quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Alerta máximo

Voltei antes de terminar o ano porque a canalha que se propôs governar-nos continua de mãos livres e bem armada com leis que fabricou para se governar. E sendo que dessa escória tudo se pode esperar, vou ficar de guarda para que me não roubem o Novo Ano e o vendam aos pedófilos que também continuam livres de exercer as suas naturais aberrações.

Toda a vigilância será pouca. Ajudem-nos a preservar o Novo Ano para que possamos viver com a tranquilidade que merecemos.

Depois não nos venham com as habituais lágrimas de crocodilo.



terça-feira, 24 de novembro de 2009

A situação está negra


A situação do país está negra
Não desisto mas vou dar uma volta



ou talvez me demore mais um pouco



segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A "face oculta" do nosso vocabulário - 4

Glossário (IV)

«Metaõ todos os Ministros, Cabos, e Officiais as mãos em suas consciências, e acharáõ, que tanta pena como o ladraõ merece, quem lhe dá occasiaõ semelhante para o ser

(Arte de Furtar, Capitulo XX)

Senhores escroques, onzeneiros, pichelingues, sovaqueiros e toda a malandragem que chafurda neste lameiro. Não vos vão faltar sinónimos para definir as manhas, piratices e palmanços, que são o vosso modo de ser e estar, nesta sociedade que vos acarinha. Procurei com estes cerca de 300 vocábulos diferentes, prestar-vos um serviço, de modo a que seja empregue, para cada crapulice distinta, o termo mais adequado. Desejo-vos muitas prescrições e outras benesses ao dispor de toda a pandilha que nos pilha. Este é o último glossário, tomem notas, digo, tomem apontamentos. Safa!

Dos jogos malabares, que na sociedade tanto se praticam, o gingão, muito a propósito, emprega malabar como roubar, e o malandro, que também pode ser gatuno, tem como diminutivos malandrete, malandrim ou malandrote e seus hierárquicos superiores o malandraço ou malandrão. Ao malversar, fazem-se desvios abusivos. Mamata é roubo de alto nível e marmelada negócio inescrupuloso; ladroagem vício de ser ladrão, e meliante gatuno. Barrela, que me fugiu à ordem alfabética, significa engano, logro, esparrela e comedeira que também vem fora de ordem refere-se a lucro desonesto muito próxima de exacção, malversão por abuso de poder; rapina. Em calão, mordido é o roubado. Mosco é furto em residência com chave falsa, furto audacioso, com assalto; meter a unha é extorquir, meter a mão, roubar. Ocultar é sonegar rendimentos… cometendo fraude. Onzenar é praticar usura, e onzeneiro o seu autor. Palmar é bifar; palmanço, gamar e dar a palmada tem a mesma raiz. O pandilheiro faz parte da pandilha ou quadrilha de ladrões. O pantomineiro, mestre em histórias para enganar, exerce a pantomina e, com as suas pantominices, acaba por levar à certa, com inteligência, a vítima escolhida. Para o populacho, picar é roubar, e pichelingue o larápio. Ao pifar, furta-se. Pilhar tem extremos, vai do reles pilha-galinhas à pilhagem praticada, geralmente por um grupo, de forma devastadora; mas pilha é o larápio e pilho ou pilhante o gatuno ou patife. E chegámos ao pirata, ladrão ou ladra do mar e não , sujeitos que estamos a piratices, piratada, piratar, piratagem e a todas as piratarias que se nos colam como sanguessugas, indivíduos que por meio de exacções tiram dinheiro a outrem.

Plágio ou plagiar é usurpar as ideias ou palavras de outrem, roubo literário; plagiato acção de apresentar como seu o que se copiou e o plagiador ou plagiário andam nos bicos dos pés com suor alheio. Prear é apossar-se de (alguém ou alguma coisa) ou pilhar, se a frase o consentir. Prender também pode entrar na área do suborno: suborno que se tornou num vocábulo que se traz na lapela, símbolo de sucesso, promoção social et cetera e tal. Prescrever, prescrição são as alavancas que emperram a engrenagem judicial em benefício, geralmente, dos colarinhos brancos que desviam grandes somas; manigâncias! A responsabilidade da sua inclusão neste glossário é minha, tal como privatizar cuja raiz é comum a Privar que mais não é que tirar ou despojar. Desapossar é tirar. Quadrilha é bando de malfeitores, subordinados a um chefe que por vezes até pode legisla, privatiza e forçar as prescrições. Bem entendido que o quadrilheiro é o que faz parte da quadrilha. Rapace o que rouba, que rapina, e rapacidade a inclinação para tal mister. Rapar é apropriar-se dos bens de outrem, deixando-o sem nada. Rapina roubo violento, pilhagem e rapinação roubo ardiloso; e da mesma raiz seguem rapinador, rapinagem, rapinice, rapinanço, rapinante e rapinar. Rapto também é acto de furtar e raptar pode significar tirar alguma coisa a alguém, usando a força. E não podia faltar o rato-de-sacristia, beato falso e ladrão de igrejas, vai dar ao mesmo. Se o ratoneiro é pessoa que rouba, ratonice é roubo insignificante. Na gíria, rifar é bifar. Rouba é o mesmo que roubo e roubador o que furta e, comotantos modos de roubar, defendamo-nos da roubalheira quotidiana a que estamos sujeitos. Sacomão termo em desuso que designava o salteador e saco o acto de saquear. Saca, é um elemento de composição que traduz a ideia de sacar ou tirar, daí sacar significar também tirar a alguém, em benefício próprio e contra sua vontade. A malandragem usa safar para designar os seus furtos, e os modernos dicionários incluem o termo. Saltada é roubo com assalto e salto roubo em estrada, pilhagem ou saque. Quando se diz que o país está a saque, todos compreendem, apercebem-se dos que estão a saquear e, por vezes, até conhecem o saqueador. Senhorear-se ou assenhorear-se é tornar-se, ilegitimamente, senhor de. E sonegar é deixar de mencionar, com fraude, acto corrente para suas excelências que, embolsando milhões, apresentam prejuízos. Ao sovacar, o sovaqueiro pira-se com o roubo debaixo do sovaco, sendo denominado também ladrão de fazendas. Um pobre diabo! Ao subtrair, furta-se alguém de forma escondida ou fraudulenta, termo muito próximo do surripiar ou surripilhar, com um leque alargado, que vai da surripiação ao surripiado ou surripilhado, surripianço e ainda o respectivo surripiador que comete o surripio, acto ou efeito de furtar. Tirar é desvio ou roubo, depende da classe e do montante, e tomar é apoderar-se de bens alheios. Trabalho e trancanhir é, em calão, roubo, assalto, mas trancanhir tem pinta! Tranquibérnia ou traquibérnia acto ou negócio de má . Trapaçar ou trapacear é enganar, fazer contrato fraudulento, burla ou embuste; trapacice acto do que fez a trapaça. Unhar é muito usado na “Arte de Furtar” do Padre Manuel da Rocha. Quanto a usurpação, por meio de violência ou artifício, tem como artífice o usurpador, que mais não faz que usurpar, ao adquirir fraudulentamente ou apossando-se violentamente do alheio. O vigarista burla ou engana os ingénuos ou incautos e que, ao vigarizar, faz vigarice. Na letra xis encontrei o local onde se encontram os pequenos trapaceiros que vão de cana para o xadrez, xilim ou xilindró.

FIM

Enriqueça o nosso património envie maisentradas”.

sábado, 21 de novembro de 2009

A "face oculta" do nosso vocabulário - 3

Pinto Monteiro arquiva escutas a José Sócrates


GLOSSÁRIO (III)

«Donde colho que naõ he bom o dinheiro para paõ; que se fora paõ, nunca houvera de matar a fome

Arte de Furtar, Capitulo XXX

Todos os dias, são despejadas na minha caixa do correio electrónico prendas como esta:

«Excelentíssimo Senhor,

Pretende V. Ex.ª ressuscitar termos obsoletos que nada têm a ver com o país real. V. Ex.ª ignora a realidade, é um ultrapassado que não assimila o progresso, os avanços tecnológicos, a globalização e a submissão ao Cifrão. V. Ex.ª é um dinossauro que nem sequer vai deixar pegadas na Pedreira do Galinhas.

Qual a razão porque não deixa de matraquear os que dentro desta sociedade, tal como é, usam (e por vezes abusam) dos múltiplos meios, colocados ao seu dispor, de toda uma panóplia de instrumentos, com suporte legal, com os quais conseguem, como qualquer outro ladrão, os mesmos objectivos, em cenários que o próprio Arsene Lupin jamais teria imaginado?

Supomos que essa sua doentia obsessão, por este tema, se deverá ao facto de ver muitos filmes. Não perca o seu tempo porque a realidade ultrapassa, em muito, a sua frouxa ficção.

Entretanto, e como nos pede, sugerimos-lhe alguns termos que poderá inserir no seu pseudo glossário:

«Todas as grandes burlas saíram incólumes em virtude de a justiça, durante o prazo legal, não ter exercido o seu direito de acção ou efectivado a condenação imposta.» Deste modo, a prescrição é o instrumento de maior valia para os ladranzanas de colarinho branco que, possuindo poderosas máquinas de advocacia, pagam principescamente aos que, por vezes directamente interessados, a utilizam para legalizar os seus crimes.

Tome nota: Prescrever, prescritível, prescrito. Junte ao seu glossário. E agora não se esqueça de consultar um psicanalista.

Atentamente

Associação para a Dignificação da Arte de Furtar (ADAF)»

Seguirei o conselho quando chegar ao fim deste passatempo.

A avidez do galfarro não perdoa, deita a mão ou o gadanho; gadanhar ou gadunhar são artes do gamanço dos que sabem gamar. Gatázio é grande logro e deita-se o gatázio a alguém ou a alguma coisa. Gatear é roubar o gateador é ladrão manhoso e gato, dar gato por lebre, fala-nos de logro. Gatuno é termo corrente e gatunice a sua prática; levar vida de gatuno é gatunar, tal como gatunagem é o colectivo destes meliantes. Gaturama ou gaturamo não faz mais que gaturar ou gaturrar. No Brasil, guinda é roubo com escalada, e, para nós, ao guindar rouba-se carteira e também, em calão, guindo é simplesmente roubo. Intrujão ou entrujão é o que faz intrujice e, ao intrujar, burla-se. Intrusão é usurpação, posse ilegal e violenta, acção de se apossar de um cargo, de uma dignidade… o dia-a-dia em suma.

E assim chegamos ao trivialissimo: LADRÃO! Que no feminino nos dá a ladra, ladrona ou mesmo ladroa. O ladranete é o ladrãozinho de meia-tigela; ladripar é surripiar coisa de pouco valor, trabalho do ladripo ou do desclassificado ladranete, mencionado, assim como do ladrisco, um tanto tolerado, vejam bem! Na gíria do Porto ladrilho é simplesmente gatuno. E sendo ladro ladrão, ladroar a acção e ladroagem seu vício, ou bando de ladrões, ladroado é o roubado. Defesa contra o ladroísmo eleitoral vem a propósito, é mais que ladroeira ou ladroíce, ladroísmo é um hábito, um vício dos que, ao ladroeirar, vão fazendo as suas ladroeiras. Temos, por fim, o ladranzana, ladravaz, ladravão ou ladroaço, palavrões aplicados aos grandes ladrões, não àqueles que desviam milhões, não: por uma questão de pudor, estilo ou conivência, o vocábulo não se lhes aplica. Sua excelência senhor fulano de tal ladranzana, ladravaz ou ladravão! Convenhamos que temos que encontrar outras palavras para esses crápulas. O larápio, ao larapiar ou larapinar, faz larapice; não é violento como o que, ao latrocinar, comete o latrocínio, roubo violento, mesmo à mão armada. Leilão é roubo no Dicionário de Calão. Levar, libertar e limpar vivem nas margens do jargão; faz-se limpeza ou livrar a alguém o que lhe pertence. Ao lograr pratica-se o logro a que nos sujeitam diariamente.

Ainda me faltam cerca de setenta vocábulos. Se soubesse não me tinha metido nisto, mas como sou persistente não desisto. Até ao “Glossário IV”.