quarta-feira, 3 de julho de 2019

Jornalismo vertical

Editorial 
Terça-feira, 2 de julho de 2019  por Benito Perez

Não se enganar com o Estado brigão

EUA / Irão

O Irão passou à ação. Há mais de um ano submetido a sanções económicas tão radicais quão ilegais por parte dos Estados-Unidos, a República islâmica não se sente mais vinculada ao acordo sobre o nuclear que assinou em 2015 com a União Europeia e os membros permanentes do Conselho de Segurança. Abandonada por uma Europa incapaz de manter as suas empresas e comercializar o seu petróleo, Teerão enviou na segunda-feira uma mensagem sem ambiguidades: a corrida ao urânio enriquecido foi relançada.

Os falcões israelo-americanos podem-se alegrar. Os anos de negociações pela desnuclearização do Golfo Pérsico voaram em pedaços desde que Washington renegou os seus compromissos tomados por Barack Obama. Um volte-face e uma política de bastão, a que o presidente dos Estados Unidos infelizmente nos acostumou.

Fanfarrão das relações internacionais, Donald Trump - esmagado pelo bando de neoconservadores que dominam a sua administração - multiplica as decisões arbitrárias. Sanções contra a China, a Rússia, a Venezuela, Cuba, a Turquia e até o Canadá. Ameaças contra empresas europeias, o México, a Índia, etc. Os Estados Unidos limpam os pés ao direito internacional, deixando as arenas multilaterais recalcitrantes uma após a outra. Usando e abusando de seu peso militar e económico que de facto domina, sobre as redes financeiras e informacionais globais.

A tal ponto que esta nação hoje se parece melhor do que qualquer outra ao arquétipo que um dos seus funestos ex-presidentes, Ronald Reagan, certa vez designou, como sendo um Estado brigão. Liberto de todo o respeito perante a soberania de outros da sociedade internacional.

Ou pior: um "estado caïd", tão patente é a impunidade do seu comportamento. Diante de uma comunidade internacional tão cobarde quanto dividida, o chefe do bando dos EUA, hoje não tem limites para o que bem entenda. É de crer que o único guarda-fogo contra Washington, a instar à Coreia do Norte, se encontra no fundo de uma centrífugadora.

Constrição económica apertada

Há dez dias, ao apertar ainda mais o seu poder económico sobre o Irão, Donald Trump sabia que estava colocando esse país contra as cordas. Um jogo no mínimo perigoso. A menos que este seja o objetivo do jogo: empurrar o Irão para dar um pretexto à guerra. De facto, a região nunca pareceu tão perto de uma conflagração.

Europeus, russos e chineses estão mais do que nunca diante de uma escolha. Punirão o Irão por ter passado segunda-feira a linha vermelha ou finalmente se unirão diante das ameaças unilaterais e deletérias do caïd estado-unidense? A resposta europeia, em particular, depende - muito para além do futuro próximo do Golfo Pérsico - de uma certa conceção das relações entre os povos.


1 comentário:

Olinda disse...

O mundo enfrenta hoje uma ameaça que poderá ter um desfecho humanitário sem precedentes na história.Enquanto os povos não tomarem consciência que o fim da barbárie imperialista tem que passar forçosamente pelo fim do neoliberalismo e agirem no sentido de criminalizar o império para o fazer recuar na sua impunidade,este seguirá sempre na sua loucura,agindo como donos do mundo.Abraço