emancipados da lógica do mercado informativo. Emancipados para emancipar.

Essa Imprensa, a revolucionária, deve aparecer como uma linguagem nova de guerra poética no seu mais profundo sentido renovador, que não poderá entender-se mais do que enterrando as suas raízes no húmus revolucionário dos operários e dos camponeses para nascer como uma planta sempre nova. Então povoaremos a sintaxe com uma militância nova que se prolongará no sangue que cultivaremos no sulco de um arado de luz e lutas dignificantes e dignificadas. No exame da história não só há que saber, mas há que saber de uma certa maneira combativa. Estamos em pé de guerra contra as máquinas de guerra ideológica disfarçadas de “Imprensa Livre”. Devemos operar com um duplo sentido tático e estratégico que, enquanto desarma territórios minados com explosivos ideológicos, tome o céu de assalto convertido em Comunicação revolucionária. Com o entusiasmo intacto.

É revolucionária a verdade, a seriedade da informação, a certeza nos documentos, os arquivos e as estatísticas. São revolucionários os dados duros do lugar, a data e os responsáveis de emitir ou reproduzir toda a informação. Assumir as responsabilidades e os direitos da informação. É revolucionário consolidar e fazer explícito o marco teórico desde o lugar onde se produz e reproduz a informação. Respeitar o vigor das lutas, não as contaminar com os nossos vícios. Democratizar a documentação atualizada de fontes científicas e consensuais. Impulsionar a formação jornalística permanente, escolas de crítica e autocrítica. Combater as contrarrevoluções nas cabeças e nos corações.

Será nova a imprensa que faça o que não se faz até ao presente. Sem esquecer os ganhos alcançados. Será novo vincular os factos concretos às lutas do movimento mundial da classe trabalhadora, produzir ensino profundo e solidário baseado nos factos, do simples ao complexo, do particular ao geral e vice-versa. Não se limitar aos factos, a secas, e sim reproduzir o pensar e o sentir das lutas, as suas deliberações e decisões na construção da sua direção transformadora. Interpelar e combater a ideologia opressora que se sedimenta nas transformações da “informação” burguesa.

Consolidemos uma forma humanista da informação por meio de uma Imprensa, desta vez ligada às lutas dos operários, as greves operárias, e todas as formas de combate emancipador no seio do proletariado contra todas as manifestações da opressão. Nossa Imprensa deve ser correia de transmissão auxiliar da organização revolucionária, não o seu substituto, ajudar a desenvolver a organização emancipadora, despertar e cultivar a consciência, elevar permanentemente o seu nível, não se contentar com o “descontentamento” nada de lamentos como métodos de luta e pôr as energias a fecundar o movimento revolucionário dos povos.

Insistamos. Imprensa baseada nos factos da luta, nas opiniões enriquecedoras e nas conclusões produzidas em função dos objetivos finais da emancipação humana expressadas nas políticas dos povos em luta, ombro a ombro. Expressar às massas em luta o nível mais alto da consciência política; pôr em relevo os sectores mais combativos e propagar as suas linhas programáticas. Refletir fielmente a luta de classes, a disputa material e a disputa ideológica onde transpareçam as tendências ideológicas e políticas com carácter realmente de classe.

        Consolidar desde o coração das lutas uma força, eis uma arma teórico-prática para as batalhas de hoje e do futuro. Urge-nos uma revolução semiótica, de ação jornalística direta, por todos os meios, para produzir os anticorpos culturais indispensáveis que exterminem, em prazo curtos, as influências tóxicas dos meios e dos modos burgueses para manipular consciências. Não há tempo a perder.

 Fernando Buen Abad Domínguez

(Tradução de Armando Pereira da Silva)


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