sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Soberania semântica: UM TEXTO IMPORTANTE PARA REFLETIR SOBRE OS CAMINHOS PARA A LUTA



Soberania Semântica
Em que pensamos quando pensamos?

Fernando Buen Abad Domínguez, Rebelión/Universidad de la Filosofía
(Tradução de Agostinho Santos Silva)

Trata-se de assumir a direcção e a produção revolucionária das ideias e trata-se também de impedir a sua separação da prática. Trata-se de exercer a responsabilidade e o direito de esculpir, com os nossos próprios cinzéis – e a nosso gosto – conceitos para a Batalha das Ideias. Trata-se de libertar os caudais expressivos; trata-se da liberdade de expressão inteligente e transformadora sem submissões de classe, sem hegemonias de silêncio... sem a ideologia da classe dominante. Trata-se, pois, de organizar as agendas segundo o calor das nossas lutas e não ao serviço do temário depredador com que as oligarquias nos humilham e nos anestesiam. Não se trata de falar – só – do que “nos passa pela cabeça” sem ordenar ideias sobre aquilo de que necessitamos, mas de resolver os problemas da humanidade começando pela nossa casa.
Enquanto as mentes dos povos estiverem infectadas com as insignificâncias intelectuais que os poderes burgueses nelas implantam, disfarçadas de “gostos”, de “tradições”, de “noticiários” ou de “temas de actualidade”, reinará um sistema de pressão económico-política injectado de incertezas e chantagens, deturpadas tendo em vista a desinformação e a manipulação da realidade. Se houvesse Soberania Semântica expressar-se-ia a confiança plena sobre as lutas dos trabalhadores e não a confiança no individualismo nem nas palhaçadas dos “bons rapazes” burgueses.
Se alcançássemos a Soberania Semântica ninguém daria prioridade ao “glamour” do mercantilismo – nem aos seus fetiches – e dedicaríamos o nosso melhor tempo à criatividade da luta, com a luta e para a luta. Falamos de uma revolução mundial da produção Semântica capaz de ser nova por ser colectiva, democrática e revolucionária. Capaz de complementar a Soberania Económica e Política contra a submissão e a colonização intelectual, para fortalecer um método de produção semântica que construa fortalezas na luta unificada pela verdade e contra o capitalismo, inimigo comum da espécie humana.
Por isso, não contar com a Soberania Semântica é outra expressão da nossa derrota histórica. Nós não necessitamos de temários “neutros” de pensadores em abstracto ou de ninharias convertidas na épica do medíocre... nós necessitamos, nas bases, de cientistas e revolucionários dos conteúdos, lutando a partir das bases para que os nossos pensamentos se enraízem ao lado dos povos na busca inalienável da verdade e da construção necessariamente social das nossas agendas emancipadas. Necessitamos de compromisso estético para uma Revolução Semântica com substâncias semióticas muito suculentas. E isso sai das lutas.
Sem Soberania Semântica manipulam-nos o espírito e prostituem-no. Submetem-no a uma depauperação de pensamento de acção que nos torna irreconhecíveis e alheios às nossas próprias identidades. O inimigo inocula em nós os seus ideários, a sua erudição, os seus saberes e os seus valores para que acreditemos que é superior, melhor e absoluto e, com isso, destruir as nossas agendas de combate. Não esperemos misericórdia, e muito menos por parte das agendas impostas para anular o nosso livre pensamento e nos obrigar a falar e a actuar exactamente como lhes agrada, lhes convém e lhes permite enriquecer. Apesar dos acordos e desacordos que possa haver com uma ou outra semântica revolucionária, nada impede que reconheçamos a urgência da emancipação semântica construída no calor da luta. E essa é a chave.
Na indústria dos “lavadores de cérebros” destacam-se os fanatismos consumistas enraizados nas leis do mercado burguês. Por isso importa conhecer o calibre das aberrações da moral burguesa que avalia a qualidade do pensamento pela quantidade de dinheiro que ela rende. Lavam-nos o cérebro, não para o “livre pensamento” mas para se livrarem eles próprios do nosso pensamento livre. Submetida a semântica à economia e à política, caminhamos para o abismo da pior crise de miséria de pensamento e despojo intelectual que pudéssemos ter imaginado. Eles querem apagar o cérebro dos povos, para que fique bem vazio e nos disponhamos a comprar tudo o que acumulam nas suas adegas da crise de sobre-produção, que nos asfixiará até à eternidade se ficarmos quietos.
Há tarefas de sobra para impulsionar a Revolução Semântica que é urgente nas fábricas, nos sindicatos, nas escolas, nos debates e tendências de praxis revolucionárias diversas. Há ideias e há acção planetária que deverá servir-nos para que não vivamos como carpideiras de conjuntura de cada vez que ficamos “mudos” ante os factos e ante as formas como a oligarquia os interpreta e no-los impõe. Por mais verdadeiras que sejam as nossas análises e a nossa informação é hora de avançar para a Soberania Semântica como parte dos nossos programas, porque urge integrar todas as nossas melhores forças numa Revolução Semântica para a unidade e para a luta criadoras de ideias, e para a emergência de ideias criadoras de lutas. É urgente e é possível, no momento em que mais investimento se faz e mais se mente para que fiquemos sem a nossa própria agenda. Não repitamos o discurso do “patrão”.

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