domingo, 18 de agosto de 2019

Vidas a prazo




Antónia, mãe solteira, duplamente explorada, trabalhava para um fornecedor de mão-de-obra que vendia a sua força de trabalho ao Pingo Doce do Alexandre dos Santos. Antónia não sabia se o contrato lhe seria renovado. Antónia saia de casa às sete da manhã, deixava o filho à porta da escola e percorria cerca de cinco quilómetros até ao armazém onde trabalhava em regime de banco de horas. Naquela tarde libertou-se muito tarde, o filho esperava-a, olhos marejados saiu a correr, ao atravessar a estrada foi colhida por um camião da empresa.

O multimilionário para quem trabalhava, contribuindo para lhe consolidar a fortuna, morreu no mesmo dia.

Antónia não foi notícia, lágrimas sentidas e de aflição foram as do seu filho.

Alexandre explorou Antónia, os filhos de Alexandre guardam a fortuna, o filho de Antónia guarda saudade, ambos viveram a prazo.



2 comentários:

Olinda disse...

Duas vidas,duas mortes:Dois opostos.E ,no entanto,foram vidas bem dependentes uma da outra.Gostei do texto.Abraço

José Corvo disse...

Coitada da criança sem falar noutras condolências a da mãe especialmente.