São roubados,
sabem por quem, e agradecem-lhes com o voto
A
corrupção é um crime com dez milhões de vítimas, mas sem culpados poderosos.
"A
corrupção é o lubrificante das engrenagens entre os interesses privados e os
poderes públicos." A definição de Euclides Dâmaso, antigo procurador-geral
distrital de Coimbra, ilustra o peso de um fenómeno social que leva ao
"enfraquecimento do Estado de Direito e facilita a atuação do crime
organizado", tão lesivo que a comunidade internacional acabará por
classificá-lo como "crime contra a humanidade".
De “A corrupção em Portugal de
A a Z por Francisco Teixeira da Mota”27 de Setembro de 2019 Público
O livro Corrupção
– Breve história de um crime que nunca existiu, do jornalista Eduardo
Dâmaso, dá-nos uma radiografia que chega a ser dolorosa.
“Contam-se pelos dedos de uma mão as situações em
que a justiça foi eficaz com pessoas influentes, no sistema político ou nos
negócios. A corrupção é um crime com dez milhões de vítimas em Portugal, mas
sem culpados poderosos. É um crime invisível que, no limite de alguns discursos
públicos sobre a matéria, nunca existiu verdadeiramente, pelo menos ao nível do
poder de Estado. Nada mais enganador!”
“Glossário dos casos que foram
abalando o regime que tem como primeira entrada
“Aviões Airbus”, a que se segue “BPN” e termina com “Portucale”, sendo a
penúltima entrada “Operação Furacão”.
Para o autor do livro, são cinco as “expressões
mágicas” para compreender a corrupção no nosso país: “fundos
comunitários, perdões fiscais, facturas falsas, obras públicas e prescrições
judiciais”. É certo que é uma radiografia, às vezes, dolorosa: “(Durante
três décadas) funcionava assim: faziam-se buscas para recolher informação, a
documentação amontoava-se e os processos ficavam parados, por vezes uma década,
na fase da investigação, acabando por prescrever. A Polícia Judiciária e o
Ministério Público não dispunham de meios técnicos nem humanos, nem de leis
apropriadas, e limitavam-se a desenvolver uma linha de investigação
arqueológica, uma autópsia judicial.”
“O comportamento político de
Portas na negociação dos submarinos é fortemente criticado no despacho de arquivamento do Ministério Público.
Nomeadamente, a questão do preço, que, tendo sido decidido em Conselho de
Ministros, não era final. E que, não sendo final, tinha o tal mecanismo
contratual que previa uma actualização diária”; ou “No processo Face Oculta,
ficou igualmente bem vincada para a história a já referida omissão da Justiça
aos níveis mais elevados. Uma omissão que tem a assinatura do então
procurador-geral da República, Pinto Monteiro, do presidente do Supremo
Tribunal de Justiça, Noronha Nascimento. Pelo punho destes dois magistrados foi
impedida, pura e simplesmente, a investigação do negócio PT/TVI, pelo qual passava a compra da TVI e
o controlo da esmagadora maioria dos títulos da imprensa português. Sócrates
queria ter tudo na mão”.
“O
BPN foi, também, o primeiro símbolo trágico da incapacidade de o Banco de
Portugal de fazer uma verdadeira supervisão bancária que, pela fiscalização
preventiva, evitasse desastres maiores, como os que vieram a verificar-se mais tarde com o BES e
quase todo o sistema financeiro”; ou, mais à frente, “quando Joe Berardo vai a uma comissão de inquérito do Parlamento
gozar com os deputados e dizer que não tem dívidas (...), isso
não é um episódio caricato. Berardo sabe que pode dizer o que quiser. O seu
seguro de vida está nos segredos na cumplicidade, no que conhece sobre todos os
outros – políticos, banqueiros, empresários – com quem partilhou a estratégia
de ataque à Cimpor, à PT e, em particular, ao BCP, que deu início ao maior
ciclo de politização da banca portuguesa de sempre, entre 2005 e 2011. Isso
chama-se o poder da chantagem”.
Por último, nesta obra, cuja leitura
naturalmente se recomenda, a aversão dos portugueses às maiorias absolutas
encontra aqui uma explicação simples: “As maiorias absolutas de Cavaco Silva
e de José Sócrates (...) são mesmo casos brutais, no que comportam de evidência
sobre formas delinquentes de gestão do poder político.”
1 comentário:
Masoquistas?Não,são antes cúmplices,são desonestos também.Muitos dizem:"Se fosse eu fazia a mesma coisa".São os que defendem que os políticos são todos iguais.Abraço
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