quinta-feira, 5 de março de 2015

OS MENTIROSOS COMPULSIVOS



OS MENTIROSOS COMPULSIVOS


“Rebolar no lodo não é, com certeza, a melhor maneira de alguém se lavar”
Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley



Foi um alívio. Tinha que haver uma causa. Não era possível que se mentisse tanto e tão frequentemente só pelo simples prazer de enganar os que iludir se deixam.

Há pois uma causa, uma fortíssima razão para que os mentirosos compulsivos se comportem como tal, para sua salvaguarda e nosso desespero. Essa pobre gente tem ao nível do cérebro diferenças estruturais que justificam o seu comum comportamento.

O detetor de mentiras, além de ultrapassado, não nos dá a razão pela qual se mente; o polígrafo não é uma arma contra a patranha, não determina se o paciente é ou não estruturalmente um mentiroso, limita-se unicamente a descobrir se, em determinadas circunstâncias, se foge ou não à verdade.

Podemos colocar os mentirosos em vários patamares: os que usam a mentira piedosa que mitiga o sofrimento; aqueles que empregam a mentirola inócua que, por vezes, nos diverte; ainda os que utilizam a peta defensiva, tão comum às crianças e aos fracos; e finalmente “o mentiroso compulsivo” que não consegue expressar-se sem faltar à verdade, como se de necessidade física se tratasse, e sentindo também nesse seu comportamento um tão grande bem-estar, uma tamanha autossatisfação que sem a mentira perderia o equilíbrio psíquico.

É sobre este último grupo que a ciência se debruça com afã, procurando as bases neurológicas do seu comportamento, enquanto que os serviços de recrutamento para pastas ministeriais e as centrais de manipulação dos media os disputam para os colocar ao seu serviço.

Os neurologistas da Universidade da Califórnia do Sul constataram que os mentirosos patológicos têm mais cerca de 20 por cento de matéria branca, em relação à massa cinzenta, o que lhes dá mais rapidez e maior complexidade de raciocínio; assim sendo, não nos espanta que estes indivíduos tenham o futuro assegurado em qualquer executivo governamental.



Tinha que haver uma razão, não era possível que essas pessoas, aparentemente normais, não sofressem de uma qualquer deformação, dado que uma vez chegados à governação ou governança negassem com total desplante tudo o que haviam defendido, repudiando o que então tinham prometido com o maior dos à-vontades e a mais desavergonhada desfaçatez.

Essa “massa branca” que lhes invadiu a matéria cinzenta coloca-nos algumas questões, intriga-nos em suma. Que tipo de bechamel é esse que condiciona o carácter dessa gente? Que percentagem de mordomias, lugares altamente remunerados e tudo o mais que a ganância pode imaginar esse bechamel poderá conter?

Felizmente que a ciência os justifica sugerindo ainda que se as suas conclusões não forem totalmente fiáveis, há ainda a possibilidade de haver uma predisposição inata para a mentira, ou seja, pode-se nascer mentiroso.

O paradoxo de Epiménides, ou paradoxo do mentiroso, é uma constante no palco político do nosso burgo; e para quem possa ainda albergar qualquer dúvida repare nos candidatos que ora se apresentam, negando ou ocultando, o que é um modo encoberto de mentir, toda a sua participação nas leis que nos constrangem e nas práticas que nos têm ferido.

A mentira compulsiva pode ser o indício de um transtorno, uma desordem crónica de comportamento ou ainda uma predisposição neurológica inata para a mentira.

Com um pseudólogo, mentiroso compulsivo, não é possível argumentar, a aldrabice, o embuste, a falsidade, a mentira em suma é das mais insidiosas armas de dominação e os ingénuos as suas principais vítimas.

Compreende-se: o mentiroso compulsivo não tem sentimento de culpa.

Somos nós os culpados!

1 comentário:

Pata Negra disse...

Sinceramente, evitado dizê-lo, porque o sou sempre, confesso que já menti. Não desta vez. Gostei. Ou gosto. Mas não, sinceramente, aquele "gosto" fácil feicebuquiano.
Um abraço mentiroso... porque não se dá uma abraço sem os braços