quinta-feira, 31 de julho de 2008

Cu-cu!! tô

O Senhor Professor foi bater a sesta e ao acordar teve uma “branca”, não se recordava do que havia almoçado e antes que se esquecesse que era P. da R. resolveu falar ao país. Como até então ninguém tinha dado por ele quando se soube que ia botar faladura (sempre de tabu na algibeira) entrámos todos em pânico.

Uf!... Felizmente que nos falou do Vulcão dos Capelinhos.

terça-feira, 29 de julho de 2008

GLOSSÁRIO (III)

«Donde colho que naõ he bom o dinheiro para paõ; que se fora paõ, nunca houvera de matar a fome.»

Arte de Furtar, Capitulo XXX

Todos os dias, são despejadas na minha caixa do correio electrónico prendas como esta:

«Excelentíssimo Senhor,

Pretende V. Ex.ª ressuscitar termos obsoletos que nada têm a ver com o país real. V. Ex.ª ignora a realidade, é um ultrapassado que não assimila o progresso, os avanços tecnológicos, a globalização e a submissão ao Cifrão. V. Ex.ª é um dinossauro que nem sequer vai deixar pegadas na Pedreira do Galinhas.

Qual a razão porque não deixa de matraquear os que dentro desta sociedade, tal como é, usam (e por vezes abusam) dos múltiplos meios, colocados ao seu dispor, de toda uma panóplia de instrumentos, com suporte legal, com os quais conseguem, como qualquer outro ladrão, os mesmos objectivos, em cenários que o próprio Arsene Lupin jamais teria imaginado?

Supomos que essa sua doentia obsessão, por este tema, se deverá ao facto de ver muitos filmes. Não perca o seu tempo porque a realidade ultrapassa, em muito, a sua frouxa ficção.

Entretanto, e como nos pede, sugerimos-lhe alguns termos que poderá inserir no seu pseudo glossário:

«Todas as grandes burlas saíram incólumes em virtude de a justiça, durante o prazo legal, não ter exercido o seu direito de acção ou efectivado a condenação imposta.» Deste modo, a prescrição é o instrumento de maior valia para os ladranzanas de colarinho branco que, possuindo poderosas máquinas de advocacia, pagam principescamente aos que, por vezes directamente interessados, a utilizam para legalizar os seus crimes.

Tome nota: Prescrever, prescritível, prescrito. Junte ao seu glossário. E já agora não se esqueça de consultar um psicanalista.

Atentamente

Associação para a Dignificação da Arte de Furtar (ADAF)»

Seguirei o conselho quando chegar ao fim deste passatempo.

A avidez do galfarro não perdoa, deita a mão ou o gadanho; gadanhar ou gadunhar são artes do gamanço dos que sabem gamar. Gatázio é grande logro e deita-se o gatázio a alguém ou a alguma coisa. Gatear é roubar já o gateador é ladrão manhoso e gato, dar gato por lebre, fala-nos de logro. Gatuno é termo corrente e gatunice a sua prática; levar vida de gatuno é gatunar, tal como gatunagem é o colectivo destes meliantes. Gaturama ou gaturamo não faz mais que gaturar ou gaturrar. No Brasil, guinda é roubo com escalada, e, para nós, ao guindar rouba-se carteira e também, em calão, guindo é simplesmente roubo. Intrujão ou entrujão é o que faz intrujice e, ao intrujar, burla-se. Intrusão é usurpação, posse ilegal e violenta, acção de se apossar de um cargo, de uma dignidade… o dia-a-dia em suma.

E assim chegamos ao trivialissimo: LADRÃO! Que no feminino nos dá a ladra, ladrona ou mesmo ladroa. O ladranete é o ladrãozinho de meia-tigela; ladripar é surripiar coisa de pouco valor, trabalho do ladripo ou do desclassificado ladranete, já mencionado, assim como do ladrisco, um tanto tolerado, vejam bem! Na gíria do Porto ladrilho é simplesmente gatuno. E sendo ladro ladrão, ladroar a acção e ladroagem seu vício, ou bando de ladrões, ladroado é o roubado. Defesa contra o ladroísmo eleitoral vem a propósito, é mais que ladroeira ou ladroíce, ladroísmo é um hábito, um vício dos que, ao ladroeirar, vão fazendo as suas ladroeiras. Temos, por fim, o ladranzana, ladravaz, ladravão ou ladroaço, palavrões aplicados aos grandes ladrões, não àqueles que desviam milhões, não: por uma questão de pudor, estilo ou conivência, o vocábulo não se lhes aplica. Sua excelência senhor fulano de tal ladranzana, ladravaz ou ladravão! Convenhamos que temos que encontrar palavras para esses crápulas. O larápio, ao larapiar ou larapinar, faz larapice; não é violento como o que, ao latrocinar, comete o latrocínio, roubo violento, mesmo à mão armada. Leilão é roubo no Dicionário de Calão. Levar, libertar e limpar vivem nas margens do jargão; faz-se limpeza ou livrar a alguém o que lhe pertence. Ao lograr pratica-se o logro a que nos sugeitam diariamente.

Ainda me faltam cerca de setenta vocábulos. Se soubesse não me tinha metido nisto, mas como sou persistente não desisto. Até ao “Glossário IV”.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

GLOSSÁRIO (II)

Assim se prova, quearte de furtar, e que esta seja ciência verdadeira, é muito mais fácil de provar, ainda que não tenha escola pública, nem Doutores graduados, que a ensinem em Universidades, como têm as outras ciências.”

Arte de Furtar” (1742)

À falta de outra, temos «uma certa cultura de corrupção» segundo o ex-Procurador-Geral da República, Cunha Rodrigues.

Veja-se por exemplo o Instituto de Investimento e Privatização dos Açores, o gigantescosaco azul” de onde mais de meio milhão de contos terão sido deglutidos por dezasseis vorazes criaturas, sem esquecer os muitos sacos azuis da Moderna e o mediático saco azul de Felgueiras.

Os mentores dos sacos azuis vivem numa área escura do poder de legalidade difusa; não sendo crime a escuridão, ninguém sabe, nem ou ouve o que se passa no interior dos sacos, quem põe, tira oudeixar ninguém deixa. Controlo democrático, nem pelo olfacto.

Saco” exprime embora “acto de saquear”, e tem a vigiá-lo o “azulque também significa “polícia” (veja o Grande Dicionário da Língua Portuguesa) assimsaco azulnão é, mais nem menos, do que o “saque policiado”.

Não tenhamos a pretensão de vir algum dia a compreender os labirintos no interior de um saco azul.

E o Glossário continua:

Dar a palmada ou dar o golpe circulam na gíria colorida do gingão e, claro que, deitar a luva ou deitar a unha não são expressões de salão, assim como depenar e depenador também não. Defraudador e defraudar são mais suaves no burlar. Porém, depredação e depredar são o roubo violento, muito diferentes do descaminho, um termo bonitinho, próximo do desvio e não longe do desfalque ou desfalcar, despojo ou despojar. Mas nobre, nobre mesmo, é o desvio…o desviar, não se utilizam abaixo do milhar e, creio que com a inflação, deviam ter sido promovidos a milhão. Dolo, até pela pronúncia tem classe e pavoneia-se pelos corredores dos tribunais.

Empochar, empalmar, empalmação andam muito pelas ruas do calão e eliminar, tal como endrominar, também. Empolgar é mais violento e o engodar tem ardil. Esbrugar ou esburgar é forçar e esbulho e esbulhar são mais abrangentes, vão até ao abuso de poder; escamotear é roubar com muita habilidade e escorchar anda pelos mesmos becos do despojar. Escroque, galicismo, entrou no nosso linguajar e ficou como burlão, intrujão, vigarista e trapaceiro que é. Ao esgueirar-se, subtrai-se com astúcia, desvia-se, sendo a estafa burla; espoliar é extorquir e esquivar-se furtar; enquanto que subtrair herança é expilar. Extorquir, extorsão e extorsionário são termos rudes; , extravio navega nas águas do desvio.

Fajardo furta habilmente, faz fajardice em suma; falcatrua e falsificar andam muito a par; a malta diz fanar, fazer a folha e fangueirada é furto que vale a pena. Fazer, fezada, fazer rajá é simplesmente roubar, mas fazer a pala é encobrir o roubo; e ainda com o verbo fazer temos o fazer mão baixa e fazer mão de gato. O flibusteiro vive de expedientes, da trapaça; forjar é falsificar; fraude ou fraudulência, fraudar, fraudador andam no campo do engano, do defraudar citado. Furto, furtar e furtança são linhas do mesmo novelo, onde se enrola a trapaça.

Razão para voltarmos com o “Glossário (III).

domingo, 27 de julho de 2008

GLOSSÁRIO (I)

“E quando os vejo continuar no officio illesos, não posso deixar de o atribuir à destreza de sua arte, que os livra até da justiça mais vigilante, deslumbrando-a por mil modos, ou obrigando-a que os largue, e os tolere; porque até para isso têm os ladrões arte.”

“Arte de Furtar” (1742)

Com uma cultura tão rica na “Arte de Furtar”, cultura que os nossos antepassados souberam preservar e que o nosso dia-a-dia não decepciona, o vocabulário que nesta actividade, tão abrangente, surge nos media é de uma pobreza confrangedora.

Roubam-se tostões, desviam-se milhões; este amanhou-se, aquele desfalcou, aqueloutro abotoou-se. Sempre a mesma lenga-lenga. Bem contados, não vão além de escassas dezenas os termos usados na mais brilhante e lucrativa actividade no nosso país.

Preocupado com este hiato cultural, crente e ufano de contribuir para que nos possamos entender muito melhor neste negócio em galopante expansão, que é o gamanço, fui à cata de palavras que, através dos séculos, a nossa desonestidade fabricou e que o presente não desdenha, códigos que abrangem todas as classes e que, contradição das contradições, se aplicam na sua quase totalidade aos mais espoliados.

O safe-se quem puder reflecte o sistema que dá pelo nome de neoliberalismo, monstruosa ave de rapina que vai deixando o planeta exangue, devorando o Mundo e abrindo o caminho ao saque generalizado.

É tempo de engendrar novos termos e fazer reviver, pelo menos, os cerca de trezentos que a preguiça ou a rotina mantêm sepultados no esquecimento, hoje que a sede do lucro imediato torna os bolsos insaciáveis e o pudor, rechaçado, não sabe como e onde se refugiar.

Vamos a isto; é tempo de nos ilustrarmos:

Abafação é furto, abafador o ladrão e abafar a acção. Abarbatar e abotoar-se é deitar mão do alheio e, em calão, o achatar, assim como afiançar, é simplesmente roubar. Afanar é da gíria - e é giro. Enquanto o agadanhador surripia, agadanhar é lançar o gadanho, tirar à força, tal como agafanhar. Alapardar é apossar-se do que pertence a outrem ou seja locupletar-se ilegalmente. O alcance tem nobreza, é mais para pessoa fina, não tem a ver com a plebe, pela delicadeza do termo, não está longe da alicantina, cheia de astúcia e manha. Aliviar é coisa de carteirista. Também sinónimo de roubo, anexar é termo abrangente, mais próximo do apoderar-se, apossar-se, apropriar-se, enquanto que apanhar alguém com a boca na botija, sendo também roubar, é termo frouxo. Arrancar, arrebanhar, arrebatar, arrepanhar são palavras fortes, principalmente quando colocadas ao lado do assenhorear-se, expressão delicada, punhos de renda, com classe.

Bater a carteira é roubar às ocultas a carteira do bolso de outrem, mas, Bater é, no Brasil, o nosso aliviar, tal como buscar tem o busco como autor. Ao bifar, furta-se disfarçadamente. O borlão, borlador ou burlista exerce a arte de burlar, obviamente. Mas deitar a mão a… é benzer.

Ao capiangar, furta-se com destreza, sendo o capiango um ladrão astuto, já o cafunge e o camafouje são gatunos, gente vil. Captar, faz-se com astúcia. Cardanho ou cardar é roubo na área do palmar, mas catar e catrafilar fazem parte do jargão do choro, larápio sem estatuto. Comer é espoliar, saquear, e consumir iludir. O palavrão, concussão, é específico para o funcionalismo público, uma honra. Corte é roubo, acção de cortar-se ou apropriar-se de coisa alheia. E para terminar a terceira letra do alfabeto, ficamos com cresta e crestar que se aplicam ao desfalque e ao despojar.

Para bem da nossa cultura, para que nos possamos entender falando e escrevendo sobre matéria tão actual e importante, escreva-nos se desejar enriquecer o nosso vocabulário.

Até ao próximo glossário (II).

terça-feira, 22 de julho de 2008

Nós por cá todos bem... 22/07/08

«Tribunal do Trabalho de Lisboa vive situação de caos e de quase ruptura. Nalgumas secções há julgamentos marcados para 2010 e os sinistrados chegam a esperar ano e meio pela decisão de uma indemnização. O número de processos pendentes ascende já aos 15 mil.»

As Companhias de Seguros e o patronato agradecem!

E continuam a chamar a isto um Estado de Direito.