Voltei antes de terminar o anoporque a canalhaque se propôs governar-nos continua de mãoslivres e bemarmadacomleisque fabricou para se governar. E sendo que dessa escóriatudo se pode esperar, vou ficar de guardaparaquemenão roubem o NovoAno e o vendam aos pedófilos quetambém continuam livres de exercer as suasnaturaisaberrações.
Toda a vigilância será pouca. Ajudem-nos a preservar o NovoAnoparaque possamos vivercom a tranquilidade que merecemos.
Depois não nos venham com as habituais lágrimas de crocodilo.
«Metaõ todos os Ministros, Cabos, e Officiais as mãosemsuasconsciências, e acharáõ, quetantapenacomo o ladraõ merece, quemlhe dá occasiaõ semelhantepara o ser.»
(Arte de Furtar, Capitulo XX)
Senhoresescroques, onzeneiros, pichelingues, sovaqueiros e toda a malandragemque chafurda neste lameiro. Nãovosvãofaltar sinónimos paradefinir as manhas, piratices e palmanços, quesão o vossomodo de ser e estar, nesta sociedadequevos acarinha. Procurei comestescerca de 300 vocábulosdiferentes, prestar-vos umserviço, de modo a que seja empregue, paracada crapulice distinta, o termomais adequado. Desejo-vos muitas prescrições e outras benesses ao dispor de toda a pandilha quenospilha. Este é o últimoglossário, tomem notas, digo, tomem apontamentos. Safa!
Dos jogos malabares, que na sociedadetanto se praticam, o gingão, muito a propósito, empregamalabarcomoroubar, e omalandro, quetambém pode sergatuno, tem comodiminutivosmalandrete, malandrimoumalandrote e seushierárquicossuperiores o malandraçooumalandrão. Aomalversar, fazem-se desvios abusivos. Mamata é roubo de altonível e marmeladanegócioinescrupuloso; ladroagemvício de serladrão, e meliantegatuno. Barrela, queme fugiu à ordemalfabética, significa engano, logro, esparrela e comedeiraquetambém vem fora de ordem refere-se a lucrodesonestomuitopróxima de exacção, malversãoporabuso de poder; rapina. Emcalão, mordido é o roubado. Mosco é furtoemresidênciacomchavefalsa, furtoaudacioso, comassalto; jámeter a unha é extorquir, meter a mão, roubar. Ocultar é sonegarrendimentos… cometendo fraude.Onzenar é praticarusura, e onzeneiro o seuautor. Palmar é bifar; palmanço, gamar e dar a palmada tem a mesmaraiz. O pandilheiro faz parte da pandilhaouquadrilha de ladrões. O pantomineiro, mestreemhistóriasparaenganar, exerce a pantomina e, com as suaspantominices, acaba porlevar à certa, cominteligência, a vítima escolhida. Para o populacho,picar é roubar, e pichelingue o larápio. Ao pifar, furta-se.Pilhar tem extremos, vai do relespilha-galinhas à pilhagem praticada, geralmenteporumgrupo, de forma devastadora; maspilha é o larápio e pilhooupilhante o gatunooupatife. E chegámos ao pirata, ladrãoouladra do mar e nãosó, sujeitosque estamos a piratices, piratada, piratar, piratagem e a todas as piratariasque se nos colam comosanguessugas, indivíduosquepormeio de exacções tiram dinheiro a outrem.
Plágioouplagiar é usurpar as ideias oupalavras de outrem, rouboliterário; plagiato acção de apresentarcomoseu o que se copiou e o plagiadorouplagiário andam nosbicos dos péscomsuoralheio. Prear é apossar-se de (alguémou alguma coisa) oupilhar, se a frase o consentir.Prendertambém pode entrar na área do suborno: subornoque se tornou num vocábuloque se traz na lapela, símbolo de sucesso, promoçãosocial et cetera e tal. Prescrever, prescriçãosão as alavancasque emperram a engrenagemjudicialembenefício, geralmente, dos colarinhosbrancosque desviamgrandessomas; manigâncias! A responsabilidade da suainclusão neste glossário é minha, talcomoprivatizarcujaraiz é comum a Privarquemaisnão é quetiraroudespojar. Desapossaré tirar. Quadrilha é bando de malfeitores, subordinados a umchefequeporvezesaté pode legisla, privatiza e forçar as prescrições. Bementendidoque o quadrilheiro é o que faz parte da quadrilha. Rapace o querouba, querapina, e rapacidade a inclinaçãoparatalmister. Rapar é apropriar-se dos bens de outrem, deixando-o semnada. Rapinarouboviolento, pilhagem e rapinaçãorouboardiloso; e da mesmaraiz seguem rapinador, rapinagem, rapinice, rapinanço, rapinante e rapinar.Raptotambém é acto de furtar e raptar pode significartirar alguma coisa a alguém, usando a força. E não podia faltar o rato-de-sacristia, beatofalso e ladrão de igrejas, vai dar ao mesmo. Se o ratoneiro é pessoaquerouba, járatonice é rouboinsignificante. Na gíria, rifar é bifar. Rouba é o mesmoqueroubo e roubador o quefurta e, como há tantosmodos de roubar, defendamo-nos daroubalheira quotidiana a que estamos sujeitos. Sacomãotermoem desuso que designava o salteador e saco o acto de saquear. Saca, é umelemento de composiçãoque traduz a ideia de sacaroutirar, daí sacarsignificartambémtirar a alguém, embenefíciopróprio e contrasuavontade. A malandragemusasafarparadesignar os seusfurtos, e os modernosdicionáriosjá incluem o termo. Saltada é roubocomassalto e saltorouboemestrada, pilhagemousaque. Quando se diz que o país está a saque, todos compreendem, apercebem-se dos que estão a saquear e, porvezes, até conhecem osaqueador. Senhorear-seouassenhorear-se é tornar-se, ilegitimamente, senhor de. E sonegar é deixar de mencionar, comfraude, acto correnteparasuasexcelênciasque, embolsando milhões, apresentam prejuízos. Ao sovacar, o sovaqueiro pira-se com o roubodebaixo do sovaco, sendo denominado tambémladrão de fazendas. Umpobrediabo! Ao subtrair, furta-se alguém de forma escondida oufraudulenta, termomuitopróximo do surripiarousurripilhar, comumleque alargado, que vai da surripiação ao surripiadoousurripilhado, surripianço e ainda o respectivosurripiadorque comete o surripio, acto ouefeito de furtar. Tirar é desvioouroubo, depende da classe e do montante, etomar é apoderar-se de bensalheios. Trabalho e trancanhir é, emcalão, roubo, assalto, mastrancanhir tem pinta! Tranquibérniaoutraquibérnia acto ounegócio de má fé. Trapaçaroutrapacear é enganar, fazercontratofraudulento, burla ouembuste; trapacice acto do que fez a trapaça. Unhar é muito usado na “Arte de Furtar” do Padre Manuel da Rocha. Quanto a usurpação, pormeio de violênciaouartifício, tem comoartífice o usurpador, quemaisnão faz queusurpar, ao adquirirfraudulentamenteou apossando-se violentamente do alheio. O vigarista burla ouengana os ingénuos ouincautos e que, ao vigarizar, faz vigarice. Na letraxissó encontrei o localonde se encontram os pequenostrapaceirosquevão de canapara o xadrez, xilimouxilindró.
FIM
Enriqueça o nosso património envie mais “entradas”.
«Donde colho que naõ he bom o dinheiropara paõ; que se fora paõ, nunca houvera de matar a fome.»
Arte de Furtar, Capitulo XXX
Todos os dias, são despejadas na minhacaixa do correio electrónico prendascomo esta:
«ExcelentíssimoSenhor,
Pretende V. Ex.ª ressuscitartermosobsoletosquenada têm a vercom o paísreal. V. Ex.ª ignora a realidade, é um ultrapassado quenão assimila o progresso, os avançostecnológicos, a globalização e a submissão ao Cifrão. V. Ex.ª é umdinossauroquenemsequer vai deixarpegadas na Pedreira do Galinhas.
Qual a razãoporquenãodeixa de matraquear os quedentro desta sociedade, talcomo é, usam (e porvezes abusam) dos múltiplosmeios, colocados ao seudispor, de toda uma panóplia de instrumentos, comsuportelegal, com os quais conseguem, comoqualqueroutroladrão, os mesmos objectivos, emcenáriosque o próprio Arsene Lupin jamais teria imaginado?
Supomos que essa suadoentiaobsessão, porestetema, se deverá ao facto de vermuitosfilmes. Nãoperca o seutempoporque a realidade ultrapassa, emmuito, a suafrouxaficção.
Entretanto, e comonos pede, sugerimos-lhe algunstermosque poderá inserir no seu pseudo glossário:
«Todas as grandes burlas saíram incólumesemvirtude de a justiça, durante o prazolegal, nãoter exercido o seudireito de acção ou efectivado a condenaçãoimposta.» Deste modo, a prescrição é o instrumento de maiorvaliapara os ladranzanasde colarinhobrancoque, possuindo poderosas máquinas de advocacia, pagam principescamente aos que, porvezes directamente interessados, a utilizam paralegalizar os seuscrimes.
Tome nota: Prescrever, prescritível, prescrito. Junte ao seuglossário. E jáagoranão se esqueça de consultarumpsicanalista.
Atentamente
Associaçãopara a Dignificação da Arte de Furtar (ADAF)»
Seguirei o conselhoquandochegar ao fim deste passatempo.
A avidez do galfarronão perdoa, deita a mãoou o gadanho;gadanharougadunharsãoartes do gamanço dos que sabem gamar. Gatázio é grandelogro e deita-se o gatázio a alguémou a alguma coisa. Gatear é roubarjá o gateador é ladrãomanhoso e gato, dargatoporlebre, fala-nos de logro. Gatuno é termocorrente e gatunice a suaprática; levarvida de gatuno é gatunar,talcomogatunagem é o colectivo destes meliantes. Gaturamaougaturamonão faz maisquegaturarougaturrar. No Brasil, guinda é roubocomescalada, e, paranós, ao guindar rouba-se carteira e também, emcalão, guindo é simplesmenteroubo. Intrujãoouentrujão é o que faz intrujice e, ao intrujar, burla-se. Intrusão é usurpação, posseilegal e violenta, acção de se apossar de umcargo, de uma dignidade… o dia-a-diaemsuma.
E assim chegamos ao trivialissimo: LADRÃO!Que no femininonos dá a ladra, ladronaoumesmoladroa. O ladranete é o ladrãozinho de meia-tigela; ladripar é surripiarcoisa de poucovalor, trabalho do ladripoou do desclassificadoladranete, já mencionado, assimcomo do ladrisco, umtanto tolerado, vejam bem! Na gíria do Portoladrilho é simplesmentegatuno. E sendo ladroladrão, ladroar a acção e ladroagemseuvício, oubando de ladrões, ladroado é o roubado. Defesacontra o ladroísmoeleitoral vem a propósito, é maisqueladroeiraouladroíce, ladroísmo é umhábito, umvício dos que, ao ladroeirar,vão fazendo as suasladroeiras. Temos, porfim, o ladranzana, ladravaz, ladravãoouladroaço,palavrões aplicados aos grandesladrões, nãoàquelesque desviam milhões, não: por uma questão de pudor, estiloouconivência, o vocábulonão se lhes aplica. Suaexcelênciasenhorfulano de tal ladranzana, ladravaz ou ladravão! Convenhamos que temos queencontrar outras palavrasparaessescrápulas. O larápio, ao larapiaroularapinar, faz larapice; não é violentocomo o que, ao latrocinar, comete o latrocínio,rouboviolento, mesmo à mãoarmada. Leilãoé roubo no Dicionário de Calão. Levar, libertar e limpar vivem nas margens do jargão; faz-se limpezaoulivrar a alguém o quelhepertence. Ao lograr pratica-se o logro a quenos sujeitam diariamente.
Aindame faltam cerca de setenta vocábulos. Se soubesse nãometinhametido nisto, mascomo sou persistentenão desisto. Até ao “Glossário IV”.