“A interrogação sobre o envelhecimento, é uma interrogação sobre os limites do Homem e a sua liberdade”
Naissance de la Vieillesse – Claude Olievenstein
Na fachada de um prédio onde se reúnem alguns idosos, pode ler-se: “Pedimos desculpa por continuarmos vivos”.
A decisão de colocar o cartaz com estes dizeres surgiu após uma discussão havida durante uma sessão de convívio, quando atónitos leram num vespertino as preocupações de um governante pelo facto de termos tantos idosos e das dificuldades financeiras em suportar tamanho fardo.
Em alguns dos presentes, muito naturalmente, instalou-se um sentimento de culpa e grande desconforto por continuarem vivos, e esse ferrete que constantemente os caustica e marginaliza surge, unicamente, por não usufruírem de fortuna pessoal
Porque a questão não reside na idade, mas na classe a que se pertence desde o berço à cova: “a rica teve um menino, a pobre pariu um moço”, “o pobre é enterrado o rico vai o jazigo”.
O socialmente desafogado nunca foi um peso para a sociedade, só o pobre é um estorvo.
Desde os medicamentos à mortalha, tudo é contabilizado ao reformado desafortunado. Contabilidade de classe, hipócrita, venenosa.
O que devemos contabilizar é o por quanto ficou aos pobres os que hoje os contabilizam; quem lhes pagou com trabalho árduo e salários de miséria, exploração acima de todos os limites, os estudos que fizeram, os cuidados de saúde que tiveram, os benefícios de que usufruem.
Quem lutou para que tivessem a protecção social que hoje lhes sonegam?
Por maldade ou descalabro mental, colocam tudo às avessas esse burrocratas que usam gel no bestunto para se distinguirem dos asnos, estes últimos, infelizmente, em via de extinção.
Há como que um sentimento de inveja e de rejeição perante o idoso. Inveja porque receiam não atingir a sua idade e repúdio porque deixou de produzir. “Paradoxo dos tempos modernos: a ciência faz recuar todos os dias a morte; os discursos de compaixão para com os velhos fazem parte da nossa liturgia quotidiana”. Assim se expressa Viviane Forrester in “Uma estranha ditadura”.
Contabilizando e dificultando o direito aos cuidados médicos estes ultraliberais que condenam a eutanásia em casos extremos, praticam-na, diariamente, com a frieza própria dos assassinos em série.
No passado dia 14/7 o ministro das Finanças Vitor Gaspar anunciou um imposto extraordinário sobre salários e pensões. Mais uma volta no garrote.
Os Mercados agradecem, os idosos definham e a canalha resplandece.
1 comentário:
Os idosos são-lhes muito úteis é nos dias de eleições...
Um abraço.
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