domingo, 26 de julho de 2009

A superioridade MORAL dos comunistas

«Na prisão, especialmente nós, os comunistas, éramos “obrigados”, num pacto não escrito, a manter uma moral visível e exemplar e era uma emulação perene entre nós

Marcos Ana

In ‘Digam-me como é uma árvore

A leitura deste comovente livro de Marcos Ana convidou-me a publicar “A superioridade moral dos comunistas” de Álvaro Cunhal.

Boas férias para quem ainda as tem.

A SUPERIORIDADE MORAL DOS COMUNISTAS

Álvaro Cunhal

Os comunistas não se distinguem apenas pelos seus elevados objectivos e pela sua acção revolucionária. Distinguem-se também pelos seus elevados princípios morais.

A moral dos comunistas tem a sua base objectiva nas condições de trabalho e de vida do proletariado, no processo da sua luta contra o capital e, desde a vitória da revolução socialista, na nova sociedade libertada da exploração. Tem, como principal factor subjectivo, o papel educativo desempenhado pela vanguarda revolucionária guiada pelo marxismo-leninismo.

A moral dos comunistas é contrária e superior à moral burguesa. Constitui um elemento integrante da força revolucionária do proletariado e da sua vanguarda. Age como «força material» na transformação do mundo. E, voltada para o futuro, indica os traços essenciais da transformação do próprio homem.

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Pela sua origem, a sua natureza, a sua formação, o seu desenvolvimento, a moral dos comunistas é uma moral de classe – é a moral do proletariado revolucionário da época cujo conteúdo essencial é a passagem do capitalismo ao socialismo.

Marx, Engels e Lenine mostraram o vazio das concepções acerca de uma moral eterna, absoluta, válida para todas as classes, todas as épocas e todas as condições e que, por isso mesmo, «não é aplicável nunca e em parte alguma». Nas sociedades divididas em classes antagónicas, a moral foi sempre uma moral de classe, basilarmente assente nas condições da vida social. «Os homens (sublinhou Engels), consciente ou inconscientemente, derivam as suas ideias éticas, em última análise, das relações práticas nas quais é baseada a sua posição de classe – das relações económicas nas quais realizam a produção e a troca».

A moral, como as outras superstruturas, tem um desenvolvimento próprio, contínuo e relativamente independente. Na moral proletária integram-se as aquisições progressistas do património ético deixado pelas classes ascendentes e pelos homens mais esclarecidos que, ao longo dos séculos, sonharam e lutaram por um mundo de justiça social e de aperfeiçoamento humano. O que nela é essencial não são porém os elementos herdados do passado, mas os elementos novos resultantes da natureza, objectivos e missão histórica do proletariado. Ao antagonismo irreconciliável de interesses entre o proletariado e a burguesia corresponde um antagonismo moral, que evidencia o apodrecimento e agonia do capitalismo e a certeza da vitória universal da causa proletária.

Da exploração da classe operária, das massas trabalhadoras, dos povos subjugados – exploração imposta pela violência do aparelho do Estado, pela repressão, terror e a guerra – resultam os sentimentos e o comportamento moral da burguesia: individualismo e egoísmo ferozes, indiferença pela sorte dos seres humanos, rapacidade, venalidade, completa falta de escrúpulos, redução a simples mercadorias dos valores culturais e espirituais. Com o aprofundamento da crise geral do capitalismo, a burguesia tende a abandonar quaisquer regras éticas e a tornar-se cada vez mais amoral. Sem preocupações morais, legitima ela própria tudo quanto lhe permite manter e intensificar a exploração dos trabalhadores e dos povos.

No que respeita ao proletariado, as condições básicas que lhe conferem a sua força revolucionária, determinam também os traços essenciais da sua ética.

A sua situação como classe mais explorada, o seu papel na grande produção, a força do número, o facto de que os seus interesses e fins coincidem com as leis objectivas de desenvolvimento social, o facto de que, na revolução, os proletários (nas palavras do Manifesto) nada têm a perder senão as suas cadeias e têm um mundo a ganhar – dão ao proletariado a combatividade, a determinação, o espírito de organização, a coesão, a solidariedade, o hábito da ajuda recíproca, a disciplina, a abnegação, a capacidade de sacrifício, a confiança nas próprias forças e no próprio futuro, que o tornam «a única classe verdadeiramente revolucionária», «a única capaz de ser revolucionária até ao fim».

Os princípios morais do proletariado não «dissolvem o indivíduo nas massas», como pretendem alguns, antes elevam a consciência e a personalidade individuais, transmitindo-lhes a força moral da classe. A partir das próprias raízes sociais, a formação moral do proletariado aparece como a valorização e o melhoramento do homem.

O papel do proletariado como «guia de todas as massas laboriosas e exploradas» é de particular importância para a educação e reforço moral tanto do próprio proletariado como das massas. O proletariado reage e luta não apenas contra a exploração a que é sujeito, mas «contra todos os abusos, todas as manifestações de arbitrariedade, de opressão e de violência quaisquer que sejam as classes que são vítimas. «O proletariado não é uma classe realmente revolucionária (insistiu Lenine) senão quando se afirma e comporta como vanguarda de todos os trabalhadores e de todos os explorados, como o seu guia na luta pelo derrubamento dos exploradores».

O papel de guia e defensor de todos os explorados reforça nas fileiras do proletariado e da sua vanguarda os sentimentos morais típicos de generosidade, de solidariedade, de abnegação total. Nas classes e camadas não proletárias (particularmente no campesinato e pequena burguesia urbana), a influência proletária intervém como corrector dos efeitos na consciência das raízes de classe.

Incompreensões políticas acerca do papel do proletariado têm inevitáveis reflexos na esfera moral. Se não se atribui o papel dirigente ao proletariado, abrem-se directa e largamente as portas à influência moral da burguesia. Se se cai no sectarismo e se procura inocular no proletariado a indiferença pelos interesses de outras classes e camadas exploradas e oprimidas, corrompem-se princípios morais basilares.

O desenvolvimento da moral proletária e comunista caminha a par e passo com o avanço da luta de classes, com o progresso da consciência política do proletariado, com a definição dos seus objectivos, com o aperfeiçoamento da sua organização e com os êxitos e vitórias da sua luta emancipadora. Podem considerar-se quatro fases nesse desenvolvimento.

A primeira é anterior à criação do socialismo científico. Então a formação da moral proletária, como Marx e Engels sublinharam, era espontânea e instintiva. Decorria directamente das condições de vida e de trabalho e da oposição à moral burguesa. A moral do proletariado, dominado pela burguesia exploradora, é então essencialmente uma expressão da «sua indignação contra essa dominação» e dos «interesses futuros dos oprimidos».

A segunda fase começa com a fundação do socialismo científico, com a definição dos objectivos de luta e da missão histórica do proletariado. O marxismo não cria a moral da classe. Mas explica-a, formula-a, sistematiza-a, desenvolve-a, expurga-a de elementos estranhos, liga-a à luta quotidiana e dá-lhe uma perspectiva, tendo em conta as transformações revolucionárias, que o proletariado, guiado pelo marxismo-leninismo, é chamado a efectivar.

A terceira fase começa com a criação do partido do proletariado de novo tipo, com a formação da vanguarda revolucionária leninista. O partido de novo tipo formou o revolucionário de novo tipo, cujos traços morais fundamentais consubstanciam as características típicas superiores do proletariado e exercem por sua vez profunda influência na classe e nas massas.

A quarta fase é inaugurada pela revolução socialista de Outubro, pela conquista do poder pelo proletariado. De classe exploradora e oprimida, o proletariado passa a ser classe governante. A instituição da propriedade social dos meios de produção, a composição da sociedade em classes amigas com interesses comuns, a democracia socialista, a igualdade das nações, dos cidadãos de todas as raças, do homem e da mulher, constituem uma base objectiva nova e radicalmente diversa. Com a conquista do poder pelo proletariado, inscreve-se na ordem do dia a criação do homem novo – o construtor da nova sociedade.

Os comunistas são os melhores representantes da ética da classe, de que constituem a vanguarda revolucionária. A moral comunista corresponde inteiramente aos interesses, às aspirações e aos objectivos do proletariado. Instrumento de acção revolucionária, ela serve a luta para pôr fim ao capitalismo e à exploração do homem pelo homem, para construir o socialismo e o comunismo.

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Os ideais políticos, a prática revolucionária, a acção do partido, intervêm como poderosos factores do desenvolvimento e enriquecimento da moral proletária e comunista.

Os ideais políticos influem nas representações e atitudes psicológicas e transplantam-se para os conceitos morais e destes para as atitudes e hábitos de procedimento.

Da própria consciência dos objectivos e da missão histórica do proletariado decorre uma nova concepção da vida e do homem, que se exprime numa nova ética. A intransigência para com a exploração e os exploradores, para com a opressão e os opressores, para qualquer forma de parasitismo, a indignação perante as injustiças, o reconhecimento nos outros seres humanos, independentemente da sua nacionalidade, raça ou sexo, de direitos iguais aos próprios, convertem-se em conceitos morais, necessariamente associados aos objectivos políticos.

A Revolução de Outubro (mais tarde as outras revoluções socialistas vitoriosas), tornando realidade os objectivos de combate dos trabalhadores, deu potente impulso não à organização e acção revolucionárias como à elevação da consciência e da formação morais do proletariado de todos os países e das suas vanguardas.

Em cada país existem condições específicas de que têm resultado e resultarão traços particulares e originais do processo revolucionário e da nova sociedade. Mas, nos traços essenciais, o socialismo tal como existe na União Soviética e noutros países socialistas é o ideal de luta de todos os explorados e oprimidos, é a prefiguração do eu próprio futuro. Não se trata de uma previsão teórica, como foi antes de 1917. Trata-se de uma aquisição histórica, da maior realização e da maior conquista do proletariado internacional, com um poder de atracção e de convencimento mil vezes superior ao da mais bela das utopias. Onde quer que se oponha o socialismo por que se luta ao socialismo tal como existe enfraquece-se e compromete-se a força ideológica, política e moral do proletariado e da sua vanguarda revolucionária. Em cada país, a moral proletária e comunista é extraordinariamente reforçada pelo facto de que se luta por um regime social que é uma realidade em numerosos países; e também pelo facto de que os trabalhadores consideram a URSS e outros países socialistas como a sua maior fortaleza, a que se sentem indissoluvelmente ligados pela solidariedade recíproca, pelos laços do internacionalismo proletário.

O internacionalismo proletário, parte constitutiva do marxismo-leninismo, é, na sua própria essência, uma concepção do mundo, uma política e uma ética.

A identidade dos interesses e aspirações dos trabalhadores de todos os países; a sua unidade, solidariedade e ajuda recíproca; as relações de fraternal amizade e a cooperação entre os países socialistas e entre os partidos comunistas lutando nas mais variadas condições; o reconhecimento da igualdade das nações e dos povos e a sua aproximação fundada na identidade de interesses dos trabalhadores; a subordinação do interesse particular imediato ao interesse geraltodos esses aspectos do internacionalismo proletário inspiram a política dos partidos, a luta dos trabalhadores, a formação moral e o comportamento dos homens.

Ao passo que o nacionalismo burguês, o chauvinismo, a estreiteza nacional, as tendências para o isolamento e para uma espécie de autarquia política e ideológica, se repercutem, no plano moral, em conceitos e sentimentos de egoísmo, de superioridade nacional e racial, de menosprezo pelos interesses gerais – o internacionalismo proletário é fonte criadora de conceitos, sentimentos e atitudes de generosidade de colectivismo, de fraternidade entre os trabalhadores e os comunistas de todos os países e entre todas as raças e nações, de prontidão para o sacrifício pelos interesses gerais.

Se os ideais e objectivos políticos constituem, por si, um factor do desenvolvimento da moral do proletariado, a prática revolucionária representa nesse desenvolvimento um decisivo papel.

A prática revolucionária é a melhor escola do comportamento e do carácter. Tomando formas diversas segundo o país, segundo a etapa da revolução e as condições existentes em cada caso, é sempre uma luta séria, continuada, tenaz, voltada para objectivos precisos. O espírito combativo, a paixão da luta – o «não poder ficar tranquilo e lançar-se ao combate sem descanso» --, a unidade, a camaradagem, a solidariedade, a abnegação, a rejeição do conformismo e do servilismo, a capacidade para aprender não com os sucessos mas também com os insucessos, o saudável optimismo baseado no conhecimento das leis da evolução social, a inabalável confiança no futuro, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, mesmo em horas amargas de derrotasão traços típicos do comportamento dos comunistas de todos os países.

O desenvolvimento do processo revolucionário mundial foi e é possível porque, à frente da classe operária e das massas, os comunistas souberam e sabem dar provas tanto de clarividência política como de força moral. Cada revolução socialista, a começar pela de Outubro, tem atrás de si uma luta dura e complexa, que não poderia ter-se desenvolvido vitoriosamente sem enormes sacrifícios da vanguarda. O longo caminho da revolução proletária está marcado pela devotada actividade de milhões de comunistas, que tudo entregaram de si próprios à grande causa comum. Aqueles que deram a vida nos combates de classe, na revolução, na luta armada, nas guerras justas, assassinados ou torturados até à morte pelo inimigo, nas prisões e campos de concentração, testemunham gloriosamente a superioridade moral dos combatentes da vanguarda do proletariado, inspirados pelo marxismo-leninismo.

Ainda hojedezenas de países (Haiti, Guatemala, Paraguai, Brasil, Portugal, Espanha, Grécia, Sudão, África do Sul, Indonésia, Irão, agora o Chile e tantos outros), onde ser comunista significa ser perseguido, preso, torturado, condenado a elevadas penas, em muitos casos executado ou assassinado. Para viver e lutar longos anos na clandestinidade, sofrendo privações de toda a espécie e defrontando o perigo hora a hora, é indispensável uma robusta formação moral. Em tais condições atingem elevado nível a fraternidade e a solidariedade recíprocas dos militantes. Quando, sendo preso, o militante suporta as torturas mais bestiais, demonstra que, se a resistência física tem um limite que é a mote, a resistência moral do comunista, essa nada pode vencê-la.

O marxismo-leninismo atribui um decisivo papel à vanguarda revolucionária. Combate ao mesmo tempo as concepções pequeno-burguesas acerca dos «heróis libertadores». Para os comunistas, as massas são as obreiras da história e a classe operária a coveira do capitalismo. A tarefa da vanguarda é elevar a consciência e a combatividade da classe e das massas, conduzi-las à luta e à vitória. A capacidade da vanguarda para cumprir essa tarefa revela-se particularmente nas situações de fluxo e revolucionário e de crise revolucionária, quando a ética proletária e comunista ganha amplas massas, que se elevam por vezes, em muitos aspectos, ao nível da moral da vanguarda.

Lenine sublinhava que «para que uma revolução tenha lugar é necessário (…) conseguir que a maioria dos operários (ou, pelo menos, a maioria dos operários conscientes, reflectidos, politicamente activos) tenha compreendido a necessidade da revolução e esteja pronta a morrer por ela».

Os factores políticos necessários à revolução são assim acompanhados de um importante factor moral: o alargamento, para além da vanguarda, da determinação de dar a própria vida. A generalização a amplas massas de características morais dos combatentes da vanguarda, a transformação do heroísmo num fenómeno de massas, constituem um dos critérios das verdadeiras revoluções. A experiência de cada revolução socialista o demonstrou. E o mesmo se pode dizer de revoluções e de grandes lutas dos povos pela libertação do jugo imperial.

Foi assim na Revolução de Outubro, na luta do primeiro Estado de operários e camponeses contra a intervenção, na grande guerra vitoriosa da URSS contra o invasor hitleriano. Foi assim na guerra de Espanha. Foi assim na luta dos guerrilheiros jugoslavos, búlgaros, polacos, albaneses, franceses, italianos, belgas e outros no decurso da segunda guerra mundial. Foi assim na luta dos povos do Oriente contra o militarismo japonês. Foi assim nas revoluções chinesa e cubana. Foi assim na luta contra a agressão imperialista do povo do Vietname, dos outros povos da Indochina, do povo coreano. Foi assim na Argélia e em muitos outros países que conquistaram pela luta a independência nacional. Assim está sendo com os povos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique em luta contra a opressão colonialista.

A prática revolucionária não termina, como pretendem certos ideólogos pequeno-burgueses, depois da conquista do poder. A construção do socialismo e do comunismo outra coisa não é que prática revolucionária, colocando à vanguarda tarefas não menos complexas que as anteriores.

Para organizar e conduzir as massas trabalhadoras ao derrubamento do poder da burguesia, o proletariado revela o seu «supremo heroísmo». Mas a tarefa de conduzir as massas à nova construção económica era, no dizer de Lenine, «mais difícil que a primeira, porque não pode ser cumprida por simples actos de heróico fervor; exige um mais prolongado, persistente e difícil heroísmo de massas, no trabalho prosaico de todos os dias».

A construção do socialismo e do comunismo é a tarefa complexa que alguma vez foi realizada. É o maior empreendimento revolucionário e a maior epopeia humana de todos os tempos. Na nova sociedade é cada vez mais importante a educação das massas na ética proletária e comunista, cujo conteúdo se enriquece com o desenvolvimento social. Aumenta o papel e alarga-se o campo de acção dos princípios morais. É característico que o PCUS tenha inscrito no seu programa o «código moral do construtor do comunismo» indicando, entre outros, como princípio basilares, a dedicação à causa comunista, o amor à pátria socialista e aos países socialistas, a nova atitude para com trabalho, o colectivismo, a assistência mútua e a camaradagem, as relações humanas de mútuo respeito, amizade e fraternidade, a rejeição do ódio nacional e racial, a solidariedade para com os trabalhadores dos outros países e para com todos os outros povos. À frente dos Estados socialistas, os outros partidos irmãos dão também grande relevo aos princípios morais.

A prática revolucionária, antes e depois da conquista do poder, tem assim profundas repercussões na esfera moral. A um mundo melhor por que os proletários oprimidos lutam e que os proletários emancipados constroem corresponde um homem melhor, homem que se torna irmão do homem e que trabalha e luta pelo bem comum.

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O Partido, vanguarda política revolucionária do proletariado, é também a sua vanguarda moral. O Partido educa os seus membros nos princípios da mora proletária e comunista e exerce decisivo papel na elevação da consciência moral da classe operária e de todos os explorados e oprimidos.

Essa acção educativa é realizada através da orientação política, das palavras de ordem e da acção quotidiana do Partido.

Uma linha política justa é factor de educação e de força moral. Influência inversa tem o oportunismo. No oportunismo de direita, o culto do imediato e do «possível», a renúncia a objectivos essenciais, concessões de princípio, tendem a diminuir a combatividade e a prontidão para o sacrifício e abrem caminho à influência burguesa na mentalidade e no comportamento. O oportunismo de «esquerda», designadamente o sectarismo, conduz ao desprezo efectivo pelas massas, ao individualismo, ao afrouxamento da solidariedade.

Os princípios orgânicos do Partido têm também profundas incidências morais.

A observância dos princípios leninistas não é essencial para garantir a unidade de pensamento e de acção do Partido e possibilitar uma orientação acertada e a rectificação de erros eventuais como desempenha um papel primacial na educação moral dos militantes. A submissão da minoria à maioria e dos organismos inferiores aos superiores, a disciplina, a crítica e a autocrítica, os métodos de trabalho colectivo, imprimem traços específicos ao carácter e ao comportamento dos membros do Partido: camaradagem, modéstia, lealdade, confiança recíproca, respeito pela opinião dos outros e franqueza na defesa das próprias opiniões. Inversamente, o revisionismo e os desvios dos princípios leninistas de organização exercem uma influência desmoralizadora. Se, no Partido, se instala um clima em que se não respeitam os princípios democráticos, em que a voz dos militantes é abafada, em que a crítica «de baixo para cima» dá lugar a represálias, em que os métodos administrativos de direcção se tornam regra, desenvolvem-se o abuso da autoridade, a irresponsabilidade, a auto-suficiência, o menor respeito pela verdade, a falta de coragem moral, o burocratismo, o carreirismo e o servilismo. Se se adoptam concepções anarquizantes (pluralidade ideológica, criticismo em vez de crítica, desrespeito pelas decisões dos organismos superiores, oficialização do fraccionismo) desenvolve-se o individualismo, quebra-se o espírito de unidade e do colectivo e, da mesma forma, a irresponsabilidade e a auto-suficiência encontram favorável caldo de cultura. As deformações morais resultantes de tais desvios pagam-se sempre caro, além do mais porque tendem a tornar-se «um estilo», que cristaliza em numerosos militantes e cuja rectificação é extremamente complexa e demorada.

O âmbito do trabalho educativo do Partido é muito vasto, abrangendo praticamente todos os aspectos da conduta. Mesmo que um membro do Partido seja esforçado e cumpra as tarefas do dia a dia, seria errado considerar de importância «secundária» o seu comportamento moral no local de trabalho, na família, na vida pessoal. A conduta moral dos comunistas não é um problema privado, que diga apenas respeito a cada qual. Essa conduta tem repercussões na actividade e no prestígio do Partido. Pertence também em certa medida ao Partido.

A força do exemplo, pelo seu extraordinário poder de convencimento e de atracção junto das massas, é um dos grandes trunfos da acção dos comunistas.

O militante sério e modesto que, nas mais diversas condições, defende infatigavelmente os interesses dos trabalhadores, o clandestino que suporta sem abrir boca cruéis torturas, o comunista soldado ou guerrilheiro que dá a vida em defesa dos seu povo, o herói do trabalho socialista, iluminam com os seus exemplos o caminho da luta, alargam e reforçam o prestígio e influência do Partido, atraem às suas fileiras muitos novos combatentes.

Falando dos primeiros anos depois da vitória de Outubro, Lenine salientava que o exemplo dado pelos comunistas, a devoção aos interesses do povo, a energia na luta contra os inimigos, a firmeza nos momentos difíceis, a abnegada coragem, tiveram tal impacte nas massas que «o poder de simpatia dos operários e camponeses pela sua vanguarda provou por si próprio ser capaz de realizar milagres».

Na história do movimento operário de todos os países se verificam, numa ou noutra escala, numa ou noutra época, tais «milagres» provocados pelo exemplo dos comunistas.

As massas não aferem, pela sua experiência, a justeza da orientação política e das palavras de ordem do Partido como estão particularmente atentas e são particularmente sensíveis ao exemplo moral dado pelos seus membros. Exemplo de dedicação. Exemplo de combatividade e de firmeza. E também exemplo de comportamento pessoal num sentido mais largo: exemplo de dignidade e da intransigência para com as concepções da moral burguesa e as práticas dela decorrentes. Se a vanguarda ajuíza das influências da moral burguesa sobre as massas, as massas julgam por sua vez o comportamento moral da vanguarda. Os comunistas têm de agir de forma a passar com honra um tal julgamento.

Seria utopia pretender que os comunistas fossem seres «puros» e isentos de faltas. «O que distingue o marxismo do antigo socialismo utópico (escreve Lenine) é que este queria construir a nova sociedade, não com a massa de material humano engendrado pelo capitalismo mercantil, espoliador, imundo, sangrento, mas com seres particularmente virtuosos educados em moldes ou em estufas especiais.» A revolução não se faz com seres ideais. Faz-se com homens que sofrem influências morais negativas do capitalismo e dos variados e omnipresentes meios de acção espiritual deixados por milénios de sociedades divididas em classes antagónicas, nas quais a moral dominante era a moral das classes dominantes, isto é, das classes exploradoras. Esta situação incontroversa não leva à renúncia do trabalho educativo do Partido, antes aumenta a sua responsabilidade.

O Partido chama a si os melhores, os mais conscientes, os mais dedicados ao bem comum. Mas também vêm ao Partido, quaisquer sejam as condições em que actuam (no poder, legal, clandestino), homens com falhas mais ou menos graves na sua formação e na sua conduta. Utilizando a arma da crítica e da autocrítica, o Partido ajuda os seus membros a superar debilidades e faltas e forja nas próprias fileiras lutadores infatigáveis, generosos, dedicados, pessoalmente isentos, corajosos, leais despretensiosos e simpleshomens e mulheres capazes de inspirar, pelo seu exemplo, os «milagres» de qe falava Lenine.

A luta entre o socialismo e o imperialismo também se trava no terreno moral. O imperialismo mobiliza imensos recursos para tentar enfraquecer e corromper moralmente o proletariado e elementos da vanguarda. Com uma histérica campanha anti-soviética e de calúnias contra outros países socialistas, procura desacreditar os ideais do comunismo, convencer os trabalhadores de que as revoluções socialistas não trouxeram o que eles esperavam, de que o socialismo tal como existe «não lhes serve». Procura assim semear o desânimo acerca da possibilidade de libertação dos trabalhadores, quebrar neles o espírito de solidariedade, coesão, unidade e confiança na própria causa.

Ao mesmo tempo, tudo faz para corromper e afastar do caminho da luta as massas trabalhadoras. Mantém uma «aristocracia operária», assimilada aos hábitos, costumes e gostos burgueses e pequeno-burgueses. Difunde, pelas formas mais subtis, a admiração pelo dinheiro e o ideal da «sociedade de consumo». Torna a depravação sinónimo de «liberdade sexual», a pornografia critério da «liberdade de criação», a violência inútil e criminosa «ideal» de coragem. Utiliza intensamente todos os meios de propaganda, todas as formas de criação artística, para incitar ao egoísmo e ao desregramento de costumes. Os «heróis» da literatura, do cinema, do teatro, são seres marginais, bandidos, degenerados. O homem retratado na pintura e escultura é um ser destorcido, retalhado e monstruoso. O imperialismo procura gravar no espírito das massas uma visão pessimista e mesmo apocalíptica do mundo e arrastá-la na própria decadência. Tudo faz para quebrar e desagregar o espírito e o comportamento de classe dos trabalhadores, para arrancar estes (e particularmente a juventude) não à influência política das suas vanguardas revolucionárias como à influência da moral proletária e comunista.

Errado seria subestimar os efeitos desses poderosos meios de corrupção. Mas mais errado seria concluir pela impossibilidade de, na sociedade capitalista, contrariar tal acção desmoralizante, ou (ainda pior) condescender com os cânones morais ou amorais da burguesia, sob pretexto de que a acção política é o essencial e amoral secundária. As condições de trabalho e de vida do proletariado nos países capitalistas continuam sempre sendo factores de gestação espontânea dos elementos positivos da moral de classe. E as vanguardas revolucionárias leninistas, conduzindo as massas à luta, travando a batalha ideológica, mostrando confiantes a perspectiva do futuro, apontado nas realizações da URSS e outros países socialistas, estão em condições de subtrair amplas massas à influência da burguesia e de educá-la nos elevados princípios da moral proletária.

A luta entre a moral burguesa e a moral proletária e comunista não acaba com o triunfo da revolução. Nos países socialistas pesam, durante gerações, hábitos e tradições morais. A moral burguesa tem ainda suportes objectivos, embora em vias de extinção. A sua influência exerce-se também de fora, através dos diversos meios de informação e contacto, que se tornam mais densos pela cooperação internacional e o turismo. Também nos países socialistas se trava essa batalha. Mas as condições objectivas e os factores subjectivos, o conteúdo fundamental da vida de toda a população que é o trabalho criador na construção da nova sociedade, o trabalho educativo do Partido e do Estado, não alargam às mais amplas massas os princípios da moral proletária e comunista como determinam o enriquecimento do seu conteúdo e a acentuação progressiva do seu carácter humanista.

O carácter humanista da moral proletária deriva fundamentalmente de que os interesses e os objectivos do proletariado coincidem com os do futuro da humanidade no seu conjunto, de que cabe ao proletariado a missão histórica de pôr fim à milenária divisão da humanidade em classes antagónicas, em exploradores e explorados, e de criar a sociedade sem classes. Com o comunismo, a moral do proletariado, no seu desenvolvimento, conservando embora as suas raízes de origem, deixará de ser uma moral de classe, para se tornar a moral de todos os homens fraternalmente unidos por objectivos comuns, a «moral verdadeiramente humana», de que falava Engels.

O carácter humanista dos ideais do marxismo-leninismo, da moral proletária e comunista, revela-se e confirma-se na própria vida, na realização dos objectivos de luta do proletariado e da sua vanguarda revolucionária, na realidade exaltante da sociedade socialista e comunista em construção.

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