“O emprego depende do crescimento; o crescimento, da competitividade; a competitividade, da capacidade de suprimir empregos. Isso significa dizer: para lutar contra o desemprego, nada como despedir!”
Viviane Forrester in Uma Estranha Ditadura
Portões fechados! Nada de extraordinário para quem passa; um drama para os trabalhadores, impedidos de entrar.
Portões fechados! Liberdade acorrentada, barreiras de acesso ao futuro, milhares de famílias, prisioneiras da fomefrente ao brasão da retoma anunciada: umcadeado
Observo essa força de trabalho disposta a criar riqueza, operárias e operários, dentes cerrados, lágrimas de mágoa e cólera, frente aos portões das fábricas onde diariamente trocavam suor por pão e deixaram anos de vida e a juventude que jamais poderão recuperar.
Oiço os comentáriosinócuos do repórter, e as imagensbreves limitam-se a constatarum facto, nadamais: “fechou mais uma fábricaque transfere asua actividade para…”. Algumas lágrimas, emprimeiroplano, e porque a emoção se vende bem ao jantar, dão-se algunssegundos de visibilidade à ocorrência, não se podendo afirmar, deste modo, que tivessem ignorado o crime; de forma alguma!
Os analistasoficiais, não se ocupam de questõestão comezinhas. Parapreenchertempo e demonstrarseusdoutosconhecimentos, debitam percentagens, fabricam argumentosque justifiquem a “inviabilidade” da empresa, a necessidade de “reestruturação”; critica-se a “produtividade”, apelidando de fenómeno a rapinacadavezmaisferoz da mais-valia de que se nutrem, sem quaisquer resquícios de consciênciacívica. Fenómeno, assim o denominam como se de trovoadasouvendavais se tratasse; sonegar o pão de quemtrabalha: fenómeno!
Aos desempregados, Alguém os classificou como “exército industrial de reserva” elucidando que são “matéria humana sempre explorável e sempre disponível”. Tolices do senhor Karl Marx, porque qualquer imbecil sabe que quanto maior é o desemprego mais sobem os salários. Não é verdade? Claro!
O senhorprofessorque perora desde a couve-de-bruxelas ao buraconegro e umoutrosujeitoquecomestedisputaaudiências televisiva à mesmahoranão se disponibilizam a comentar trivialidades. Despedimentos… famílias inteiras lançadas no desemprego tornou-se banal e a banalidade é opacaparaquemusaóculos de classe, melhor: a óptica de classe desses senhoresque usufruem milhares e milhares de contosmensalmente.
Além do mais, o tempo escasseia porque há querepetirpelaenésimavez as mesmas imagens do Freeport ou do BPN ouainda a do senhorCruzque se arrastam há já de não sei quantosanos. Espremem-se os mediáticos causídicos e ouvem-se as doutas opiniões de politólogos, astrólogos e outros cómicos.
Entretanto, de olhos marejados, as imagens aparecem-me através de num nevoeiro de tristeza.
Procuro decifrar a angústia dessas mulheres e homens que, sem alternativa, vêem, assim, de chofre, questionada a própria sobrevivência. Retenho-me nos rostos, expressões que não esqueço e sou incapaz de descrever.
O trabalho gerou em nós e desenvolveu instrumentos de civilidade e cidadania, camaradagem e sociabilidade sem os quais a vida deixa de ter sentido; o despedimento é uma amputação que provoca desajustamentos familiares, rompe compromissos económicos e para os que não aguentam tamanha pressão os suicídios são frequentes.
Dezenas de trabalhadores entram diariamente no desemprego e não se pense quesãosó os empregados de escritórioou os trabalhadoresnão qualificados dos serviços de comércio, não, os especialistas das ciênciasfísicas, matemáticas e engenhariasão aos milharessemtrabalho.
Gentebem nutrida não se cansa de repetirque a partir de 2010 tudo será melhor se… a conjuntura o permitir.
1 comentário:
Pobres que acreditam nesse deus, a conjuntura. Mas quando seremos nós a decidir?
Até lá, e com esta actitude, só com a chuva já basta.
A revolução é hoje!
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