Gaza está
transformada na realidade dantesca de múltiplas Guernicas
O
risco de alastramento da guerra no Médio Oriente, fruto da acção genocida
do Estado sionista de Israel na Palestina é um dos temas em foco da
agenda internacional, na semana em que se anuncia o encontro de Biden e
Xi em São Francisco, à margem da Cimeira da APEC (Cooperação Económica
Ásia-Pacífico). Na última semana, os ministros dos Negócios Estrangeiros
do G7 e o alto representante da UE para a política externa, reunidos no
Japão, deram aval à continuação do massacre de Israel da população da
Faixa de Gaza, rejeitando o clamor que cresce no mundo de um cessar-fogo imediato.
Vontade
esmagadora que se reflectiu, em particular, no isolamento dos EUA e Israel
nas últimas votações na Assembleia Geral da ONU. A cobertura e apoio do
imperialismo norte-americano é fundamental para Israel continuar a
exibir a mais infame impunidade e elevar a fasquia da política criminosa
de ocupação para o nível da barbárie. Com Gaza transformada na realidade
dantesca de múltiplas Guernicas, a sanha fascista de Israel intensifica-se
também na Cisjordânia. Ao mesmo tempo, entre os crónicos cúmplices de Tel
Aviv cresce a preocupação com os danos reputacionais e cimentam-se as
suspeitas de que as sequelas políticas da actual monstruosidade poderão
ser profundas e prolongadas.
Nos
EUA, a situação adquire contornos adversos para a agenda eleitoral de
Biden e a estratégia de guerra híbrida contra a Rússia (e correlata falácia
do combate mundial entre democracias e autocracias), como peça crucial
da grande confrontação com a China, mesmo sabendo-se que Washington e o imperialismo
são o principal fautor e beneficiário da política de desestabilização
e agravamento da conflitualidade internacionais. Não há como evadir
o contexto de elevada turbulência interna e o processo em curso de reordenamento
internacional, no pano de fundo do aprofundamento da crise do capitalismo
e declínio económico dos EUA.
Há
um ano, o responsável do Comando Estratégico do Pentágono dizia que a
crise da guerra na Ucrânia era apenas o «aquecimento» e alvitrava que «a
grande [crise] está a chegar». Referia-se à China. Lembre-se que a doutrina
de segurança dos EUA, adoptada por Biden, aponta a Rússia e a China, respectivamente,
como ameaça imediata e um desafio existencial – o único país com «intenção
de remodelar a ordem internacional». Washington prossegue a preparação
da etapa pós-aquecimento. Um relatório do Congresso do último mês marca o
passo para o quadro estratégico da próxima década, em que os EUA e aliados
deverão estar preparados, pela primeira vez, para «deter e derrotar» duas
potências nucleares em simultâneo, a Rússia e a China. Deste lado do
Atlântico, a Alemanha, não obstante as perdas económicas do alinhamento
com os EUA na guerra contra a Rússia na Ucrânia, libertou 100 mil milhões de
euros para a aquisição de novas armas que o ministro da Defesa, Pistorius,
diz destinarem-se a preparar o exército para as «futuras guerras». Contra
quem?
Guterres
tem razão quando, referindo-se ao «pesadelo de Gaza», fala de uma crise de
humanidade. Mas o seu quadro é mais abrangente e exige clareza na identificação
das suas raízes e forças motrizes e coerência na luta que urge travar para
evitar a queda no abismo.
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