(publicado no Facebook)
A UE PROCLAMA-SE INCAPAZ DE DIPLOMACIA
A União Europeia acordou mais uma vez com a
clarividência típica de quem corre em direção ao precipício e, para ganhar
velocidade, decide fechar os olhos. Incapaz de usar os ativos russos que tanto
apregoa como moralmente confiscáveis, mas juridicamente intocáveis, a UE
encontrou a solução que melhor domina: endividar-se. Não para investir, não
para proteger os seus cidadãos, mas para garantir que a guerra continue - mesmo
quando já ninguém sabe exatamente com que objetivo final.
É a consagração da fuga para a frente como
política oficial. Se a estrada acaba, acelera-se. Se o mapa falhou, rasga-se o
mapa. Se a diplomacia exige trabalho, paciência e risco político, então
escolhe-se a alternativa mais confortável: emitir dívida, assinar comunicados
solenes e declarar vitória moral enquanto a realidade se afasta.
A Europa, outrora apresentada como projeto de
paz, assume agora com notável honestidade involuntária que não sabe - ou não
quer - negociar. A diplomacia foi substituída por folhas de Excel, onde se
empilham números que não matam ninguém diretamente, mas empobrecem
silenciosamente milhões. É uma guerra financiada a crédito, paga em prestações
pelos cidadãos que nunca foram consultados, mas que verão os seus serviços
públicos emagrecerem com rigor germânico.
O raciocínio é de uma elegância quase poética:
contrai-se dívida hoje, para ser paga amanhã, com reparações de guerra que só
existirão se a Rússia perder uma guerra que, no terreno, não está a perder. É o
equivalente geopolítico de comprar uma casa contando com o prémio de um
Euromilhões que ainda não saiu - e chamá-lo prudência orçamental.
Entretanto, os europeus são convidados a
compreender. A compreender a degradação dos serviços de saúde. A compreender a
erosão do poder de compra. A compreender que não há dinheiro para salários,
habitação ou transição ecológica, mas há sempre margem para mais uma tranche de
“apoio essencial”. A guerra tornou-se o único investimento que nunca exige
retorno, apenas fé.
Esta decisão não é coragem; é incapacidade
estratégica disfarçada de virtude. Não há plano de paz, não há arquitetura de
segurança futura, não há sequer uma definição clara de vitória. Há apenas a
insistência quase infantil de que parar seria admitir erro - e isso, em
Bruxelas, é mais impensável do que empobrecer uma geração inteira.
A UE não está a financiar a vitória da Ucrânia;
está a financiar a sua própria recusa em aceitar os limites do poder. Cada novo
empréstimo é um passo adicional nessa marcha sonâmbula, onde se confunde
persistência com lucidez e moral com teimosia. A guerra, mesmo perdida,
tornou-se estrutural - porque parar implicaria pensar.
No fim, talvez seja esta a verdadeira proclamação
europeia: não sabemos fazer paz, mas sabemos perfeitamente quem vai pagar a
guerra. E enquanto os cidadãos apertam o cinto, Bruxelas aperta os juros,
convencida de que a História perdoa sempre quem escreve cheques - mesmo quando
estes regressam sem cobertura.
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