quarta-feira, 12 de setembro de 2018

ManiFesta

Roubei no fassebuke, mas sei que me absolvem.

ManiFesta

Isto já vem do tempo das cavernas, ou então não, que esses não seriam lá muito comunicativos, mas de certeza o Cícero identificava-o como um mecanismo de retórica muito replicado. Consiste em frisar que não se pretendia falar de determinada coisa, e até se guarda o papelinho do discurso no bolso, para depois se ir directo a esse exacto assunto. E eu até nem ia falar da Festa do Avante. E até nem sou das pessoas mais caucionadas para o fazer. O meu contributo é mínimo e ridículo, comparado com as centenas de pessoas que abdicam das férias, vindas de todo o país, fazem trabalhos pesados, técnicos, artísticos e complexos, eu sei lá… dormem acampados, passam frio e calor, e muitos cansaços (a verdade é que também se divertem imenso). Portanto, eu que nem ia falar da Festa do Avante, eu que nunca falhei uma, excepto as primeiras, porque não era lá muito portátil, mas se há coisa que agradeço à minha mãe foi ter-me levado consigo em criança à Festa e as memórias que guardo são tão fortes e vitais… E nem ia falar de como os estrangeiros e visitantes pela primeira vez ficam abismados com aquela festa, com os duzentos espectáculos, em 12 palcos com actuações em simultâneo, cento e tal restaurantes, peças de teatro, cinema, exposições, debates tudo isto em três dias… E de como os artistas ficam extasiados, não só com o público – o palco principal abre para uma audiência de mais de 50 mil – mas também com as excelentes condições técnicas. Ao ar livre, à-beira-Tejo… E ainda uma feira do livro, outra do disco, um espaço maravilhoso para crianças, outro para desportistas de várias modalidades… Uma segurança inexcedível, um corpo de médicos e enfermeiros que se voluntariam e são irrepreensíveis… E depois cá aparecem os tontos do costume, ou com os clichés já gastos e repisados, que repetem uns dos outros, de uns anos para os outros, como se vivessem todos fechados no mesmo centro de dia, tremelicantes de apatia e tédio, a olhar para a televisão e a resmungar desvarios, e a gente já nem liga, e até se ri, porque em todo lado há pessoas tontas que consomem preconceitos enlatados, com alguma sofreguidão. Quem lá vai, sabe. Quem não vai, sabe o que os outros querem que saiba. Só que depois há os tontos mal-intencionados. Que tentam enganar quem gosta de ser enganado, induzir e instigar e maldizer. Tentar sequer sugerir que na Festa do Avante existe censura ou qualquer tipo de comportamento segregador é de tal maneira desonesto, que a gente já não se ri assim tanto. Estamos a falar de um acontecimento único na Europa, que é para todos, velhos e novos, pessoas com gostos e interesses diferentes. Que acarinha e promove a cultura, e a alegria. É justamente isso que ela tem de tão belo e único. É uma das coisas boas que sobreviveram do 25 de Abril, é uma das coisas boas que no nosso país acontecem. É irrepetível. Nenhuma outra força política teria capacidade para fazer sequer um décimo. Por isso, agachem-se ó vítimas do vosso cinzentismo, famélicos do vosso sorumbático ressentimento.



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