A VIOLAÇÃO
DAS MASSAS PELA PROPAGANDA POLÍTICA
Disponível em português (aqui)
(Le viol des foules par la
propagande politique)
Serguei Tchakhotine
Este livro tem uma história bastante
movimentada. Já a sua primeira edição, em 1939, na França, dois meses antes da
guerra, não se fez sem incidentes. Depois de todas as correções, o autor
recebeu as últimas provas – para autorizar a impressão – sem que viessem
acompanhadas das anteriormente corrigidas. Para sua grande surpresa, verificou
que o livro, nesse meio tempo, tinha sido censurado (na França! onde a censura
não existe): todas as passagens desagradáveis a Hitler e Mussolini estavam
suprimidas (e isso dois meses antes da guerra), da mesma forma que a
dedicatória, assim redigida: “Dedico este livro ao gênio da França, por ocasião
do 15O° aniversário de sua Grande Revolução.” Soube-se, em seguida, que a
censura havia sido feita pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, então o Sr.
Georges Bonnet, no que concerne à dedicatória. O Ministro dos Negócios
Estrangeiros da Terceira República achou que “estava fora de moda”! E isso no
ano em que o mundo inteiro festejava esse aniversário!
Mediante protesto do autor que,
firmado na lei francesa, reagiu, as frases e as idéias suprimidas foram
recolocadas e o livro apareceu na forma original. Dois meses depois de sua
aparição, quando a guerra já estava declarada, a polícia de Paris apreendeu-o
nas livrarias. Finalmente, em 1940, tendo os alemães ocupado Paris,
confiscaram-no e o destruíram.
Nesse ínterim edições inglesas
(entre outras, uma popular feita pela seção editorial do Partido Trabalhista),
americanas e canadenses, difundiram as idéias enunciadas e, depois da guerra,
uma nova tiragem francesa se impôs. Aparece esta edição, totalmente revista e
ampliada, uma vez que a ciência da psicologia objetiva, base deste livro, havia
acumulado um grande número de novos fatos de primeira importância e os
acontecimentos políticos tinham mudado consideravelmente a face do mundo. O
autor acreditou útil ilustrar esta nova edição com uma vasta bibliografia, com
gráficos, que facilitam a compreensão dos fatos e das leis científicas
enunciadas.
Poder-se-ia talvez reprovar o autor,
por não se ter limitado a expor as idéias e as demonstrações científicas
essenciais do principio da “violação psíquica das multidões”, bem como por se
haver arriscado a fazer referência à atualidade política do momento histórico
em que vivemos e, até mesmo, por tomar posição (um crítico, aliás benevolente,
acusou-o de ser “sistemático”). Justificando-se, o autor desejaria dizer que,
na sua opinião, a melhor demonstração da justeza das idéias enunciadas, que
transforma a “hipótese” em “teoria”, é precisamente a possibilidade de fornecer
provas extraídas do passado (nesse caso, por exemplo, a história da luta de
1932, na Alemanha) e esboços do futuro, corroborando essas idéias, seguindo
logicamente a aplicação das leis enunciadas, nas realizações pressupostas,
pode-se verificar o valor das primeiras.
Por outro lado, a análise da
existência atualmente, por meio das novas normas, dá a impressão da “tomada ao
vivo” da realidade concreta. Ademais, parece-nos que, fazendo uma crítica
puramente abstrata, teórica, abandonamos o leitor a meio caminho, insatisfeito,
pensativo. A crítica deve vir sempre acompanhada de propostas de soluções
práticas, para ser construtiva. Enfim, cada ato humano deve ter, em nosso
entender, um elemento social, um incitamento à ação, dirigido a outrem – se
quisermos – um pouco de psicologia, que promova, que crie o élan otimista,
fonte de progresso.
Ah!, o mundo está dividido hoje em
dois campos hostis, que têm mútua desconfiança, que se preparam para se arrojar
um sobre o outro e transformar esta terra maravilhosa que viu a aventura humana
e onde tantos milagres do pensamento, da arte, da bondade se realizaram em um
braseiro que só deixará ruínas fumegantes...
Ah!, tudo se polariza hoje em uma ou
outra direção. Este livro procura ser objetivo, imparcial, e denunciar aos dois
campos os fatos sem circunlóquios, perseguindo dois únicos objetivos: a verdade
científica e a felicidade de todo o gênero humano. Pode-se, deve-se alcançar
isso!
O autor sente-se feliz em agradecer
cordialmente aos seus amigos M. Ch. Abdullah, M. St. Jean Vitus, que o ajudaram
a rever o manuscrito, no que respeita à redação em língua francesa.
Serguei Tchakhotine
Doutor em Ciências
Professor Universitário.
Paris, 1° de setembro de 1952.
Serguei Tchakhotine
Doutor em Ciências
Professor Universitário.
Paris, 1° de setembro de 1952.
Extrato:
«É
o roteiro a seguir. Ao lado dessa ideia, uma outra, a da Paz, assume igual
importância: é preciso dizer ao homem desde a infância que a guerra é
abominável, que é um crime. Enfim, é preciso propagar, criar o mito da
Liberdade, ideia sublime da Revolução Francesa, cujas centelhas iluminaram, a
uma distância de mais de cem anos, a grande flama libertadora da Revolução
Russa e da Revolução Chinesa, que abalaram todo o hemisfério Leste, acordando a
maior parte das massas humanas do mundo, deixando-as seguir por um novo
caminho, associando-as ao progresso da cultura. Pois, os benefícios da cultura
são e devem ser o apanágio de todos os povos e de todos os homens, sem qualquer
distinção. Que certas classes sociais e certos povos se arroguem o direito de
monopolizá-los em seu proveito, abandonando os demais a um estado de
inferioridade e de carência, não é razão para estes negarem a cultura, desejar
aboli-la, “quebrar as máquinas”.»