sexta-feira, 4 de abril de 2025

Vendaval por Jorge Cadima

Jorge Cadima

Mudar as re­gras do jogo para pre­servar o jogo

A eleição de Trump foi ex­pressão da pro­funda crise em que está mer­gu­lhada a maior das po­tên­cias im­pe­ri­a­listas. Mas é também um factor do seu agra­va­mento, facto ca­bal­mente de­mons­trado pelos dois pri­meiros meses do seu man­dato. O Tornar de Novo Grande a Amé­rica (MAGA) trum­pista não é ir­ra­ci­onal. É apenas re­ac­ci­o­nário. As­senta na cons­ta­tação real de que é in­sus­ten­tável o mo­delo de do­mínio im­pe­ri­a­lista e de fi­nan­cei­ri­zação pa­ra­si­tária em vigor nas úl­timas dé­cadas, e na sua de­ca­dência face à as­censão da China e ou­tros países. Pe­rante o de­clínio, Trump propõe-se re­a­firmar o po­derio mun­dial dos EUA. Pela força bruta, como é da sua na­tu­reza his­tó­rica. Quer mudar as «re­gras do jogo» para pre­servar «o jogo», ou seja, a he­ge­monia mun­dial do gi­gante im­pe­ri­a­lista. Se for pre­ciso de­vorar os vas­salos eu­ro­peus, assim seja. Já nos anos 80 e 90 os EUA cei­faram o «aliado» Japão, para travar a sua forte as­censão eco­nó­mica.

O que dis­tingue Trump de Biden não é a afir­mação da he­ge­monia dos EUA, mas apenas os mé­todos. O que dis­tingue Trump dos seus vas­salos eu­ro­peus não é a es­sência, mas apenas o as­sumir em pú­blico a re­lação de vas­sa­lagem que sempre existiu. Vas­sa­lagem que teve o seu ponto mais baixo no ver­go­nhoso si­lêncio das classes di­ri­gentes «eu­ro­peias» pe­rante o maior acto de sa­bo­tagem contra os in­te­resses eco­nó­micos da UE, per­pe­trado pelos EUA/​Biden – a des­truição do ga­so­duto NordS­tream2. Tal como os três ma­ca­qui­nhos, não vêem, não falam, não ouvem.

Os di­ri­gentes eu­ro­peus par­ti­ci­param em dé­cadas de guerras, agres­sões e cercos sob o manto dos EUA – Ju­gos­lávia, Afe­ga­nistão, Líbia, Síria, Ve­ne­zuela, Rússia, entre ou­tros. Se al­guns es­per­ne­aram com o Iraque, vol­taram logo ao redil, ele­gendo Durão Bar­roso, o an­fi­trião da ver­go­nhosa Ci­meira das Lajes, para Pre­si­dente da Co­missão Eu­ro­peia. De então para cá a vas­sa­lagem foi total. Hoje mos­tram-se in­dig­nados. Porque são alvo da­quilo que fi­zeram aos ou­tros – aos que não acei­tavam ser vas­salos.

A na­tu­reza de Trump está à vista no re­tomar do ge­no­cídio na Pa­les­tina – um ge­no­cídio que Biden, UE e RU sus­ten­taram du­rante 15 meses. Está à vista nos bru­tais ata­ques ao Iémen – co­pi­ando Biden e amigos. Está à vista nas ame­aças de atacar o Irão – que também vêm de trás. Se Trump pa­rece querer apa­zi­guar a guerra na Ucrânia, é apenas porque re­co­nhece que essa guerra – que está a ser per­dida, apesar do in­ves­ti­mento em força – lhe im­pede de se virar para o seu alvo pri­meiro – a China. Basta ler o que diz o Mi­nistro da De­fesa dos EUA, Heg­seth. A ira da UE contra Trump nada tem a ver com «va­lores» ou «de­mo­cracia contra au­to­ri­ta­rismo». Dor­miram na mesma cama du­rante dé­cadas. Só que, para um poder en­gordar, os ou­tros têm de ir dormir para o chão.

Qui­sessem os di­ri­gentes da UE e ha­veria uma al­ter­na­tiva pa­cí­fica e in­de­pen­dente para o beco em que se me­teram. Bas­tava acei­tarem re­la­ções de igual­dade com os res­tantes países, dei­xarem de ter a psi­cose que ainda são os amos co­lo­niais do mundo. Po­de­riam apro­veitar o cres­ci­mento dos países dos BRICS para também cres­cerem. Mas isso seria como pedir ao lobo que deixe de comer ove­lhas. Presos entre o seu pas­sado co­lo­ni­a­lista e im­pe­ri­a­lista e a sua vas­sa­lagem ao amo norte-ame­ri­cano, as po­dres classes di­ri­gentes eu­ro­peias pensam da mesma ma­neira que Trump: re­correr à força bruta para tentar manter a sua exis­tência pa­ra­si­tária e inútil. Cabe aos povos mandá-los todos pastar.

 

1 comentário:

Olinda disse...

Jorge Cadima, sempre a não perder. Abraço