quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Ditames sobre o neonazi-fascismo



Ditames sobre o neonazi-fascismo
Havia uma ética sem fronteiras

Supôs-se, não sem alguma ingenuidade, que após a Segunda Guerra Mundial se criaria, contra o nazi-fascismo, um consenso mundial tão poderoso que não seria necessário desenvolver a vigilância contra qualquer possível recrudescimento. Mas erramos de base e por subjetivismos diversos. O nazi-fascismo não se derrota apenas com "boa vontade". Nem só com discursos, nem qualquer truísmo aparente.

O campo de batalha contra o nazi-fascismo, compreende um espectro muito amplo de terrenos objetivos e subjetivos de onde nos assedia brutalmente, desde o assassinato inclemente e incluso, o genocídio… até todas as formas de ódio de classe e de “raça”; todas as formas de racismo e as intolerâncias… e todas as “supremacias”. Incluso, a “supremacia” do poder aquisitivo, da banalidade cosmética do consumismo e das verdades absolutas do sabe-tudo individualista e compulsivo.

O nazi-fascismo aprendeu a disfarçar-se de “legalidade” e “normalidade” para disfarçar no “senso comum” cotidiano, na tradição e dos costumes. Alimenta-se de todas as tradições autoritárias e de uma rede de complexos, inibições e repressões psicológicas ancestrais que atualiza – e aprofunda – segundo as conjeturas históricas. Assim, aparece-nos tanto sob a forma de modelos burocráticos de governo, como sob a forma de costumes “populares” ou tradições morais familiares. Abrange faixas de idade, sexo e de género, bem como domínios variados no campo da estética e dos lazeres.

Não fica a salvo nem a arte, nem a ciência, nem a política nem a filosofia.

Mergulhado na sua própria história, o nazi-fascismo é uma forma histérica de individualismo, atualizada pela ideologia burguesa como princípio de superioridade de classe. No nazi-fascismo, aglomeram-se todas as formas anteriores do “delírio de grandeza” e o poder expressado como petulância de iluminados ou abençoados. É um aparato de guerra ideológica para convencer a classe oprimida da sua inferioridade essencial e a sua determinação fatal ao plano da subordinação.

Tal aparelho de guerra não se contenta com reprimir salários, corpos, nem consciências. Quer convencer, quer o domínio absoluto da vontade através de princípios de auto negação e autoanulação, isto é, que o povo oprimido saiba e se resigne que é inferior em tudo e para tudo, que não tem direitos e que deve agradecer aquilo que se lhes dá: quer sejam salários miseráveis, vida miserável, educação e cultura miseráveis e a filosofia de um destino de miséria, que nem antes, nem agora nem amanhã admite alterações. Além disso, tal totalitarismo burguês da miséria deve ser produtivo, deve dar lucros e deve ser hereditário. É esse o plano da classe dominante… essa é a ideologia da classe dominante. E, nem poucas vezes, os oprimidos pensam que é a sua.

O nazi-fascismo como aparato ideológico, assumiu, a partir do século XX, formas dinamizadas pelas guerras económicas, causa de genocídios em todo o mundo. A mercadoria, na sua forma burguesa, instalou dispositivos ideológicos persuasivos (eles chamam-lhes “desenho”, “publicidade”, sedução”) empenhados em converter o poder de consumo em expressão de superioridade disfarçada de “bem-estar” e “progresso” burguês. Para eles não basta adquirir e vender objetos, é preciso comprar neles essa subjetividade que dá ao comprador a ilusão de “promoção social” cuja verdade é determinada segundo o custo e a mercadoria, o volume do consumo e da propaganda solidária do comprador transformada em promotora da ideologia que o oprime.

Tudo isto embrulhado em cores, melodias, prazeres e paixões de “provado êxito” no mercado. Não importa o dispêndio nem quanto há que mentir ou defraudar. A ideologia da classe dominante e o nazi-fascismo, como um de seus produtos preferidos, goza de absoluta impudência e impunidade. Em todas as coisas que não se podem adquirir há uma lição de superioridade e inferioridade que também está presente no que se pode adquirir. Quem concentre propriedade, sente-se superior. É um “senso comum” que habita a alma do capitalismo e no qual a mercadoria opera como transmissora de dispositivos ideológicos desenhados para garantir a sobrevivência do sistema que o produz.

Uma boa parte dos focos depressivos crónicos nas sociedades contemporâneas é a acumulação de frustrações e impotências determinadas pelo sistema de consumo burguês e suas formas de exclusão ou marginalização dos impossibilitados de comprar. É uma guerra de extermínio psicológico implantada minuto a minuto. A superioridade burguesa permite-se praticar todas as formas de desprezo (liminar e subliminar) contra a classe trabalhadora, em todos os locais onde atua e pensa. Uma classe subordinada nos salários e nos valores, é o sonho da exploração total onde o escravo colaborativo nunca protestará porque aprendeu que só os opressores sabem como “conduzir” o mundo e como “ordenar” as vidas de todos. E se, para isso, for necessário mobilizar criminosos, fraudes políticas, espancamentos e assassinatos que salvaguardem a burguesia e o seu sistema de opressão, não haverá limite para os gastos nem valor humano que os detenha. Esse é o nosso desafio.

Os povos têm que derrotar o nazi-fascismo aniquilando-o. Se alguém pensou que foi um pesadelo, hoje já extinto, engana-se. Está mais vivo que nunca porque o capitalismo o incubou e não deixou de o cultivar. Mas não se derrota nem aniquila só com “enunciados”, é necessária a organização das bases operárias-camponesas e indígenas capazes de incorporar na sua agenda de classe uma determinação de teoria e prática, em combate permanente, com ação direta sobre todos os focos objetivos e subjetivos do nazi-fascismo próximos e distantes. Não importa se tais proximidades nos parecem distantes ou as distâncias parecem próximas como resultado das manipulações ideológicas da classe opressora. O mais próximo é a comunidade organizada para a sua emancipação, ainda que a pintem muito distante e o que é aparentemente distante está na nossa cabeça como “possível” sem que se note. Assim, na Guerra Simbólica como na Guerra Económica, há que sair vitoriosos. E essa será a nossa vida.

Dr. Fernando Buen Abad Domínguez

Director del Instituto de Cultura y Comunicación
y Centro Sean MacBride
Universidad Nacional de Lanús




Trad. de CS


1 comentário:

Olinda disse...

Uma texto curto mas muito esclarecedor.Excelente.Abraço