"Na biblioteca da Cooperativa Piedense"
“A genese do titulo
deste blogue”
«AS
PALAVRAS SÃO ARMAS»
Era já uma da manhã quando tivemos que dar por terminado o
colóquio que Óscar Lopes
tinha vindo fazer à Piedade. Ali na sala do café,
mantinha-se sem arredar pé, um público composto por trabalhadores, cuja média de instrução oficial não devia ir além da quarta classe e Óscar
Lopes com um entusiasmo contagiante procurava
fazer-se entender. “Se não me
compreenderem, sou eu que não me sei fazer entender”,
dizia-nos. E mais do que os ensinamentos sobre literatura, frases como estas
ficavam a vibrar nos nossos sentidos,
acostumados que estamos à imbecilidade reconfortante dos que “sabem” tudo e à arrogância daqueles, para quem, no pedestal da sua sapiência todos os outros são asnos.
"Óscar Lopes na apresentação do livro de Almeida Faria, Cooperativa Piedense 1966/7"
Óscar Lopes sabia que não é tempo perdido passar uma noite entre trabalhadores para quem a literatura depois de um dia de árduo trabalho não deve ser coisa fácil, que elucidar é tarefa difícil mas necessária. E porque eram trabalhadores os que ali se
deslocaram, o facto de ali estarem era já razão de sobra para se respeitar esse esforço e a vontade de querer ir mais além.
E ciente do manancial de verdade que existe em nós, falou-nos
das palavras, que devíamos
conhece-las, que as palavras são armas, com palavras também se consegue
muita coisa e nós redobrámos
o nosso esforço e interesse em saber
utilizá-las, e fizemos trincheiras de frases e atirámos palavras as mais
explosivas e passámo-las a outros a quem
incitámos a ir mais além, e
procurámos compreende-las e saber porque é que nos cortam a
palavra logo no princípio do discurso e também porque é que somos por vezes obrigados a falar por monossílabos, por gestos, por gritos.
É também pela palavra que procuramos comunicar o que em nós existe de verdade.
Ao sairmos da sala, passámos em frente da vitrina onde tínhamos expostos todos os seus livros, alguns muito pequenos e simples certamente feitos a pensar em nós. E Óscar
Lopes indicava-nos a sequência em que deveriam ser lidos: primeiro aquele, depois o outro e só depois aqueloutro…
Mais tarde fomos falar com alguém que nos tinham
indicado e de quem nos disseram “que sabia umas coisas de cinema”,
Convidámo-lo a fazer um colóquio na Cooperativa Piedense e
aceitou em ajudar-nos. Tinha chegado há pouco tempo a Lisboa e quando lhe dissemos de
onde vínhamos disse-nos que não sabia onde era a Cova da Piedade mas tinha tido conhecimento que o Óscar
Lopes lá tinha estado e era também por isso que aceitava sem reservas o nosso convite.
AS PALAVRAS SÃO ARMAS E O EXEMPLO TAMBÉM,
APRENDERMOS A SERVIR-NOS DELAS NO BOM SENTIDO, DE UM MODO CLARO E SIMPLES, SERÁ ENTRE OUTRAS
UMA FORMA DE HOMENAGEAR ÓSCAR
LOPES MAS SOBRETUDO SEGUIR AQUILO QUE DIZEMOS PARA SERMOS O
QUE ESPERAM DE NÓS.
(publicado no "A Opinião" em 1973 com cortes da censura)
(publicado no "A Opinião" em 1973 com cortes da censura)
2 comentários:
Gostei de ler esta pequena homenagem a Ôscar Lopes,Um historiador Cubano ,disse hâ pouco tempo,sobre Marti,que ·"La muerte no es verdad,cuando se ha cumplido bien la obra de la vida".Ê uma grande verdade.
De facto Óscar Lopes conseguiu "libertar-se da lei da morte".
Um beijo.
Enviar um comentário