terça-feira, 26 de julho de 2011

"espigas pretas"

Monumento de castanheiras em homenagem aos trabalhadores rurais brasileiros mortos na luta pela Reforma Agrária

No Brasil o 25 de Julho é “Dia do Trabalhador Rural e do Escritor

Coincidência ou não a junção é perfeita.

Chego atrasado mas venho a tempo. A solidariedade é intemporal.

Os Sem Terra (MST) no Brasil continuam a escrever com sangue a sua história.

No Alentejo o Trabalhador Rural, os “Levantado do Chão” enfrentaram desde sempre a repressão antes e depois do 25 de Abril que construíram com as próprias vidas.

E os Escritores no Brasil e em Portugal, exceptuando os ideologicamente comprometidos, onde se encontram?


José Caravela e António Maria Casquinha,

Escoural, assassinados por lutar contra a fome!


Aqui

Nesta planície de sol suado
Dois homens desafiaram a morte, cara a cara,
em defesa do seu gado
de cornos e tetas.
Aqui onde
agora vejo crescer uma seara
de espigas pretas

Quando os dois camponeses desceram às covas,
Ante os punhos cerrados de todos nós,
Chorei!
Sim, chorei,
Sentindo nos olhos a voz
do que há de mais profundo
nas raízes dos homens e das flores
a correrem-me em lágrimas na face.
Chorei pelos mortos e pelos matadores
- almas de frio fundo.
Digam-me lá:
Para que serviria ser poeta
Se não chorasse
Publicamente
Diante do mundo?

José Gomes Ferreira

3 comentários:

Fernando Samuel disse...

Grande post!

Um abraço.

Sérgio Ribeiro disse...

Grande abraço!

Graciete Rietsch disse...

Grande poema, grande "post", grande amargura .E esses assassinatos aconteceram depois do 25 de Abril, assim como o dos dois operários, no Porto, no 1º de maio de 1982.

Um beijo.