domingo, 13 de dezembro de 2015

A autocrítica científica não é uma dádiva…



Crítica da autocrítica



Reflexões para «sair por cima» depois de alguns erros




Tradução de Guilherme Fonseca-Sttater



Rebelión/Universidad de la Filosofía


De pouco serve uma autocrítica puramente confessional se aquilo que é preciso é corrigir, no todo ou em parte, uma acção falhada. Ou muitas. Necessita-se de uma abordagem correcta que abranja tanto o objectivo como o subjectivo nas suas proporções relativas e nas suas relações dialécticas. Requerem-se consciência, ciência e programa. Não é preciso sentir-se compungido quando “se mete a pata na poça”, o que está errado, por ser inútil, é a imobilidade, o conformismo ou a auto-comiseração. Também não chega “bater no peito”.

O vicio mais frequente nas “autocríticas” acaba por ser o subjectivismo. Muitas das considerações, predominantemente subjectivas (e aí inclui-se a «autocrítica»), cometem o erro inicial de se basearem no caracter abstracto que produzem os erros e o defeito de impedir que se parta daí, para o concreto na superação de cada problema ou erro. Não basta «sentir-se mal» e encontrar «desculpas», uma autocrítica socialmente útil exige acção imediata e rectificação concreta e nada disso se consegue sem um programa antecedente e um programa de soluções. Um programa científico. Cada erro tem a sua história e é necessário identificar as raízes de un passo equivocado que podem inclusivamente chegar à própria origem da metodologia de acção e suas referências filosóficas. Por isso, a autocrítica, como parte imprescindível do método de acção, deve ser permanente, dinâmica e eficaz… exige um treino rigoroso e não admite condescendências nem auto-complacências. Nada fácil.

A autocrítica, com método científico, compreende diagnósticos, qualitativos assim como quantitativos, permanentes, com plasticidade e velocidade de aplicação à prova de desânimos, desleixos ou ineficiências. A autocrítica deve, inclusivamente formar parte das tarefas de planificação e deve desenvolver-se, sempre, um passo à frente da acção. Se se deixa para trás a autocritica, é caso para alarme de autocrítica de emergência. Não poucos projectos e experiências quotidianas requerem uma equipa especializada em autocritica, com um programa de monitorização permanente, capaz de exercer a responsabilidade de corrigir erros de maneira imediata. Acontece também que se requeira um programa de valorização crítica dos contributos vindos de outras frentes de críticas dirigidas aos nossos projectos. A crítica da crítica.

Um programa científico para a autocrítica exige dos seus responsáveis um compromisso, consensual e inquestionável, com os fundamentos, objectivos, métodos e alcance de um projecto. Todos os desvios podem ter sérias consequências. Não se aceita qualquer cumplicidade com a ineficiência. Um tal programa, frequentemente esquecido no desenvolvimento de projectos, pode bem ser uma ferramenta formidável para alcançar êxitos fundamentais, mas não é uma sua garantia absoluta. É necessário recordar sempre que os êxitos dependem não só dos programas e factores como o acaso ou a moral da luta, que são indispensáveis e inevitáveis, têm zonas dificilmente quantificáveis mas não impossíveis de medir.

Um programa científico para a autocrítica requer consenso nas suas bases e nos seus passos. De pouco serve uma autocrítica unilateral e solipsista. Requere definição precisa do “erro”, de seus antecedentes, do seu desenvolvimento e das suas consequências. Requere uma descrição detalhada e consensual sobre, e com, os envolvidos… valorização exacta dos custos e dos tempos, explicação precisa do “custo” afectivo ou moral e definição meticulosa de prazos e recursos com que será reparado o “erro” e um plano concreto para se obter a concordância dos envolvidos. A acção directa.

A autocrítica científica não é uma dádiva, nem uma concessão, filhas da “boa fé” ou de certas culpas funcionais. Trata-se de um salto qualitativo da consciência na práctica e trata-se de um compromisso profundo com a dialéctica dos projectos e do seu êxito, colectivo e consensual. É uma ferramenta necessária para socializar os erros e convertê-los em forças. É uma ferramenta poderosa para separar o tratamento dos erros de qualquer campo abstracto para os elevar ao terreno do concreto, à vista de todos, e com o benefício da corresponsabilidade nas soluções. Não é um reduto ou emboscada para dar as boas vindas aos erros, é uma arma para lhes dar categoría de sujeitos de conflito na dinâmica da transformação social e, a partir daí, saber definir o seu lugar na luta de classes que é o seu marco permanente de referência. A dialéctica.

Por isso todos necessitamos da autocrítica como ferramenta para a luta, para o trabalho e para a vida quotidiana. Como ferramenta social para a nossa militância, para sermos melhores lutadores sociais, melhores pessoas, melhores exemplos no que nos corresponda ser responsáveis para a transformação do mundo e a emancipação da humanidade. Para superar o capitalismo sem cometer erros e, se «metemos a pata na poça», corrigi-los correctamente e de imediato. Em colectivo. Dentro e fora, do macro ao micro.



Dr. Fernando Buen Abad Domínguez

Universidad de la Filosofía










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