terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Os meus livros / 2

Na vã tentativa de arrumar os meus livros peguei no 4º volume das Obras Completas de Gramsci para o colocar no seu devido lugar e nele fiquei a recordar páginas das quais vos deixo esta mostra.



3. Sobre a pobreza, o catolicismo e a hierarquia eclesiástica.

Num livrinho sobre ouvriers et patrons (dissertação premiada em 1906 pela Academia de Ciências Morais e Políticas de Paris), menciona-se a resposta dada por um operário católico francês ao autor da objeção que lhe fora apresentada, segundo a qual, de acordo com as palavras de Jesus extraídas de um Evangelho, devem existir sempre ricos e pobres: Pois bem, deixaremos pelo menos dois pobres para que não digam que Jesus errou.” A resposta é epigramática, mas à altura da objeção.

(…) as opiniões mais difundidas sobre a questão da “pobreza”, tal como resultam das encíclicas e de outros documentos autorizados, podem ser resumidas nos seguites pontos: 1) A propriedade privada, sobretudo fundiária, é umdireito natural”, que não pode ser violado nem mesmo através de altos impostos (derivam deste princípio os programas políticos das tendências democrata-cristãs, no sentido da distribuição de terras aos camponeses mediante indemnização, bem como suas doutrinas financeiras); 2) Os pobres devem contentar-se com sua sorte, que as diferenças de classe e a distribuição da riqueza são disposições de deus e seria ímpio tentar eliminá-las; 3) A esmola é um dever cristão e implica a existência da pobreza; 4) A questão social é antes de mais nada moral e religiosa, não económica, devendo ser resolvida através da caridade cristã e dos ditames da moral e do juízo da religião. (Cf. O Código Social de Melines, em suas sucessivas elaborações.)

In Cadernos do Cárcere de António Gramsci (Volume 4)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Os meus livros

Não consigo arrumar os meus livros. Pegam-se às mãos e aos olhos e para com a quase totalidadeum grande afecto que vem de longe.

Folheio-os como quem acaricia um ente querido e assim ficamos nesse êxtase e o tempo esvai-se e a desarrumação fica.

Não apresento nem titulo nem autor, a capa fala por si. Transcrevo o início da introdução que me agrada sobretudo pela modéstia.


INTRODUÇÃO

conheceremos verdadeiramente bem aquilo que formos capazes de explicar claramente aos outros. Sobretudo aos outros que nada saibam do que pretendemos conhecer com alguma profundidade.

Claro que esta afirmação terá limites, mas os limites serão mais de tempo e de oportunidade da parte de quem sabe do que de capacidade de entendimento de quem deverá tentar perceber.

Por outro lado, e ainda antes de quaisquer limites e de quaisquer considerações, há uma atitude. Pela nossa parte quase se tornou doentia a vontade de contar, de partilhar aquilo a que tivemos acesso por esta ou aquela razão, por este ou aquele privilégio, como também procuramos o entendimento do muito que nos rodeia e vivemos. ……...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

MEIAS-TINTAS

ou
ASSIM-ASSIM

“Ser descontente é ser homem”

Fernando Pessoa

“Vamos andando assim-assim, não é verdade?” A afirmação embebida de interrogações foi lançada ao grupo que tomava a bica matinal, por um sujeito portador de máscara-sorriso-convencional.

O senhor António, homem de convicções, detestava as meias-tintas, além do mais não estava nos seus dias, bebeu de um trago a bica-curta, olhou de frente o recém-chegado e disparou:

“Eu estou assim, e o senhor assim está, o que não significa que estando ambos deste modo, estejamos os dois assim-assim. Detesto a neblina, prefiro a enxurrada.”

O homem máscara-sorriso-convencional, apertou o nó da gravata, remexeu-se dentro do casaco, olhou à sua volta, soltou uma amostra de pigarro e quedou-se, enquanto outro dos visados, “virado do avesso”, engasgando-se logo ao primeiro golo de café, não deixou passar o “insulto”:

“Não gosto da vida assim-assim, é o pior que nos pode acontecer. É o indefinido, o não anda nem desanda, o marasmo que arrasta a perda de horizontes, a mornaça que atabafa os espíritos. Não é cólica nem diarreia, é prisão de ventre. Um desconforto!”

imaginou o que é um indivíduo, um povo, uma autarquia ou um país assim-assim”? hem! imaginou? Se nos dispuséssemos a ficar assim-assim estávamos acabados!”

A máscara virou o sorriso para a porta espreitando a fuga, e o homem achou que as coisas já não estavam assim-assim. Triste ideia a de ter saído de casa!

“Estar assim-assim, é ter perdido as emoções que comandam o gosto ou o desgosto de viver, não estar contente nem descontente, olhar e não ver, comer sem apetite, um desconsolo! Procure colocar-se nessa situação, faça um esforço e diga-me se não é de ficar apavorado.”

“Uma reforma assim-assim dá para ir vegetando, e vegetar é gastar a vida sem interesse e sem emoções, levar uma vidinha que se arrasta por entre o paciência-podia-ser-pior, o se faz favor, o muito agradecido, o desculpe se incomodo. O assim-assim é um mal-estar que nos envolve sem sabermos de onde vem; prefiro a topada.”

Hirto e de sorriso aos pés, o homem não sabia como se desenvencilhar da encrenca em que se havia metido. Aferiu que estava entre gente insatisfeita e balbuciou: “Mas... um... um governo assim-assim... sempre seria melhor que...”

O empregado de mesa deixou cair a bandeja, e por entre o estardalhaço explodiu um vozeirão:

“O assim-assim é o caminho privilegiado para o ainda pior”. - Fez-se silêncio, e a interrogação surgiu tonitruante. - E sabe porquê? Porque o assim-assim é a inércia. Sabe o que é a inércia? É o vai para onde te empurram!”

O sorriso rastejou até à porta deixando o homem sem máscara. “Melhor seria ter estado calado.” Concluiu. “Quando não se tem trincheira apanha-se de todos os lados.” Cogitou.

O Manuel Caveira, de olho vivo, ouviu, ouviu e sentenciou:

“Estar assim-assim é uma merda!”

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Até já


Até já

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É parte da nossa luta

DECLARAÇÃO DE FUNDAÇÃO DA

FRENTE 14 DE JANEIRO DAS FORÇAS NACIONAIS, PROGRESSISTAS

E DEMOCRÁTICAS DA TUNÍSIA

PELO SOCIALISMO

Colocado em linha em: 2011/02/03

Tradução para castelhano de Hatem AK., para Corriente Roja

Para afirmar e assegurar a nossa participação na revolução do nosso povo, que lutou pelo seu direito à liberdade e à dignidade nacionaleste povo que deu centenas de mártires e milhares de feridos e detidos – e para completar e garantir a vitória contra os inimigos do interior e do exterior e aqueles que tentam fazer gorar os sacrifícios do povo, constituímos a “Frente 14 de Janeiro”, como marco político para promover e assegurar a revolução, até alcançar os seus objetivos, bem como para lutar e parar as forças da contrarrevolução; frente (e marco) que agrupa os partidos, forças e organizações nacionais, progressistas e democráticas.

Os seus objetivos e tarefas são:

1. A queda do atual governo de Ghanouchi ou de qualquer governo que inclua pessoas do anterior regime, que efetuaram as políticas antinacionais e ntipopulares e serviram os interesses do presidente derrubado.

2. Dissolver o partido do ex-presidente e confiscar as suas sedes, bens, ativos financeiros e fundos, porque são do povo.

3. A formação de um governo de transição que expresse a confiança do povo, das suas forças políticas progressistas e das suas organizações sociais, sindicais e juvenis.

4. A dissolução da câmara de representantes, dos assessores e de todas as instituições, do conselho superior da magistratura; o desmantelamento de toda a estrutura política do antigo regime e a preparação para a eleição de uma assembleia constituinte, para a elaboração de uma nova constituição democrática e um novo marco legal da vida pública, que garanta os direitos políticos, económicos e culturais do povo.

5. A dissolução da polícia política e a promulgação de uma nova política de segurança, que respeite os direitos humanos e as leis.

6. Pedir responsabilidades a todos aqueles que se demonstre que saquearam os bens do povo e contra ele cometeram crimes, como a repressão, o encarceramento, a tortura e as decisões, ordens e execução de assassinatos, assim como àqueles de quem se prove a suaconduta e má gestão da propriedade pública.

7. A expropriação dos bens de toda a família, das pessoas próximas e envolvidas de todos os responsáveis políticos que utilizaram a sua posição para enriquecerem à custa do povo.

8. Assegurar e gerar emprego para os desempregados e tomar medidas urgentes que garantam os subsídios de desemprego, a cobertura social e de saúde e melhorar o poder de compra do povo.

9. A construção de uma economia nacional ao serviço do povo, onde os setores vitais e estratégicos estejam sob o controlo do estado, a nacionalização de todas as empresas que foram privatizadas e a aplicação de uma política económica e social que rompa com a perspetiva capitalista e liberal.

10. O lançamento das liberdades públicas, individuais e, especialmente, a liberdade de manifestação, organização, expressão, de imprensa, informação e crença, bem como a libertação de todos os detidos e a promulgação da lei da amnistia.

11. A “Frente 14 de Janeiro” saúda o apoio das massas populares e das forças

progressistas do mundo árabe e de todo o mundo e apela a que o mantenham.

12. Rejeitar a normalização de relações com a entidade sionista e criminalizá-la e apoiar os movimentos de libertação nacional do mundo árabe e de todo o mundo.

13. A Frente apela às massas populares e às forças progressistas e patrióticas para

continuarem com as mobilizações e a luta, por todas as formas legítimas - especialmente, as manifestações nas ruas -, até se alcançarem os objetivos propostos.

14. A Frente saúda todas as comissões, associações e organizações populares e apela à ampliação do seu círculo de participação em todos os assuntos públicos e da vida diária e quotidiana.

GLÓRIA AOS MÁRTIRES DA INTIFADA E A VITÓRIA PARA AS

NOSSAS MASSAS POPULARES REVOLUCIONÁRIAS

Tunísia, 20 de janeiro de 2011

ASSOCIAÇÃO DE ESQUERDA – OS TRABALHADORES

MOVIMENTO UNIONISTA NASSERISTA

MOVIMENTO DOS NACIONALISTAS DEMOCRÁTICOS

NACIONALISTAS DEMOCRÁTICOS

CORRENTE BAASISTA

ESQUERDAS INDEPENDENTES

PARTIDO COMUNISTA OPERÁRIO DA TUNÍSIA

PARTIDO NACIONAL DE AÇÃO DEMOCRÁT

sábado, 5 de fevereiro de 2011

"Melhor democracia"


O homem é “Director de qualquer coisa e tal da UE” e como tarefeiro apressado, chamado a debruçar-se sobre o Egito em polvorosa, faz-nos saber que existem condições necessárias para uma transformação democráticaentre elas “uma imprensa relativamente livre”. E adianta que os EUA estão a exigir “uma melhor democracia”.

Procurei saber o que é “uma imprensa relativamente livre”, tentei definir o que será uma liberdade relativa ou se a liberdade relativizada não é o seu contrário. Os EUA exigem “uma melhor democracia” num país para onde tem enviado os presumíveis terroristas para serem torturados. Como será essa “melhor democracia”?

“O rugido da vaga democrática” foi o título mais adequado que o articulista encontrou para assustar os leitores. Não se trata de um clamor mas de um rugido que é urro de fera!

Pequenas questões aparentemente sem importância. Veneno em doses homeopáticas ministrado pela nossaimprensa relativamente livre” numa democracia cada vez mais debilitada.

Esta jovem não ruge, não urra

Esta jovem clama!



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