«Donde colho que naõ he bom o dinheiropara paõ; que se fora paõ, nunca houvera de matar a fome.»
Arte de Furtar, Capitulo XXX
Todos os dias, são despejadas na minhacaixa do correio electrónico prendascomo esta:
«ExcelentíssimoSenhor,
Pretende V. Ex.ª ressuscitartermosobsoletosquenada têm a vercom o paísreal. V. Ex.ª ignora a realidade, é um ultrapassado quenão assimila o progresso, os avançostecnológicos, a globalização e a submissão ao Cifrão. V. Ex.ª é umdinossauroquenemsequer vai deixarpegadas na Pedreira do Galinhas.
Qual a razãoporquenãodeixa de matraquear os quedentro desta sociedade, talcomo é, usam (e porvezes abusam) dos múltiplosmeios, colocados ao seudispor, de toda uma panóplia de instrumentos, comsuportelegal, com os quais conseguem, comoqualqueroutroladrão, os mesmos objectivos, emcenáriosque o próprio Arsene Lupin jamais teria imaginado?
Supomos que essa suadoentiaobsessão, porestetema, se deverá ao facto de vermuitosfilmes. Nãoperca o seutempoporque a realidade ultrapassa, emmuito, a suafrouxaficção.
Entretanto, e comonos pede, sugerimos-lhe algunstermosque poderá inserir no seu pseudo glossário:
«Todas as grandes burlas saíram incólumesemvirtude de a justiça, durante o prazolegal, nãoter exercido o seudireito de acção ou efectivado a condenaçãoimposta.» Deste modo, a prescrição é o instrumento de maiorvaliapara os ladranzanasde colarinhobrancoque, possuindo poderosas máquinas de advocacia, pagam principescamente aos que, porvezes directamente interessados, a utilizam paralegalizar os seuscrimes.
Tome nota: Prescrever, prescritível, prescrito. Junte ao seuglossário. E jáagoranão se esqueça de consultarumpsicanalista.
Atentamente
Associaçãopara a Dignificação da Arte de Furtar (ADAF)»
Seguirei o conselhoquandochegar ao fim deste passatempo.
A avidez do galfarronão perdoa, deita a mãoou o gadanho;gadanharougadunharsãoartes do gamanço dos que sabem gamar. Gatázio é grandelogro e deita-se o gatázio a alguémou a alguma coisa. Gatear é roubarjá o gateador é ladrãomanhoso e gato, dargatoporlebre, fala-nos de logro. Gatuno é termocorrente e gatunice a suaprática; levarvida de gatuno é gatunar,talcomogatunagem é o colectivo destes meliantes. Gaturamaougaturamonão faz maisquegaturarougaturrar. No Brasil, guinda é roubocomescalada, e, paranós, ao guindar rouba-se carteira e também, emcalão, guindo é simplesmenteroubo. Intrujãoouentrujão é o que faz intrujice e, ao intrujar, burla-se. Intrusão é usurpação, posseilegal e violenta, acção de se apossar de umcargo, de uma dignidade… o dia-a-diaemsuma.
E assim chegamos ao trivialissimo: LADRÃO!Que no femininonos dá a ladra, ladronaoumesmoladroa. O ladranete é o ladrãozinho de meia-tigela; ladripar é surripiarcoisa de poucovalor, trabalho do ladripoou do desclassificadoladranete, já mencionado, assimcomo do ladrisco, umtanto tolerado, vejam bem! Na gíria do Portoladrilho é simplesmentegatuno. E sendo ladroladrão, ladroar a acção e ladroagemseuvício, oubando de ladrões, ladroado é o roubado. Defesacontra o ladroísmoeleitoral vem a propósito, é maisqueladroeiraouladroíce, ladroísmo é umhábito, umvício dos que, ao ladroeirar,vão fazendo as suasladroeiras. Temos, porfim, o ladranzana, ladravaz, ladravãoouladroaço,palavrões aplicados aos grandesladrões, nãoàquelesque desviam milhões, não: por uma questão de pudor, estiloouconivência, o vocábulonão se lhes aplica. Suaexcelênciasenhorfulano de tal ladranzana, ladravaz ou ladravão! Convenhamos que temos queencontrar outras palavrasparaessescrápulas. O larápio, ao larapiaroularapinar, faz larapice; não é violentocomo o que, ao latrocinar, comete o latrocínio,rouboviolento, mesmo à mãoarmada. Leilãoé roubo no Dicionário de Calão. Levar, libertar e limpar vivem nas margens do jargão; faz-se limpezaoulivrar a alguém o quelhepertence. Ao lograr pratica-se o logro a quenos sujeitam diariamente.
Aindame faltam cerca de setenta vocábulos. Se soubesse nãometinhametido nisto, mascomo sou persistentenão desisto. Até ao “Glossário IV”.
Não sei se ria se chore. Mas que deves continuar, não tenho dúvidas. A "face oculta" do nosso vocabulário têm tanta "sustança" - pelo menos no que a mim se refere - que preciso de muito tempo para diferir e assimilar... mas consigo! E prometo não roubar nada, não vá a judite aparecer lá por casa.
Ladrão=interceptor, em latim,ou fur,furis;fôr,forós (grego); bando de ladrões=latrocinium. Temos, então,bandos de interceptores em alegre latrocínio das empresas públicas com o alto patrocínio de...Cala-te boca!
ladrão habitual:fur,furis; interceptor(latim).bando de ladrões:latrocinium.Temos, portanto, bandos de interceptores, furíssimos, em alegre latrocínio, com o alto patrocínio de...Cala-te boca!
4 comentários:
Meu caro Cid,
Não sei se ria se chore.
Mas que deves continuar, não tenho dúvidas.
A "face oculta" do nosso vocabulário têm tanta "sustança" - pelo menos no que a mim se refere - que preciso de muito tempo para diferir e assimilar... mas consigo!
E prometo não roubar nada, não vá a judite aparecer lá por casa.
Fico à espera.
Um grande abraço
É de uma sacanagem, já sem vergonha.
Tal é a desfaçatez... Desta canalhada.
É gamar o quanto se pode!
São os amigos do alheio, e daí talvez, da onça.
Abraço,
Zorze
Ladrão=interceptor, em latim,ou fur,furis;fôr,forós (grego); bando de ladrões=latrocinium. Temos, então,bandos de interceptores em alegre latrocínio das empresas públicas com o alto patrocínio de...Cala-te boca!
ladrão habitual:fur,furis; interceptor(latim).bando de ladrões:latrocinium.Temos, portanto, bandos de interceptores, furíssimos, em alegre latrocínio, com o alto patrocínio de...Cala-te boca!
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