A prova provada de que o 25 de Abril renasce a cada instante no coração do povo
LEVANTE-SE O RÉU!
E o réu levantou-se com o aprumo e a dignidade das consciências tranquilas.
Jovem, tinha no olhar a limpidez dos íntegros e a altivez dos lutadores.
- Nome, idade, filiação?
- Chamo-me Abril, nascido em 25 de 1974, filho da opressão e da miséria.
- Sabe do que é acusado?
- Confirmo, meritíssimos juízes que sei e meorgulho da sublimeculpa.
"Devolvi às flores a cor e o sentido, espalhei por todas o aromainolvidável, iluminei-as com o sol da vida e da esperança, quebrei-lhes as algemas e as grades dos cárceres da tristeza, e as pétalas abriram-se libertas e as crianças sorriram. Ao vento dei a direcção e o pólenque fecundou a dignidade de néctarjá esquecido"
Fez uma pequenapausa e num tomcalmomasfirme continuou:
"Não sou heróinemmártir, mas a vidaqueemmutaçõesconstantes repele a cobardia e ao esgotar-se em sofrimento renasce impetuosa e firme, sugerindo de novocaminhosquesó a bússola do sonho é capaz de encontrar."
Os juízes entreolham-se; na assistência, uma jovem de belezaetérea, frágilembora, comotudo o que é puro, segue, letra a letra, o discursovigoroso. É a Liberdade, sua irmã. Filhatambém de todas as quimeras, sem as quais a existêncianão tem sentido, sabendo-se que a nossavida está orientada para o futuroqueLhepertence.
A Liberdade, irreprimível, intemporal, questionou:
"Porquê e emnome de quemnos julgam? Tempo perdido é o vosso. Sou parte dos subjugados pelaignorânciaquando dela consciência tomam e se libertam. Corporizo os seusanseios colectivos no Maio 1º, e posso renascer, e renasço semdiaoumês anunciados.
Não se julga o sol e o luar e o bom-senso não questiona as estrelas, a brisa das manhãsou o crepúsculo.
Emqueinstância se encontram a cobiça e a arrogância, irmãs daninhas, subvertendo indecisos, fracos e frustrados, arregimentando-os emlegiões de corruptos?
Dadoque libertas se encontram, decerto deixaram comocaução a gula esfomeada quejávos subornou!"
Abril retomou a palavra:
"Ummês é sempre precedido de outromês e de outrostantoscomo a eternidade, da opressão nasceu sempre a revoltatãonaturalcomo a água nas fontes. Julgando-me arrastam na vossaacusação, Maiomeuirmão, e nossa irmã Liberdadequeme abraçaram nesse reencontroque a memória retêm.
Senhoresjurados, meritíssimos juízes duma causatambémvossa; lembrem-se das lágrimas de alegria, da festa, da fraternidadeque a todos envolvi quando cheguei, da solidariedade reencontrada, das canções, da alvorada de esperançaque, perdendo-se, vos perde!"
E justiça foi feita:
Abril, Maio e a Liberdade foram condenados a jamais se separarem, a lutarem eternamente, a nunca se curvarem e a serem amadosparatodo o semprepelosque exigem dignidade e pão.
1 comentário:
Não tenho palavras, Cid.
É um texto muito bonito... é Abril no coração de todos nós...
Um abraço
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