O PCP viu chumbada pela ‘geringonça
PS/PSD/CDS’ a sua proposta de 35 horas semanais
OS JESUÍTAS
“Espécie de bolos
folhados com
recheio, em
forma de triângulo
isósceles.” (de - O Pasteleiro
e a Geometria)
Na fábrica,
devido a um
atraso na entrega
de materiais, dispensaram-na mais cedo. O almoço havia sido magro.
Estava cansada, não propriamente uma
fatiga física; sentia-se abatida, prostrada, envolta
numa preocupação que
a apertava, um mal-estar
indefinido.
Entrou na leitaria, sentou-se e pediu
uma bica para
justificar a ocupação
da mesa. Apetecia-lhe um bolo, mas preferia partilhar esse prazer logo que o filho chegasse da escola.
Tinha que
esperar ainda
duas horas por
ele e... tanto
para fazer em casa!...
Deu por
si a mexer o café e, só depois, se apercebeu que
se esquecera de o açucarar. Como
é costume dizer-se, “não
estava lá.” Não!
Procurava encontrar
solução para o resto da semana
em que
muito provavelmente não
poderia ir esperar o filho à saída da escola,
e também não
o deixaria assim ao deus-dará!
Enquanto cismava,
reparou numa travessa de jesuítas no balcão-vitrina, brilhantes,
apetecíveis. Resistiu à tentação, havia prometido a si mesma esperar pelo filho.
Entretanto, ia
tentando lembrar-se de alguém que a pudesse ajudar, mas sem resultado. O marido
trabalhava longe, estava a prazo e procurava assegurar
o emprego e também
não tinha
hora certa
de saída.
Como? Quem?!
Invadia-a uma grande
debilidade, sentiu-se desfalecer. Pensou que fosse fraqueza.
Voltou a olhar
para os jesuítas.
Porquê jesuítas?
- procurava abstrair-se da sua principal preocupação
jogando com as palavras
- Poder-lhe-iam ter chamado “loiolas”, “hipócritas” ou
“ardilosos”.
Mas a obsessão voltava cada
vez com
mais intensidade:
o horário flexível,
o filho e a impossibilidade de o acompanhar à escola
e... os jesuítas.
Na mesa
ao lado uma senhora
lamentava-se: O marido, motorista do senhor ministro, chegava a desoras a casa
porque tinha
que levar os meninos à piscina.
Uma necessidade
de respirar fundo
e um aperto
dorido no peito
sufocava-a. Pediu um copo com água sem já ser ouvida;
suores frios,
sons distantes,
um clarão
e as trevas.
De imediato,
todos se inquietaram com o episódio,
ninguém no café
deixou de manifestar a sua
preocupação, dar
os seus palpites,
chamar o 112, obrigá-la a beber
o inevitável copo
de água, lamentar
o sucedido.
De consciência tranquila, cada qual levou
para casa um episódio que relatou à sua
maneira, fazendo jus,
certamente, à participação no incidente.
Se a algumas das prestimosas criaturas, lhes
tivessem dito que
este era
um dos muitos
resultados do ‘banco de horas’, esgueirar-se-iam
cobardemente porque não
há ninguém que
se não sinta comprometida.
É muito
mais cómodo chamar
o 112 ou dar
um copo
de água, sobretudo
a alguém que
só tem sede
de justiça.
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