quinta-feira, 31 de março de 2011

O 1º de Abril e o rosto da mentira


Personagem de ficção, o Pinóquio mereceu desde sempre toda a nossa simpatia. As mentirolas nunca nos feriram e a sua expressão de ingenuidade continua a ser um bálsamo. Ele tem sido o alegre rosto da mentira e só de o recordar invade-nos um bem-estar.

Mas o rosto da falácia, do mentiroso compulsivo, entidade real e actuante, manejando a mentira sem pejo nem escrúpulo com propósitos anti-sociais. Esse rosto que é o ícone da falsidade, o fiel espelho do embuste e da impostura tem um perfil.

Quem não o conhece!?

quarta-feira, 30 de março de 2011

Cuidado com as indigestões


«Gastos com a alimentação caíram a pique -- Ritmo da queda acentuou-se no primeiro trimestre deste ano. Prejuízos podem chegar aos 400 milhões de euros.»

Há notícias que nos surgem assim sem mais nem quê e para as quais não encontramos razões plausíveis.

«Os gastos com a alimentação caíram a pique», notem bem, a pique!

Os politólogos avençados desunham-se para explicara a forma abrupta como caiu. Os economistas à trela escusam-se a procurar nas Finanças os 400 milhões de euros sugados aos estômagos dos contribuintes. Os sociólogos ao serviço do sistema não vão procurar saber qual a classe que viu cair a pique os gastos com a alimentação. E os cronistas da treta não falam da fome que se instala a pique.

E o nosso querido país abocanhado por esta canalha afunda-se a pique.

Quem te rouba?

QUARTA-FEIRA, 30, 19.50, RTP1

O 1º de Abril e o rosto da mentira


Personagem de ficção, o Pinóquio mereceu desde sempre toda a nossa simpatia. As mentirolas nunca nos feriram e a sua expressão de ingenuidade continua a ser um bálsamo. Ele tem sido o alegre rosto da mentira e só de o recordar invade-nos um bem-estar.

Mas o rosto da falácia, do mentiroso compulsivo, entidade real e actuante, manejando a mentira sem pejo nem escrúpulo com propósitos anti-sociais. Esse rosto que é o ícone da falsidade, o fiel espelho do embuste e da impostura tem um perfil.

Quem não o conhece!?

terça-feira, 29 de março de 2011

Entrevista

O puzzle de um canalha tem milhares de peças.

Entrevista!

«Acho que posso dizer isto agora: o Mário Soares, no contexto de 1965, teve vários contactos comigo. Perguntou-me assim: “Você dá mesmo importância a esta coisa da contestação da guerra do Vietname?” Disse-lhe que sim. “Ó homem, isto não é nada connosco, é entre os americanos e o Vietname. Interessa-nos o apoio norte-americano para a nossa política.” Era uma pessoa muito prática. Isto foi para mim a revelação de como é que se reúnem meios para se fazer política.»

Entrevista a Medeiros Ferreira

(27 Março 2011 Pública)

Como Se Faz Um Canalha

Conheci-te ainda moço
Ou como tal eu te via
Habitavas o Procópio
Ias ao Napoleão
Mas ninguém sabia ao certo
Como se faz um canalha
Se a memória me não falha
Tinhas o mundo na mão
Alguma gente enganaste
(A fé da muita amizade
Tem também as suas falhas
Hoje fazes alianças
A bem da Santa União
Em abono da verdade
A tua Universidade
Tem mesmo um nome: Traição
Um social-democrata
Não foge ao Grão-Timoneiro
Basta citar o paleio
O major psicopata
Já são tantos namorados
Só falta o Holden Roberto
Devagar se vai ao longe
Nunca te vimos tão perto
Nunca te vimos tão longe
Daquilo que tens pregado

Nunca te vimos tão fora
Da vida do Zé Soldado
Ninguém mais te peça meças
No folgor dos gabinetes
Hás-de acabar às avessas
Barricado até aos dentes
És um produto de sala
Rasputim cá dos Cabrais
Estas sempre em traje de gala
A brincar aos carnavais
Nos anais do mundanismo
A nossa história recente
Falará com saudosismo
Dum grande Lugar-Tenente
São tudo favas-contadas
No país da verborreia
Uma brilhante carreira
Dá produto todo o ano
Digamos pra ser exacto
Assim se faz um canalha
Se a memória não me falha
Já te mandei prò Caetano

Zeca Afonso

domingo, 27 de março de 2011

As velas reciclam-se e os governos também

A cera é sempre a mesma e o pavio do mesmo rolo.

Eu esclareço.

Os deVotos do PS desunham-se a acender mil velas em louvor dos seus ídolos. Carradas de cera são consumidas do nascimento às exéquias dos governantes por eles votados.

Gastas as velas e defunta a governação do PS, os apologistas do PSD vão à compita acender muitas velinhas e iluminar a sua devoção para com os novos governantes.

Acontece que sendo as velas recicladas, a cera é sempre a mesma. As preces ou ladainhas ou rogos de cunhas acumulam-se nas antecâmaras dos Ministério de alternância em alternância neste bordel de alterne.

As lamúrias voltam a fazer coro. Da cera derretida velas novas nascem e com elas esperanças renovadas.

Choros e blasfémias acompanham a raiva acumulada nos agredidos que, não obstante, não se dispõem a mudar de cera,

sábado, 26 de março de 2011

O Grande Inquisidor


Repete-se a farsa do Iraque repondo o espectáculo num outro cenário.

Por entre fogo cruzado e aproveitando o “fogo amigo” e os “ataques cirúrgicos” o Procurador do Tribunal Penal Internacional Luís Ocampo procurou, procurou e diz “ter identificado sete-incidentes-sete de manifestantes mortos a tiro que poderiam ser considerados crimes contra a humanidade.”

Segundo a BBC, forças de segurança sírias abriram fogo na tarde de quarta-feira contra centenas de pessoas que protestavam. O principal hospital da cidade síria de Deraa recebeu os corpos de pelo menos 25 manifestantes. “Todos têm buracos de balas", disse a autoridade à Reuters.

A semana passada no Iémen no decorrer de manifestações pacíficas “foram mortas mais de 50 pessoas” e no Bahreim o governo dispersa os manifestantes, utilizando tanques, helicópteros e recorrendo a soldados sauditas que disparam fogo real.

O Grande Inquisidor do TPI ainda não foi à Tunísia nem ao Egipto inteirar-se dos crimes cometidos “contra a humanidade”.

O TPI é a antecâmara da morte ao serviço dos senhores da guerra.

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sexta-feira, 25 de março de 2011

Poema de agradecimento à corja


Poema de agradecimento à corja

Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar

de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.

Joaquim Pessoa


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quarta-feira, 23 de março de 2011

CAIU!

caiu o governo

a merda

como se ela tivesse culpa de tudo.

vejam só como suave e modesta

ela que se senta debaixo de nós!

porquê conspurcarmos então

o seu bom nome

e o emprestamos

ao presidente dos usa,

aos chuis, à guerra

e ao capitalismo?

que efémera ela é,

e aquilo a que damos o seu nome

que duradouro!

ela, a flexível,

anda na nossa boca

e referimo-nos aos exploradores.

ela, que nós esprememos,

terá agora que exprimir ainda

a nossa raiva?

não nos aliviou?

de mole consistência

e singularmente mansa

é de todas as obras do homem

provavelmente a mais pacífica.

que mal é que ela nos fez?

Hans Magnus Enzensberger

(Poemas Políticos)

Tradução de Almeida Faria

Publicações Dom Quixote, 1975

(original de gedichte 1971)

terça-feira, 22 de março de 2011

Armas de libertação maciça

As angelicais intenções dos libertadores, não nos deixam quaisquer dúvidas. As imagens são disso reveladoras.

As notícias chegam-nos filtradas pelas centrais de intoxicação social, pertença da máfia que se apresenta como libertadora.

Tímida e hipocritamente alguns Estados pedem aos libertadores que moderem os bombardeamentos.

Os líbios que sobreviverem a este holocausto encontrarão um país irreconhecível, espelho do Iraque e Afeganistão também libertos pelo mesmo gang made EUA.

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segunda-feira, 21 de março de 2011

A Líbia abocanhada

A chacina continua sob o comando do cão de fila coadjuvado por dois rafeiros; a restante matilha aplaude. O cheiro a sangue excita-os e perdendo o controlo da própria ferocidade abocanham e dilaceram as vítimas que afirmaram defender.

E porque a gula os torna insaciáveis a canzoada levanta o focinho e uiva. Exigem mais, sempre mais sangue.

Os bombardeamentos continuam e, libertos da vida os mortos agradecem e aplaudem.

domingo, 20 de março de 2011

Já estão a ser libertados...



Os libertadores fazem-se sempre anunciar por bombardeios “cirúrgicos” que não deixam de causar danos “colaterais”. Esta é a linguagem desde há muito usada no Kosovo, Iraque, Afeganistão ou onde quer que cheguem os opressores.

Hoje é dia de festa para toda a canalha a soldo do imperialismo ianque. Nas cervejarias em Estrasburgo lá se encontrarão face a face, lado a lado os adoradores de guerras, os sequiosos de sangue que votaram pela chacina. Três novas canecas se erguem para celebrar o macabro acontecimento; a dos três deputados do Bloco que se faz passar como sendo de esquerda.

E pela porta da liberdade aberta ao povo líbio já começaram a circular os caixões.

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sábado, 19 de março de 2011

"Direitos Humanos"?

Israel

Nunca cumpriu as resoluções das Nações Unidas

Nunca acatou as sentenças dos tribunais internacionais

Nunca respeitou os tratados que subscreveu

E espezinha todos os dias as leis internacionais.

De onde vem tanta arrogância e o porquê desta impunidade?


Em coordenação com os ataques terrorista perpetrados pela França, Inglaterra e EUA ao povo líbio, «Israel ameaçou uma nova grande ofensiva contra a Faixa de Gaza, horas depois de executar vários ataques aéreos, que deixaram três crianças feridas. Entretanto o governo da Grã-Bretanha, como habitualmente, manifestou preocupação com os ataques e pediu moderação a israelitas e palestinos.»

Londres, tão expedita a bombardear a Líbia, aconselha moderação a Israel e aos palestinos.

"Pedimos a intervenção da comunidade internacional para acabar com essa escalada e com a agressão israelita", pediu nesta sexta-feira o primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh.


A Comunidade Internacional, á trela dos nazissionistas de Israel, está a impor os seus direitos humanos ao petróleo da Líbia.

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quinta-feira, 17 de março de 2011

DIREITO à INDIGNAÇÃO

E porque amanhã é sábado

Os que lutam não descansam nem ao sétimo dia

Esbaforido, sem se preocupar no estado em que se encontrava a divina e ciclópica tarefa em que se havia empenhado, aproveitou a primeira nívea nuvem ao seu alcance, e descansou ao sétimo dia deixando gravado nos botões do celestial manto:

“Quem vier atrás feche a porta.”

Nunca mais tivemos descanso. A empreitada por vezes parece superior às nossas forças mas não podemos desesperar. Sábado para nós não será dia de repouso, e porque só construindo nos construímos, não faltaremos à chamada.

Está em jogo a nossa dignidade diariamente espezinhada, a própria sobrevivência posta em causa porque não acautelada quando nos chutaram do paraíso e viemos cair neste vespeiro.

Sábado é dia de unidade e de luta pelos direitos que nos pretendem sonegar, e é também de alegria por afirmarmos a justeza dos princípios que defendemos e a força que possuímos.

Não temos tido nem um décimo da cobertura mediática de que beneficiou – e muito bem - a manifestação do dia 12.

Não sejam enrascadinhos, não faltem, mobilizem. A unidade demonstrada no dia 12 deve ser correspondida sábado 19.

Façamos por isso!

terça-feira, 15 de março de 2011

Com o Bloco - contra Líbia marchar!



Contra a Líbia marchar, marchar!

Com os pontas de lança do imperialismo mais belicoso, os deputados do Bloco no Parlamento Europeu, Marisa Matias, Miguel Portas e Rui Tavares votaram em bloco uma moção a favor da intervenção militar na Líbia.

Ajuda humanitária e a democratização do país são o pretexto-bandeira do Terrorismo de Estado para legitimar uma intervenção imperialista na Líbia. A moção exorta a UE a intervir com todos os meios à sua disposição e reconhecer também o “Conselho provisório Líbio”.

Um canhoto não é forçosamente de esquerda e o Bloco apresentando-se como esquerdino é ambidestro quando lhe dá mais jeito.

Em casa engrossam a voz para granjear votos. No Parlamento Europeu, manifestam a sua verdadeira identidade.

Ainda há dúvidas?


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domingo, 13 de março de 2011

O ESTADO

(desenho do inigualável Fernando Campos)


O ESTADO

(Arenga para ser lida a correr)

O Estado está preocupado

O Estado está preocupado com a economia

O Estado está preocupado com o desemprego

O Estado está preocupado com a PJ

O Estado está preocupado com a Casa Pia

O Estado é uma preocupação


O Estado está atento de onde sopra o vento

O Estado está atento ao nosso sofrimento

O Estado está atento ao nosso desalento

O Estado está atento a cada momento

O Estado é um tormento

O Estado não tem tento


O Estado anda sempre angustiado

O Estado está cada vez mais alarmado

O Estado está inquinado

O Estado está perturbado

O Estado faz orelhas moucas

O Estado anda a pedir poucas


O Estado diminuiu o apoio aos deficientes

O Estado bate palmas às grandes fortunas

O Estado está cheio de lacunas

O Estado pede mais sacrifícios

O Estado está-se a diluir

O Estado põe-nos a pedir


O Estado está em estado de choque

O Estado não está em estado de graça

O Estado é mesmo uma desgraça

O Estado é já uma chalaça

O Estado não é um Estado interessante

O Estado torna-se-nos fatigante


O Estado privatiza

O Estado privatiza a água

O Estado privatiza os museus

O Estado privatiza as prisões

O Estado privatiza os ……

O Estado privatiza-se


O Estado corta apoios aos desempregados

O Estado aumentou os impostos

O Estado aumentou o IVA

O Estado rapa mais IRS aos reformados

O Estado só faz descontos

O Estado dá connosco em tontos


O Estado fecha os olhos à corrupção

O Estado anda de olhos fechados

O Estado é já um estado de alma

O Estado é um desalmado

O Estado é um satélite do Banco Europeu

O Estado neste estado não é o meu


O Estado fecha as maternidades

O Estado das desigualdades

O Estado faz batota

O Estado paralisa a justiça e a PJ

O Estado está a bater a bota

O Estado é uma anedota


O Estado não é um Estado de direito

O Estado é um Estado sorumbático

O Estado parece que anda apático

O Estado é burocrático-informático

O Estado não é um Estado às direitas

O Estado é um Estado da direita


O estado a que o Estado chegou…

O Estado não é um Estado sólido

O Estado é gasoso e faz bolinhas

O Estado é líquido e mete água

O Estado flutua

O Estado é um mau Estado… coitado!


O Estado dos boys gordos

O Estado das vacas magras

O Estado dos melros sabidos

O Estado dos corrompidos

O Estado dos vendidos

O Estado dos bandidos


Mas


O Estado é necessário

O Estado é de todos nós

O Estado faz falta à malta

O Estado deve gerir bem

O Estado não é só…

O Estado não deve ser só de alguém!


Muito bem!

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sábado, 12 de março de 2011

O óleo da revolta

O caminho é longo, pleno de escolhos, mas não há outro. Só lutando pela resolução das dificuldades alheias encontraremos resposta para os problemas que nos afligem.

Entraram pela primeira vez, e por outra porta, na rua que lhes pertence e onde aprenderam a gritar liberdade e desde logo a exigir justiça. Para muitos foi uma aula de iniciação, o desvirginar da mentalidade submissa a que têm estado submetidos, o dealbar de um novo dia de fulgor até então desconhecido.

O óleo da revolta vai atingindo todas as gerações. Não há jovens nem menos jovens cilindrados por esta política criminosa. Dividir para governar é um velho ludíbrio a que devemos estar atentos.


Para recuperarmos a dignidade que no dia a dia nos é sonegada não faltem no dia 19.

Sê solidário!


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sexta-feira, 11 de março de 2011

geraçÕes à rasca

Sabiam que no dia 19 deste mês há uma manifestação a nível nacional convocada pela CGTP?
Os mídia de referência vesga ainda disso não se aperceberam. Compreende-se. Andam ofuscados com o fogaréu da publicidade que vêm fazendo de apoio à manif. do dia 12.

Páginas inteiras amplamente ilustradas têm sido dedicadas ao evento. O grande patronato tem destes amores perversos. Vá lá encontrar-se a razão que a própria razão desconhece. (Desconhece?)

A manifestação do dia 19 está aberta a todas as gerações enrascadas.

Avós e pais vivendo à rasca socorrem netos e filhos também eles enrascados.

Idosos e deficientes de todas as gerações a quem sonegam meios de subsistência e acesso a medicamentos e cuidados de saúde, morrem abandonados sem qualquer apoio familiar ou social.

Definem-nos como um povo que sempre viveu do desenrascanço.

Até quando?


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terça-feira, 8 de março de 2011

Bora pá!

Entre bejecas e tremoços surgiu-lhes uma ideia luminosa: “E se convocássemos uma manif antes da já anunciada pela CGTP?”

Baril pá! Já somos três. Assim que os mídia toparem o golpázio põem a boca no trombone e não haverá quem os cale.

E assim foi. Organizaram debates e recrutaram polititólogos e analistas nas múltiplas áreas do saber e da ignorância. Os cronistas pondo em primeiro plano o apartidarismo espojaram-se na espontaneidade do evento.

Eles adoram a anarquia e sentem engulhos ao ver os trabalhadores organizados. Como terapia os descontentes devem manifestar-se, gritar, blasfemar e regressarem a penates. Nada de dar sequência às suas reivindicações.

Pois que venham todos para a rua e que para muitos seja a primeira vez e lhe tomem o gosto.

Eu também lá vou estar. A luta é de todos e a rua também.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Um hino à irracionalidade

A TASCA DO CHICO FITAS

«Um hino à irracionalidade de um sistema que permitiu, na área do comércio e da hotelaria e restauração, a existência de um estabelecimento por 30 habitantes!»

Anselmo Dias – Avante!

Num beco estreito de um minúsculo lugarejo, duas tascas frente a frente entreolhavam-se de braços caídos: a tasca do Ti Manel e a tasca do Chico Fitas.

Como sobreviviam é mistério; a concorrência era grande – dois num beco – a clientela rara e o negócio magro, o que não impedia o Manel e o Chico, que com apenas cinquenta cêntimos, levassem o dia a bebericar: Pela manhã o Manel deslocava-se à tasca do compadre Fitas para tomar o mata-bicho e, com a mesma moeda, este último procedia de igual modo na tasquinha do Ti Manel.

Durante o dia, alternadamente, e sempre com a mesma moeda, bebiam um branquinho a meio da manhã, o bagacinho depois do almoço e o tintol durante a tarde, quantas vezes lhes apetecesse. Ao fim do dia os cinquenta cêntimos voltavam à caixa de origem e os dois taberneiros encerravam o estabelecimento, já de grãozinho na asa.

Sem esforço, porque ilustrado de modo tão evidente, é possível compreender os mecanismos da nossa economia, deixando-nos tranquilos quanto ao futuro que, deste modo, se nos apresenta promissor.

Assim, e com exemplo tão incisivamente elucidativo e inteligente – o que obviamente não vos deve surpreender – ficou provado, e não creio que haja algum cretino que o conteste, que podem continuar a encerrar fábricas, deixar os campos em pousio, abater barcos ou fechar as minas, que a venda de carros de luxo continua a aumentar, logo o bem-estar está a expandir-se em alta cilindrada e a grande velocidade.

Indústria de gatas, agricultura de muletas, pesca à deriva são questões de somenos importância, desde que continuem a surgir lanchonetes com cheirinho a telenovela, os snacks, o fast-food e os Shopping Center que, de mãos postas também se designam por “Catedrais de Consumo”.

Em quaisquer destes shoppings podemos comprar de tudo, construído, cultivado ou pescado no mais recôndito dos países desta “Aldeia Global”. Casualmente, encontramos umas coisitas nacionais, rendas de bilros Made in China”, por exemplo.

Diga-se em abono da verdade e dos nossos doutos governantes que cultivar os campos, trabalhar nas fábricas ou ir à pesca, com riscos de cair à água, não é nada agradável, sobretudo se os nuestros hermanos vão trabalhando por nós, isto porque nos foi concedida a graça de sermos unicamente consumidores, o que, repito, diga-se em abono da verdade e dos nossos amados governantes, é uma bênção a que nem os deuses têm acesso. Pelo menos aqueles deuses com quem contacto mais amiúde.

Onde é que vamos buscar o dinheiro para termos acesso a tantos bens? Que pergunta mais idiota!

Então para que nos serve o totoloto, o totobola, os casinos , a raspadinha, a lotaria, o jackpot, brevemente as corridas de cavalos, de lesmas e caracóis, os prémios nas embalagens – pague um e leve dois – os telefonemas diários, anunciando-nos que ganhamos, é só ir buscar; os concursos televisivos que dão sacadas de notas; e, claro, não podíamos esquecer os bancos sempre dispostos a dar mais um empurrãozinho para o abismo: “antecipe o seu ordenado e ganhe um super carro!” Não é emocionante?

Ah! Ia-me esquecendo de mais uma ajudinha que vem mesmo a calhar. Os nossos caros governantes (bem caros nos ficam) vão leiloar tudo: palácios, quintas, quintais, passeios, esgotos, tudo! E nós, obviamente, seremos os primeiros a receber um caldeirão de massa com a qual nos vamos divertir à brava nos shoppings… e rir muito… e sermos bué de felizes.

Por tudo isto, e o mais que seria cansativo enunciar, acho que as novas leis laborais vêm mesmo a calhar: despedir por dá cá aquela palha entregando-nos à nossa sorte, sujeitos à roleta e à batota dos poderosos.

E depois? Mas… e depois o quê!?

Vamos vivendo como o Ti Manel e o Chico Fitas: cinquenta cêntimos vão-nos chegar até ao final da nossa vida e, se formos poupados, mesmo para além dela.