Eu, sondador, me confesso! No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada.
Uns por verem rir os outros
E outros sem ser por nada.
Fernando Pessoa
Sondando um sondador:
Por que é que sonda? - Porque me pagam.
Para quem sonda? – Para os que me pagam.
E se não lhe pagarem? – Não sondo.
O objectivo principal do sondador? – Agradar a quem lhe paga.
Qual o tipo de sonda que utiliza e que no seu entender é a mais eficiente? - O eurão ou cifrão, tanto faz.
O que aconteceria se os resultados das suas sondagens não agradassem a quem as encomenda? – Não me pagavam.
A votação para o PE não esteve de acordo com as projecções apresentadas. A quem imputar tal discrepância? – Aos que me pagaram; desejavam que os resultados eleitorais correspondessem ao produto que me encomendaram.
Mas, assim sendo, há alguma hipótese de que alguma vez as sondagens sejam credíveis? – Sim, para os que me pagam.
As sondagens são caras? – Para quem tem dinheiro para as encomendar, não.
A quem vende as sondagens? – A quem os resultados que apresento lhes agrade e melhor me pague.
Deste modo podemos concluir que há sondagens para todos os gostos. - Sim. Tenho sondagens por catálogo com preçário e possuo contactos telefónicos disponíveis a qualquer hora do dia ou da noite para satisfazer encomendas urgentes.
Porque razão na própria noite em que se publicitavam os resultados eleitorais, e se denunciava o embuste que tinham sido as sondagens, nesse mesmo momento, já nos estavam a infernizar com mais sondagens, agora referentes às legislativas? – Porque me pagaram.
As sondagens encomendadas têm objectivos político-partidários? - Nunca pergunto aos meus clientes qual o destino que pretendem dar aos produtos que lhes vendo. Sou um profissional muito discreto.
Os que foram matraqueados com os seus embustes vão estar disponíveis para acreditar nas próximas sondagens – Como não foram eles que nos pagaram esquecem rapidamente.
Portanto é tudo uma questão de dinheiro! – Claro. E não poderia ser de outro modo. É um negócio rentável, a clientela é segura e exigente mas muito restrita.
Mesmo antes da campanha pré-eleitoral dava ao BE quase 18% e a CDU não passava dos 7% confirmando-se nas unas que a diferença não foi além de um décimo. Não crê que por vezes vão longe de mais? – É meu dever agradar à clientela que me paga. Não contrario os bons clientes.
Será que as sondagens não passam de palpites como diria a minha tia e os sondadores pregoeiros pouco recomendáveis? - Não respondo a provocações.
Quando será que deixarão de lhe encomendar sondagens? – Quando vivermos em democracia.
E quando é que isso acontecerá? – Quando deixar de haver sondagens.
Estamos esclarecidos.
Honni soit qui mal y pense!
1 comentário:
Excelente!
(se me permites, um acrescento: quem encomenda as sondagens tem um objectivo previamente definido. E mesmo quando «por vezes vão longe de mais» no resultado construído e o erro é clamoroso, eles não falharam: estão a influenciar o eleitor no sentido previamente definido...)
Um abraço.
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