quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A Temer e à sua corja




ALMA DE CÔRNO

Alma de côrno – isto é, dura como isso;
Cara que nem servia para rabo;
Idéas e intenções taes que o diabo
As recusou a ter a seu serviço –

Ó lama feita vida! ó trampa em viço!
Se é p’ra ti todo o insulto cheira a gabo
– Ó do Hindustão da sordidez nababo!
Universal e essencial enguiço!

De ti se suja a imaginação
Ao querer descrever-te em verso. Tu
Fazes dôr de barriga á inspiração.

Quér faças bem ou mal, hyper-sabujo,
Tu fazes sempre mal. És como um cú,
Que ainda que esteja limpo é sempre sujo.

 Fernando Pessoa
Nota: reprodução do poema respeitando a grafia original do fac-símile.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Náufragos do Império - Domingos Lobo


Não se pode morar
nos olhos de um gato
,
de Ana Margarida de Carvalho
Após a estreia auspiciosa com o romance Que Importa a Fúria do Mar, (Prémio de Romance e Novela APE/DGLAB em 2013), Ana Margarida de Carvalho, investindo, de modo poderoso e inovador, nas questões fracturantes da nossa História comum, regressa com um texto de absoluto fascínio, ao qual nos rendemos, sobressaltados e incrédulos, da primeira à última página.
Em Não se pode morar nos olhos de um gato, título retirado de um poema de Alexandre O’Neill, a palavra, este português soberbo, a um tempo solar e cáustico, que andava arredio da nossa literatura desde Aquilino, Torga, Saramago, Maria Velho da Costa, que se passeia ufano, no Capítulo Primeiro, por Gil Vicente, é a protagonista principal deste romance que viaja pelo mais obscuro e silente da nossa condição em conjunções de abismo, de caverna, de esconjuros. Que percorre esse corpo escuso das palavras como se novas, retiradas do chão pela raiz, palavras que, dilaceradas como costas de escravos, transportam ressonâncias de búzio, fístulas, sal, a água pútrida dos porões dos navios negreiros, pus e sangue, um olho redondo, atento e desesperado de baleia, os medos e as marcas dos chicotes do tempo; as palavras que servem, no seu esplendor de abóbada gótica, uma missa negra, lírica e grotesca, a que preside, com o terror do silêncio e da ausência (Não são os deuses que dormem, nós é que os sonhamos, pág. 229), Nossa Senhora das Angústias, santa saída de tronco tosco, já pau carunchoso, careca de ver tanto mundo, ultrajes e naufrágios, nua como ao mundo vêm os homens; ritual de coro de açodados, escravos ou não dado que irmanados na mesma angústia, Nossa Senhora da dita nos valha, carregando os mesmos fantasmas, vinho áspero e azedo, difícil de tragar tal como a alcatra de cavalo, ou raia podre, tudo a fome abarca mesmo que a boca rebente de aftas e de larvas e as pernas se dilacerem no gume das pedras; náufragos expostos aos clamores do tempo, que vivem dias de estupor e de absurdo (E se já vão mortos porque temem o naufrágio, pág. 9), que perdem os andrajos e os modos, o colo que nunca tiveram, que se organizam para sobreviver frente ao mar imenso, numa praia exígua que só lhes deixa espaço respirável nas horas da vazante, atirados para uma gruta à má-fila como nos pesadelos, corpo em bolandas sob o olhar parado, perturbador, de uma santa já sem pernas, nem atavios conformes, mas com a madeira que lhe resta aguçada o bastante para levar de vencida o capataz, o mesmo que rasgava a pele dos escravos a vergastadas de ódio e de soberba, e tinha olhos de render as mulheres aos seus caprichos de macho. A morrer na praia, tão perto do paraíso possível. Coisas do Demo, de pesadelos nossos, que não dos sonhos.
Não se pode morar nos olhos de um gato, de Ana Margarida de Carvalho, é um romance invulgar, escrito numa língua que só a autora sabe reinventar deste modo fulgente, no regresso a um adjectivar barroco da melhor extracção simbólica e metafórica; língua que serve uma poética de sombras e de nudez, de cobiça e de sórdidos arroubos; que se detém nos olhos de um menino negro, deslumbrado com o mundo; que percorre com hábil sageza, atenta aos detalhes de poroso território, um parto que dura toda uma noite e todas as vagas da maré (o parto é um dos momentos mais altos deste apodíctico discurso), que expressa o fundo insensato das almas abismadas e da abjecção contumaz; que se levanta do cerco das redundâncias e age sobre o novo e se vê perplexa perante os prodígios da semântica.
Percorramos, em voo de pássaro, o conteúdo principal deste romance. Estamos em finais do século XIX, após a abolição total da escravatura (25 de Fevereiro de 1869). Um tumbeiro clandestino, navio dos mortos lhe chamavam, naufraga ao largo do Brasil. Um grupo de náufragos consegue chegar a uma praia onde era possível estar vivo em sucedâneos, em calhando sim, em calhando não, ao capricho das marés. Nesse espaço escasso irá conviver um grupo heterogéneo: um capataz, um escravo, um mísero criado/criada, um padre, um estudante, uma fidalga e sua filha, um menino preto. Credos, classes, tons de pele e diversos conhecimentos do mundo. Todos com os seus fantasmas a arreata, com os seus medos, seus lanhos abertos. Náufragos dos sonhos derradeiros do Império, sua lama, com seus alicerces de ódio a derribar numa confusa identidade. Todos com vidas desfeitas, presos a uma corda improvável que os há-de, ou não, resgatar ( E se já vão mortos porque temem o naufrágio?) e levar a outro chão, outro lugar em que seja possível recomeçar de novo. Mas recomeçar o quê, se já vão mortos ou, respirando ainda, levam acrescida uma carga de cadáveres, de pavores, tão pesada que os assombros da noite, os uivos do mar, porque o mar quando destrói é sempre à dentada, como os lobos pág. 234, ou os preconceitos (religiosos, de origem, de classe), a fome, as condições-limite da sobrevivência, os dias do medo, não ousaram esconjurar, mesmo quando À noite, embrulhados uns nos outros, todos se sentiram irmanados, por terem, novamente, o mesmo cheiro, pág. 238, que não a mesma pele, a mesma memória, as mesmas feridas.
Não basta enganar a morte a tratos de polé, é preciso chegar a novo porto enxuto, com todos os fantasmas ressurrectos enterrados em terra funda. Impossível jornada, improvável redenção. Eles, os náufragos, e nós que em terra firme sabemos dos sadismos monásticos, do cepo, das costas esquartejadas a golpes de chicote, Em tempos de atrocidade, todos estavam secos de perdão, pág. 301.
Ninguém sai inocente deste exercício de cruel memória, não se sai dele ileso. Osso duro de roer, este romance que desce ao cerne do humano que somos, que nos questiona, que nos olha de frente e nos acusa por andarmos tanto tempo distraídos, a morar nos olhos de um gato, sabendo que ao nosso lado o sórdido habita, a vergonha cresce, a usura estrangula na glote os gritos de revolta. Que não vencemos a morte e nos perdemos na vida a sonhar deuses que dormem num céu de crueldade e indiferença. Os remorsos destes náufragos de Ana Margarida de Carvalho, são os nossos remorsos, os nossos fantasmas, enquanto não soubermos ultrapassar os medos, os preconceitos, enquanto olharmos apenas para o espaço que nos permite a corda que nos prende o pé, os olhos de uma santa, ou os do gato da nossa solidão.
O agenciamento narrativo da autora vem precedido de um labor árduo sobre o corpo sintáctico das palavras, das suas recorrências, ardores, vertigens. São espelho de água, puro lastro, onde a língua cresce e se deslassa – mesmo quando diz dos medos, dos desassossegos, das nossas infrenes angústias.
Um grande livro, romance singular de uma autora que é preciso ler com vagar, sorvendo o que nos diz, o modo como diz e haurir esse verbo límpido, torrencial, essa gramática nova da língua portuguesa que afirma, estupefacta, que o sórdido existe mas que se abrem clareiras no tumulto, no coração das fontes.
“Não se pode morar nos olhos de um gato”
de Ana Margarida de Carvalho
Teorema/2016


segunda-feira, 29 de agosto de 2016

"Nós temos um sistema fiscal injusto e bárbaro"

A Grécia está para Bruxelas como o Chile para Kissinger, um laboratório de extorsão e opressão.

Desde 1 de janeiro de 2016 que os gregos estão obrigados a declarar às finanças todo o seu património (ver aqui), a partir de outubro deste mesmo ano, os contribuintes gregos deverão declarar ao fisco não só os seus rendimentos, mas também o dinheiro em espécie que têm na sua posse, bens pessoais, como objetos de valor (joias, obras de arte, etc.) e mesmo mobiliário doméstico. A que já estavam obrigados.
De acordo com o jornal grego TO VIMA, citado dia 18 pelo site RT, o projeto inicial só sujeitava a declaração bens superiores a 15 mil euros. Este patamar foi entretanto reduzido para o valor de cem euros, abrangendo virtualmente todos os cidadãos.
As declarações devem ser entregues até ao final de Dezembro, devendo ser renovadas sempre que a situação fiscal se altere. O governo prepara-se para introduzir uma taxa única a incidir sobre este património.

O próprio Ministro das Finanças Suplente Tryfon Alexiadis (29-8-2016) citado no mesmo jornal:
"Nós temos um sistema fiscal injusto e bárbaro"

E os bárbaros assim se afirmam, sem pudor!
 

domingo, 28 de agosto de 2016

Património do PCP não se deve "a favores do Estado"

Património do PCP não se deve "a favores do Estado" - Jerónimo de Sousa

O secretário-geral do PCP enalteceu hoje, no espaço da Festa do Avante!, a forma como o partido obteve o seu património, graças a contribuições de militantes e amigos e não devido a "favores do Estado" ou de "grupos económico-financeiros".

"Quando hoje alguns registam que o PCP tem um património significativo, omitem sempre como é que foi alcançado: não tivemos favores do Estado, nem de nenhum grupo económico-financeiro. Foi a contribuição de militantes e amigos do partido, de muitos democratas e amigos da festa", disse Jerónimo de Sousa numa ação junto dos muitos voluntários que preparam o espaço que acolherá a Festa do Avante!, a 2, 3 e 4 de setembro.

O dirigente comunista sublinhou que estas contribuições dos militantes e amigos do PCP "têm a garantia da regra de ouro" dos comunistas: "tais contribuições não são para beneficiar nem militantes, nem eleitos, nem dirigentes. São, no respeito pelo princípio ético que conquistamos na política, não para nos servirmos a nós próprios, mas para servir os trabalhadores e o povo português".

Presentes no local, várias centenas de voluntários, militantes, membros da Juventude Comunista e simpatizantes interromperam várias vezes o discurso de Jerónimo de Sousa com gritos de "Assim se vê, a força do PC".

Jerónimo de Sousa agradeceu a todos os que participam nos trabalhos da Festa do Avante!, em especial aos "construtores e aos que organizam, arquitetam, projetam e divulgam" a "maior festa da juventude" em Portugal.

"Este ano comemoramos o 40º aniversário da Festa do Avante! Uma Festa maior e melhor, com a aquisição da Quinta do Cabo", recordou Jerónimo de Sousa, acrescentando que essa aquisição resultou de uma "audaciosa campanha de fundos, num tempo em que os trabalhadores e o povo eram fustigados nos seus salários, nos seus rendimentos e nos seus direitos".

A integração da Quinta do Cabo nos terrenos tradicionais da Festa do Avante!, recordou o secretário-geral do PCP, implicou não só "a preparação do terreno", como também "movimentação de terras, uma nova vedação, uma nova entrada para a Festa".
"Colocaram-se de raiz todas as infraestruturas de energia, iluminação pública, de água, de esgotos, de comunicações. Construímos novos arruamentos, colocando lancis a pulso, plantámos novas árvores, preparamos o espaço para a colocação das organizações e espaços centrais, construímos o novo espaço criança.

De ano para ano teremos uma Festa melhor", sublinhou o dirigente.
Lusa

sábado, 27 de agosto de 2016

A MAIS BELA E FRATERNAL...

A maior e mais bela Festa Politico-Partidária de esquerda do mundo capitalista.
 
2, 3 E 4 DE SETEMBRO DE 2016, AINDA MAIOR E SEMPRE BELA

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

A PRIMEIRA FESTA

 1976
 Espaço reservado à célula da Marconi.
 Unidade foi a palavra de ordem.
Alegria a transbordar de lágrimas
Só quem viveu estes momentos únicos conseguirá avaliar a emoção dos comunistas ao colherem os frutos de tantos sacrifícios e lutas dos seus militantes pela liberdade de todos nós.
Onde nem sequer faltou a bomba colocada no transformador da EDP no exterior da FIL.

A luta não tinha terminado, nem terminará enquanto formos o partido que somos, temos sido e seremos.