sexta-feira, 11 de junho de 2010

Eugénio de Andrade - não esquecemos o homem e o poeta

Não esqueceremos o homem e o poeta
Eugénio de Andrade
(19 de Janeiro de 1923 - 13 de Junho de 2005)



As palavras
 
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
 
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
 
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
 
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
 
                   Eugénio de Andrade



"a Vasco Gonçalves

Nesses
dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da
cal a crispação da sombra caminha devagar.
De
tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram
ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a
terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esses eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias lábios, tudo ardia."

Eugénio de Andrade,


 
 É urgente o amor
 
 
É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.
 
É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
 
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
 
Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor, 
É urgente permanecer.
 
                    Eugénio de Andrade
 


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2 comentários:

Fernando Samuel disse...

Maldito mês de Junho de 2005.
Um abraço.

cid simoes disse...

Perdi o comentário feito pelo Fernando Samuel. As minhas desculpas.