“ARTE DE FURTAR”
ESPELHO DE ENGANOS
(Padre Manuel da Costa) 1652
«Não ensina ladrões o meu discurso, ainda que se intitula Arte de Furtar, ensina só a conhece-los, para os evitar.»
- … e como o homem de si nada tem próprio, claro está, que os acrescentos hão de ser alheios.
- … A maior dificuldade está no conhecimento deles; porque como o ofício é infame, e reprovado por Deus, e pela Natureza, não querem ser tidos por tais, e por isso andam todos disfarçados.
CAPÍTULO I
Como para furtar há arte, que é ciência verdadeira
“Con arte, y con engano, vivo la mitad del año;
y con, engaño y arte, vivo la otra parte”
- … E quando os vejo continuar no ofício ilesos, não posso deixar de o atribuir à destreza de sua arte, que os livra até da justiça mais vigilante, deslumbrando-a por mil modos, ou obrigando-a que os largue, e tolere; porque até para isso têm os ladrões arte. Assim se prova, que há arte de furtar, e que esta seja ciência verdadeira, e muito mais fácil de provar, ainda que não tenha escola pública, nem Doutores graduados que a ensinem em Universidades, como têm as outras ciências.
CAPITULO II
Como a arte de furtar é muito nobre
- … E como o engenho, e arte de furtar ande hoje tão subtil, que transcende as guias, bem podemos dizer que é ciência nobre.
CAPITULO III
Da antiguidade, e professores desta arte
- … E como não há arte, que se aprenda sem mestres, que vão sucedendo uns aos outros, tem esta alguns muito sábios, e sempre os teve: e como não há escola, onde se não achem discípulos bons, e maus, também nesta há discípulos, que podem ser mestres; e há outros tão rudes, que nem para maus discípulos prestam, porque logo os apanham.
- … que este mundo é uma ladroeira, ou feira da ladra, em que todos chatinam interesses, créditos, honras, vaidades, e estas coisas não as pode haver sem mais, e menos: e em mais, e menos vai o furto, quando cada um toma mais do que se lhe deve, ou quando dá menos do que deve.
1 comentário:
"E como não há arte,que se aprenda sem mestres,que vão sucedendo uns aos outros..."Temos que do século XVII até aos nossos dias os "artistas" têm-se aperfeiçoado.Abraço
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