UMA TARDE COM VASCO GONÇALVES
(entrevista de oito páginas com a assinatura de Jorge Reis, Diário de Lisboa 12 e 14 de Setembro de 1977) da qual publico este extracto.)
Vasco Gonçalves explica o antigonçalvismo
-- Creio ser quase desnecessário dizer-lhe que o gonçalvismo – referiu numa voz pausada – foi inventado para que se pudesse utilizar o antigonçalvismo como uma arma da guerra psicológica, como uma arma da luta política e ideológica que a burguesia portuguesa trava contra as classes trabalhadoras e, de modo geral, contra todos os autênticos antifascistas, no sentido de bloquear o processo revolucionário, recuperando-o para o capitalismo. Do ponto de vista da guerra psicológica e da luta ideológica, o antigonçalvismo é um conjunto contraditório de mentiras, de calúnias e de invenções relativas às acções desenvolvidas durante o período mais criador da Revolução do 25 de Abril. O antigonçalvismo é a deturpação total da política dos Segundo, Terceiro, Quarto, e Quinto Governos Provisórios, em particular do Quarto e do Quinto. Do ponto de vista político, o antigonçalvismo é um conjunto de acções que tem por fim ludibriar o Povo português, influenciar a sua consciência, violar os seus sentimentos, com o objectivo final da recuperação capitalista…
-- Começo a compreender… de resto já o professor Jacinto Prado Coelho disse qualquer coisa…?
-- Sim, num artigo que veio a lume no «Diário Popular» há uns meses. Afirmava ele, referindo-se ao «manejo do termo gonçalvismo»: «Variedade de racismo transposto para a esfera político-ideológica, velha receita (depois de tantos ismos que correram Mundo…) para colocar o irracional ao serviço da política, pois dizer gonçalvismo é convidar a não pensar, a não analisar, é produzir uma espécie de choque eléctrico. E todavia o nosso Povo é mais volúvel e irreflectido que maldoso…»
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