Sentado, bandeira nacional e da U.E. dando o aval indispensável ao discurso, o senhor ministro, através da TV, banhou-nos de justiça: A partir de agora (porquê só agora?), acabava-se a lavagem de dinheiro. Tal e qual! Não eram renovados mais alvarás para tão higiénica actividade.
Alertou ainda, haver somas exorbitantes que estavam a ser lavadas em bancos, seitas, casinos e noutras lavandarias de igual respeitabilidade.
Deixou um oportuno alerta: Era de desconfiar quando alguém aparecia com muito dinheiro.
Uma
Ele e a sua Joaquina que não haviam feito outra coisa em toda a sua vida: Lavar. Ele lavou barcos, lavou ruas, lavou carros, lavou tudo. Tudo o que encontrou sujo lavou, desengordurou, poliu. E a sua companheira, fez barrela, branqueou, esfregou casas, escadas, tudo. Tudo o que estava sujo, lavou. E o que é que têm hoje? Uma reforma suja, para não lhe chamar nojenta.
Mas essa de lavar dinheiro até podia servir de biscate, pensava o senhor Júlio que abandonou a sopa e foi até ao banco do jardim procurar alguém que o elucidasse sobre tão bizarra notícia.
E ia cogitando: “Isto deve estar muito mau! Os ricos a lavar... Eles que por onde passam só fazem imundice.”
E continuava sonhador: “O ministro desconfia dos bancos e das seitas é natural, ninguém sabe como conseguiram tanto dinheiro em tão pouco tempo; mas o Júlio!... O Júlio e a Joaquina todos conhecem cá no bairro. Foram sempre pessoas sérias. O senhor ministro pode confiar mais num dedo do Júlio do que em todos os banqueiros. Todos.”
E que esse dinheiro quando muda de bolso não troca de fato, ou se muda de farpela não altera o seu objectivo: Continuar do mesmo modo a espalhar o terror e a sordidez na bulimia sem limites do mais e mais, despedindo, fechando fábricas e entrando no sub mundo da especulação.
E que os senhores do dinheiro possuidores dessas respeitáveis instituições de caridade, são os “jet-set” que se pavoneiam pelas colunas sociais de mistura com ministros, proprietários sinistros e outros benquistos do poder, num mundo que o senhor Júlio nem imagina que exista.
Milhões e milhões de contos, lavados ou por lavar, continuam a entrar em circulação como de trocos se tratasse, sem que ninguém dê por eles. Ninguém?...
Não será nas grandes e galopantes fortunas que os vamos encontrar.
Claro que não!
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