(Protestos
em Gaza, sábado 30 de março de 2019)
Editorial
de «Le Courrier»
Christophe
Koessler
Segunda-feira
1 de abril de 2019
Os
habitantes de Gaza avivaram-nos a memória, quando este sábado, dezenas de
milhares de pessoas, protestaram frente ao arame farpado israelita que os
encerra no seu conclave. Um ano após, o início das manifestações da “Grande
Marcha de Regresso” durante as quais 266 palestinos perderam a vida – incluindo
47 crianças – e cerca de 29.000 ficaram feridos*, a maior parte alvejada por
franco-atiradores israelitas abrigados nas torres de vigia.
Um
ano passado, a impunidade destes crimes é total. No dia 18 de março, um
inquérito de uma comissão independente da ONU, demonstrou que estes
manifestantes foram mortos, não representando ameaça de morte iminente. Em suma,
o exército israelita foi considerado culpado de crimes de guerra em grande
escala e até mesmo de crimes contra a humanidade, em conformidade com o direito
internacional. Especialmente porque se tratou de uma atitude assumida e não
actos isolados de soldados.
Quais
foram as medidas de retaliação dos Estados ocidentais que se autoproclamam
defensores dos direitos humanos? Sanções? Um desvincular dos acordos económicos
e militares preferenciais com esse Estado? A anulação de Eurovisão em Telavive?
Nada. Não mais que um nã. Silêncio total. Os militares do “exército mais moral
do mundo”, como gosta de se designar, têm permissão para retomar a carnificina.
No
sábado, nem as Chancelarias ocidentais, nem os meios de comunicação europeus,
prestaram a mínima atenção à gigantesca mobilização pacífica do povo de Gaza. Soldados
israelitas abateram quatro palestinos? «O banho de sangue foi evitado!» Lê-se
nos jornais diários, comparando com os 60 mortos num só dia o ano passado. Neste
caso “pelo menos, evitamos um pouco o conflito armado anunciado há algumas
semanas”, afirmam. Os jornalistas europeus decretaram também, que o movimento é
agora «controlado pelo Hamas», o que corrói a sua legitimidade.
No
entanto a castanha vai estalar novamente. Não se mantém indefinidamente,
violando o direito de guerra, o mais elementar, cerca de 2 milhões de pessoas,
abafadas num espaço restrito e fechado. Sem trabalho (a metade da população ativa
não tem emprego), sem água potável, sem esperança; quanto tempo o povo de Gaza
terá, antes de se lançar novamente contra o muro? Quantos resistirão à tentação
de fabricar roquetes artesanais, feitos de qualquer coisa, que farão chover sobre
as suas cabeças, como represália, misseis israelitas?
O
massacre, uma vez mais, está anunciado.
*Segundo
números da Organização Mundial da Saúde, durante o período de 30 de março de
2018 a 31 de janeiro de 2019.
Sem comentários:
Enviar um comentário