quarta-feira, 21 de junho de 2017

Malhar em ferro frio



1º CARRO DE INCÊNDIO CONSTRUÍDO NA OFICINA DO CMDT. ANDRÉ SENOS
QUADRO DE BOMBEIROS

Sem termos varinha de condão nem soluções miraculosas, podemos no entanto aferir facilmente, que tudo o que se encontra ao abandono se degrada. Ao tirar às populações do interior os meios sociais e económicos de sobrevivência, porque a sua atividade deixou de ser rendível na ótica capitalista, onde as pessoas são meros peões dos seus interesses, as aldeias morrem, a nossa cultura esvai-se o fogo apodera-se de tudo.

É uma evidência!

Qual a solução? Inverter as soluções políticas que se têm tomado até agora, e quanto mais tarde o fizermos mais difícil se tornarão.

Com os meios hoje à nossa disposição, não há terra que não dê pão para alimentar quem nela trabalha, desde que lhes sejam criadas condições para o semear e comercializar e que o esforço desse seu suor seja socialmente repartido, tudo isto sem demagogias nem paternalismos.

A solução é política e não só burocrática ou técnica, podem colocar um bombeiro atrás de cada eucalipto, gastar milhões em helicópteros, sem gente a viver dignamente nessas terras, não haverá solução HUMANA.

É claro que incêndios sempre houve embora não fossem mediatizados como hoje, o fascismo não autorizava notícias de desgraças, mas os acontecimentos chegavam até nós porque a população urbana tinha na sua quase totalidade raízes na província.

É possível ir ao início do século passado e saber qual a densidade populacional das zonas hoje mais flageladas pelos fogos, equacionar inclusive a diferença abismal dos meios de combate aos incêndios nessa época e os de agora, para nos apercebermos que se os fogos de então tivessem a dimensão dos de hoje, já não haveria mais nada para arder.
Em 1935, os Bombeiros Voluntários de Peniche já possuíam três carros de braçal, que se distinguiam por “bomba braçal com depósito para água” (caldeira), “carro escada’ e “material diverso
Extinto o vulcão preparam-se as bigorna para continuar a malhar em ferro frio, os media vão novamente explorar o filão, os cronistas tiram do baú escritos a que modificarão a data, porque não terão nada de novo para nos dizer. Os fotógrafos farão belas fotografias – o belo horrível – é a sua profissão, e alguns repórteres da TV farão selfies com os cadáveres.

Mas… sempre, sempre atentos aos mercados onde diariamente é cremado em holocausto o nosso futuro.

1 comentário:

Olinda disse...

Assim é,realmente!Ao caírem as primeiras chuvas de Outono,esquece-se toda a tragédia,e até para o ano que vem.O orçamento não tem verba cabimentada para zonas desérticas,além disso,desestabiliza o défice e a UE pode vir com repreensões.Pergunto,quantos mortos serão necessários para os governos,que deveriam ser responsáveis,agirem correctamente?Abraço