quarta-feira, 6 de maio de 2009

Aqui d'El Rei


ARTE DE FURTAR

CAPITULO XXX

Conselhos bons são muito bons de dar, mas muito maus de tomar: muitos os dão, e poucos os tomam. Conselhos maus têm duas raízes: ou nascem do ódio, ou de ignorância: por piores tenho os primeiros; porque a ignorância procede da fraqueza, e o ódio resulta da malícia; e a malícia é pior inimigo que a fraqueza. (…) E com ser mau o conselho deslindado nesta forma, era muito bom para ser dinheiro pela propriedade que tem; e dissemos que muitos o dão, e poucos o tomam. Em uma coisa se parece muito o conselho com o dinheiro, e é, que ambos são muito milagrosos. Três milagres muito grandes achou um discreto no dinheiro; nãoquem não o experimente, e por serem muito ordinários, ninguém faz memória deles. Primeiro, que nunca ninguém se queixou do dinheiro, que lhe pegasse doença. Segundo, que nunca ninguém teve nojo dele. Terceiro, que nunca cheirou mal. Digo que nunca ninguém se queixou dele, que lhe pegasse doença; porque andando por mãos de quantos leprosos, sarnosos, morbogálicos, e empestados há no mundo, e passando elas para as mãos dos mais mimosos fidalgos, e da mais delicada donzela, nenhuma doença sabemos, que lhes pegasse, mais que fome de lhe darem mais. Donde colho que não é bom o dinheiro para pão; que se fora pão, nunca houvera de matar a fome.

Padre Manuel da Costa

Epígrafe para a arte de furtar (roubam-me Deus)

(Poema de Jorge de Sena

interpretado por Zeca Afonso)

Roubam-me
Deus
Outros o diabo
Quem cantarei

Roubam-me a
Pátria
e a
humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei

Semprequem roube
Quem eu deseje
E de
mim mesmo
Todos me roubam

Quem cantarei
Quem cantarei

Roubam-me
Deus
Outros o diabo
Quem cantarei

Roubam-me a
Pátria
e a
humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei

Roubam-me a
voz
quando me calo
ou o silêncio
mesmo se falo

Aqui d'El Rei.

1 comentário:

Fernando Samuel disse...

Eis uma arte em franco desenvolvimento...

Um abraço.