sábado, 18 de novembro de 2023

A guerra nos ecrãs por Fernando Buen Abad Domínguez

A guerra nos ecrãs

O "relato" banhado (proveitosamente) em sangue. Posto sobre as "mesas de redação", as armas de guerra ideológica são instrumentos cirúrgicos preparados para desfigurar a realidade cotidianamente. Cruzam-se com o álibi de "informar" sobre a "guerra" e consolam-se, sem constrangimentos, com banhos de sangue e espetáculos de cadáveres. Narram em uníssono a sua idêntica tarefa, prenhe de prazer retórico, nada escondido, que exibe vítimas ensanguentadas para levantar as bandeiras da sua moral militarista e exterminadora. Lutam "jornalisticamente" para liderar o paraíso do terror mediático, prelúdio para qualquer invasão, qualquer violação dos direitos humanos, qualquer "crime organizado". São décadas de treino num salivar hábil em gastos colossais e mortes em profusão e, os resultados civilizatórios são aterrorizantes, mas a imprensa burguesa se orgulha das suas audiências, seus ratings e seguidores... É a "livre expressão" da narrativa macabra.

Todo, o media oligárquico quer mais orçamentos e mais "aplicação da lei", todos querem mais "assessores" estrangeiros, mais aplausos monetários e mais presença militar nas ruas. Por isso criaram seu insaciável monstro mediático que, amanhã, tarde ou cedo, exibe sem controlo cenas indizíveis de barbárie e desmoralização social. Quem os trava? Quem regula e ordena o seu discurso? Quem coloca acima deste negócio macabro a saúde mental das pessoas, a integridade emocional das crianças, a saúde coletiva dos imaginários sociais?

Esta forma de "terrorismo mediático", envolta em túnicas legalistas, oscila as suas ambiguidades simbólicas entre a urgência de um "controle" efetivo e contundente contra as "rebeldias" e a tarefa ideológica burguesa que camufla, com a filantropia mercenária, a sua ofensiva do medo anestésico. Tudo são excessos de obscenidade e pornografia "noticiosa". Tudo é excesso: muitos militares, muitos operativos, muitos crimes nas televisões, nas rádios e nos jornais das oligarquias. E, ainda assim, ineficiência, incapacidade e inoperacionalidade. O crime cresce e torna-se espetáculo... tornando-se um negócio, os anunciantes apostam na profusão do sangue.

"Censura!", gritam as oligarquias mediáticas toda vez que alguém exige medidas jurídicas, culturais ou políticas para democratizar os media e travar seus abusos. Violação da "liberdade de expressão" proclamam os empresários burgueses dos mass media, cada vez que se exige que cumpram com a sua "responsabilidade social" e cessem a ofensiva patológica contra as sensibilidades dos destinatários. "Assédio", protestam os lebreiros da "informação" cada vez que alguém se recusa a permanecer escravo ou refém de sua demagogia "jornalística". Os delinquentes da cultura capitalista de massas, munidos de câmaras e microfones, fazem-se passar por vítimas sempre que o cansaço e o nojo social se transformam em denúncia contra os latifúndios de impunidade. Não deixaremos de insistir.

Acontece que as vítimas agora exigem mais repressão. Depois de décadas ensaiando sua fórmula macabra de exibicionismo criminoso, os meios de comunicação de massa deixaram estragos assustadores e feridas ideológicas, às vezes invisíveis, para quem as sofre. É impossível ficar indiferente. Os efeitos da "necrocultura" bélica são realmente preocupantes, enquanto a burguesia dos meios de comunicação de massa lucra de forma chantagista com o medo subjacente; Tal lucro é um sintoma visível da decomposição capitalista na cabeça das vítimas. E, para completar, o sistema idolatra criminosos disfarçados de empresários e bilionários sob aplausos das vítimas. Capitalismo sangrento que obriga a população a conviver incontrolavelmente com a indústria de sua própria morte, a partir da sua produção, distribuição e consumo. Circo Redondo. O verdadeiro objetivo é usar os "media" para endurecer as políticas repressivas, a política de silenciar os povos, intimidá-los e torná-los a primeira e última causa de novos investimentos para militarizar os países. Endurecer a repressão contra o movimento camponês e operário. E que todos aplaudam, agradecidos.


Os que rarefizeram o território da "informação" são as catedrais do oportunismo para se infiltrar no horror nas lutas sociais, para injetar o veneno da desorganização que reduziu o conceito de alienação informacional a um puro problema de consciência individual, para apagar do mapa a consciência de classe. Exageram o seu "amor" pela verdade de classe e pela metodologia do "equilíbrio" para disfarçar o egocentrismo de mercado que financia as virtudes do intelecto jornalístico ao intelecto das armas. E tudo para nos convencer de que a justiça ou a igualdade no mundo é impossível, que a matéria-prima e a mão de obra são inegociáveis, e que o importante é que se acredite no que a imprensa burguesa diz, independentemente dos fatos, da realidade ou da verdade. É o desenvolvimento dos traficantes do subjetivismo camuflado com uma epistemologia bélica que esconde o pensamento real da burguesia e o camufla com acontecimentos e opiniões puramente subjetivas. Que reduzem a informação a catálogos de opiniões abstratas. Relativismo furioso e macabro nas primeiras páginas.

FERNANDO BUEN ABAD DOMÍNGUEZ


 

1 comentário:

Olinda Peixoto disse...

Extraordinária reflexão de Buen Abad Dominguez.Abraço