sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sondagens

Eu, sondador, me confesso!

No comboio descendente

Vinha tudo à gargalhada.

Uns por verem rir os outros

E outros sem ser por nada.

Fernando Pessoa

Sondando um sondador:

Por que é que sonda? - Porque me pagam.

Para quem sonda? – Para os que me pagam.

E se não lhe pagarem? – Não sondo.

O objectivo principal do sondador? – Agradar a quem lhe paga.

Qual o tipo de sonda que utiliza e que no seu entender é a mais eficiente? - O eurão ou cifrão, tanto faz.

O que aconteceria se os resultados das suas sondagens não agradassem a quem as encomenda? – Não me pagavam.

A votação para o PE não esteve de acordo com as projecções apresentadas. A quem imputar tal discrepância? – Aos que me pagaram; desejavam que os resultados eleitorais correspondessem ao produto que me encomendaram.

Mas, assim sendo, há alguma hipótese de que alguma vez as sondagens sejam credíveis? – Sim, para os que me pagam.

As sondagens são caras? – Para quem tem dinheiro para as encomendar, não.

A quem vende as sondagens? – A quem os resultados que apresento lhes agrade e melhor me pague.

Deste modo podemos concluir que há sondagens para todos os gostos. - Sim. Tenho sondagens por catálogo com preçário e possuo contactos telefónicos disponíveis a qualquer hora do dia ou da noite para satisfazer encomendas urgentes.

Porque razão na própria noite em que se publicitavam os resultados eleitorais, e se denunciava o embuste que tinham sido as sondagens, nesse mesmo momento, nos estavam a infernizar com mais sondagens, agora referentes às legislativas? – Porque me pagaram.

As sondagens encomendadas têm objectivos político-partidários? - Nunca pergunto aos meus clientes qual o destino que pretendem dar aos produtos que lhes vendo. Sou um profissional muito discreto.

Os que foram matraqueados com os seus embustes vão estar disponíveis para acreditar nas próximas sondagens – Como não foram eles que nos pagaram esquecem rapidamente.

Portanto é tudo uma questão de dinheiro! – Claro. E não poderia ser de outro modo. É um negócio rentável, a clientela é segura e exigente mas muito restrita.

Mesmo antes da campanha pré-eleitoral dava ao BE quase 18% e a CDU não passava dos 7% confirmando-se nas unas que a diferença não foi além de um décimo. Não crê que por vezes vão longe de mais? – É meu dever agradar à clientela que me paga. Não contrario os bons clientes.

Será que as sondagens não passam de palpites como diria a minha tia e os sondadores pregoeiros pouco recomendáveis? - Não respondo a provocações.

Quando será que deixarão de lhe encomendar sondagens? – Quando vivermos em democracia.

E quando é que isso acontecerá? – Quando deixar de haver sondagens.

Estamos esclarecidos.

Honni soit qui mal y pense!


1 comentário:

Fernando Samuel disse...

Excelente!
(se me permites, um acrescento: quem encomenda as sondagens tem um objectivo previamente definido. E mesmo quando «por vezes vão longe de mais» no resultado construído e o erro é clamoroso, eles não falharam: estão a influenciar o eleitor no sentido previamente definido...)

Um abraço.