terça-feira, 2 de abril de 2019

Editorial de «Le Courrier» Palestina

(Protestos em Gaza, sábado 30 de março de 2019)


Editorial de «Le Courrier»
Christophe Koessler
Segunda-feira 1 de abril de 2019

Os habitantes de Gaza avivaram-nos a memória, quando este sábado, dezenas de milhares de pessoas, protestaram frente ao arame farpado israelita que os encerra no seu conclave. Um ano após, o início das manifestações da “Grande Marcha de Regresso” durante as quais 266 palestinos perderam a vida – incluindo 47 crianças – e cerca de 29.000 ficaram feridos*, a maior parte alvejada por franco-atiradores israelitas abrigados nas torres de vigia.

Um ano passado, a impunidade destes crimes é total. No dia 18 de março, um inquérito de uma comissão independente da ONU, demonstrou que estes manifestantes foram mortos, não representando ameaça de morte iminente. Em suma, o exército israelita foi considerado culpado de crimes de guerra em grande escala e até mesmo de crimes contra a humanidade, em conformidade com o direito internacional. Especialmente porque se tratou de uma atitude assumida e não actos isolados de soldados.

Quais foram as medidas de retaliação dos Estados ocidentais que se autoproclamam defensores dos direitos humanos? Sanções? Um desvincular dos acordos económicos e militares preferenciais com esse Estado? A anulação de Eurovisão em Telavive? Nada. Não mais que um nã. Silêncio total. Os militares do “exército mais moral do mundo”, como gosta de se designar, têm permissão para retomar a carnificina.

No sábado, nem as Chancelarias ocidentais, nem os meios de comunicação europeus, prestaram a mínima atenção à gigantesca mobilização pacífica do povo de Gaza. Soldados israelitas abateram quatro palestinos? «O banho de sangue foi evitado!» Lê-se nos jornais diários, comparando com os 60 mortos num só dia o ano passado. Neste caso “pelo menos, evitamos um pouco o conflito armado anunciado há algumas semanas”, afirmam. Os jornalistas europeus decretaram também, que o movimento é agora «controlado pelo Hamas», o que corrói a sua legitimidade.

No entanto a castanha vai estalar novamente. Não se mantém indefinidamente, violando o direito de guerra, o mais elementar, cerca de 2 milhões de pessoas, abafadas num espaço restrito e fechado. Sem trabalho (a metade da população ativa não tem emprego), sem água potável, sem esperança; quanto tempo o povo de Gaza terá, antes de se lançar novamente contra o muro? Quantos resistirão à tentação de fabricar roquetes artesanais, feitos de qualquer coisa, que farão chover sobre as suas cabeças, como represália, misseis israelitas?

O massacre, uma vez mais, está anunciado.

*Segundo números da Organização Mundial da Saúde, durante o período de 30 de março de 2018 a 31 de janeiro de 2019.

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