quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

E agora?


Os pobres foram abençoados para que continuassem pobres.


Acabou-se! Os Pais Natal ficaram no desemprego, (este não...) os carenciados, belo eufemismo, vão aguardar um ano, caso consigam aguentar, para uma nova consoada e algumas migalhas do reveillon. Os voluntariosos voluntários mudam de cenário entregando bebidas quentes, cobertores e muito carinho, que também aquece a alma, aos sem abrigo. É o país a várias velocidades e muitos desastres. Os que não têm absolutamente nada para sobreviver, os que recuando vão tendo ainda menos do pouco que lhes resta, os que se conseguem equilibrar, os que passam ao lado da crise e a quem nada falta, e os que na obscena opulência enchem cada vez mais a burra à custo de todos os outros.
Os mídia não se cansam de propalar que somos um povo solidário, o que nos fica muito bem, mas os gestos caritativos não nos enobrecem. Faz o bem não olhes a quem, dizia a minha mãe. Pois é. E agora? Amanhã os carenciados, os desabrigados e angustiados que são aos milhões, o que lhes acontecerá? A resposta é de todos conhecida.

E os jonés, voluntários voluntariosos, depois de terem tomado os sais de frutos para facilitar a digestão adormeceram com a mesma tranquilidade do meu gato depois de ter papado o canário. Estas boas almas ronceiras, moles, disformes nunca se questionam, plasmadas que ainda se encontram na mentalidade onde se alberga o fascismo. Descarregam o seu amor ao próximo como se de uma fornicação higiénica se tratasse e que após consumada os adormece.

Pregando a fraternidade e liberdade o fascismo com vocabulário actualizado avança ante , sorrateiro pelas vielas da democracia.

Fomentam a miséria para promover a caridade publicitando gestos de amor tão caros à igreja e ao fascismo que tão bem se têm entendido.


3 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Que extraordinário texto!!!!

Esses caridosos que por aí existem cumprem a grande obrigação de ir desmobilizando as pessoas para a luta e ao mesmo tempo vão reconfortando a sua "piedosa alma".
Hoje matei a fome àquele pobrezinho!!
E os outros? Perguntam.
Esses ficam para amanhã ou depois.
Entretanto os anteriores vão morrendo.Mas lá temos o bem amado governo para criar mais pobres que permitam levar mais almas ao céu.
Estou a brincar com coisas sérias mas nesta brincadeira envolvi um imenso sentimento de repulsa.

Um beijo.

Pata Negra disse...

Qualquer dia ainda acabam a chamar à caridade uma nova forma de reciclagem!
Quantos desses "voluntariosos voluntários" não são contra as políticas sociais porque, segundo eles estimulam a preguiça e não são função do estado? Quantos desses não questionam as políticas que geram a pobreza? Ah, e depois vêm com os restos do bolo-rei que sobrou da consoada?!
Um abraço e bom natal

Olinda disse...

Aos voluntariosos voluntârios,nem lhes passa pelo formatado cêrebro,que pode haver uma sociedade sem necessidade de caridadesinha.Acreditam,piamente,na existencia da pobreza eterna.