O pensador e o "Prémio Pessoa".

O Pensador é uma das mais belas estatuetas angolana de origem tchokwe.

O pensador

Os pensadores pensam, pensam, esgotam-se a pensar, e quando aliviados puxam o autoclismo.

O "Prémio Pessoa" este ano foi atribuído a um pensador!

E o que faz um pensador? Obviamente, pensa!

O pensador premiado tem pensado o país. Onde quer que chegue estendem-lhe a passadeira rosa ou laranja, e uma plateia de acéfalos (se o denominam de pensador o que serão os outros?) boquiabertos, bebem o seu requentado pensamento.

Enquanto o pensador pensava o país, aqueles que o premiaram iam dinamitando a pátria renascida no 25 de Abril. Trinta e sete anos a pensar o que somos, sem se aperceber em que nos tornávamos. É certo que pensar tanto deve cansar muito, não o deixando ver ou se aperceber do que o rodeava. Só assim se compreende que não tenha visto ou vendo se acoplou aos que destruíam um sonho que se tornava realidade.

Logo em 1974, lembro-me de o ouvir na Gulbenkian em Paris, rodeado de uma plêiade de candidatos a pensadores, divagando sobre um tema que sobremaneira os preocupava: “qual o motivo porque grande parte da intelectualidade portuguesa era comunistas ou apoiava o Partido Comunista?”

Lembro-me como se fosse hoje, quando o pensador se dirigiu à assistência, e como qualquer jesuíta que se preze, anunciou: “Nós não estamos aqui para fazer anticomunismo!” E ao enunciar os seus propósitos já o estava fazendo. Seguiu-se a diarreia intelectual programada.

O pensador nunca se preocupou, se este ou aquele intelectual é ou foi de direita ou da extrema-direita, se milita no tal socialismo de rosto humano ou navega nas águas do esquerdismo. O pensador preocupou-se, sim, com os intelectuais comunistas ou os que com o Partido se confundiam.

Assim se compreende que não o tenham esquecido. Há patrões reconhecidos.