-
- A Delphi
- A
- Despedimento colectivo de 15
- O
- Lay-off rejeitada na Metalúrgica
- Na Saint-Gobain Glass
-
- CP-Lisboa
-
- GDP e Lisboagás
- A
- A COMIL apelou a
- Os
Os
517
-
- A Delphi
- A
- Despedimento colectivo de 15
- O
- Lay-off rejeitada na Metalúrgica
- Na Saint-Gobain Glass
-
- CP-Lisboa
-
- GDP e Lisboagás
- A
- A COMIL apelou a
- Os
Os
517
Sentado, bandeira nacional e da U.E. dando o aval indispensável ao discurso, o senhor ministro, através da TV, banhou-nos de justiça: A partir de agora (porquê só agora?), acabava-se a lavagem de dinheiro. Tal e qual! Não eram renovados mais alvarás para tão higiénica actividade.
Alertou ainda, haver somas exorbitantes que estavam a ser lavadas em bancos, seitas, casinos e noutras lavandarias de igual respeitabilidade.
Deixou um oportuno alerta: Era de desconfiar quando alguém aparecia com muito dinheiro.
Uma
Ele e a sua Joaquina que não haviam feito outra coisa em toda a sua vida: Lavar. Ele lavou barcos, lavou ruas, lavou carros, lavou tudo. Tudo o que encontrou sujo lavou, desengordurou, poliu. E a sua companheira, fez barrela, branqueou, esfregou casas, escadas, tudo. Tudo o que estava sujo, lavou. E o que é que têm hoje? Uma reforma suja, para não lhe chamar nojenta.
Mas essa de lavar dinheiro até podia servir de biscate, pensava o senhor Júlio que abandonou a sopa e foi até ao banco do jardim procurar alguém que o elucidasse sobre tão bizarra notícia.
E ia cogitando: “Isto deve estar muito mau! Os ricos a lavar... Eles que por onde passam só fazem imundice.”
E continuava sonhador: “O ministro desconfia dos bancos e das seitas é natural, ninguém sabe como conseguiram tanto dinheiro em tão pouco tempo; mas o Júlio!... O Júlio e a Joaquina todos conhecem cá no bairro. Foram sempre pessoas sérias. O senhor ministro pode confiar mais num dedo do Júlio do que em todos os banqueiros. Todos.”
E que esse dinheiro quando muda de bolso não troca de fato, ou se muda de farpela não altera o seu objectivo: Continuar do mesmo modo a espalhar o terror e a sordidez na bulimia sem limites do mais e mais, despedindo, fechando fábricas e entrando no sub mundo da especulação.
E que os senhores do dinheiro possuidores dessas respeitáveis instituições de caridade, são os “jet-set” que se pavoneiam pelas colunas sociais de mistura com ministros, proprietários sinistros e outros benquistos do poder, num mundo que o senhor Júlio nem imagina que exista.
Milhões e milhões de contos, lavados ou por lavar, continuam a entrar em circulação como de trocos se tratasse, sem que ninguém dê por eles. Ninguém?...
Não será nas grandes e galopantes fortunas que os vamos encontrar.
Claro que não!
Os media tocaram a
De
Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileu! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios).
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria...
Eu sei... Eu sei...
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileu Galilei!
Olha. Sabes? Lá na Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileu,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate, Galileu!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileu?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.
Estava agora a lembrar-me, Galileu,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um guiso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando um perigo
para a Humanidade
e para a civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscava os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas - parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abom
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma
Ai, Galileu!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andava a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileu Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso, estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.
António Gedeão
Ao
A
«
* VPV faz lembrar marca de whisky mas não é.