Manning foi
condenado por denunciar crimes contra a humanidade enquanto que os criminosos são protegidos por aqueles que o condenaram. É a democranazia
estadunidense.
Extracto do depoimento lido na conferência de imprensa depois de Manning ter sido condenado a 35 anos de prisão.
«As decisões que tomei em 2010 deveram-se à preocupação com o meu país e o mundo em que vivemos. Desde os trágicos eventos do 11 de Setembro, o nosso país tem estado em guerra. Temos estado em guerra com um inimigo que opta por não nos enfrentar num campo de batalha tradicional, e devido a este facto
tivemos de alterar os nossos métodos de combate aos riscos impostos sobre nós e o nosso modo de vida.Inicialmente concordei com estes métodos e escolhi voluntariar-me para ajudar a defender o meu país. Só quando cheguei ao Iraque e li os relatórios militares secretos diariamente é que comecei a questionar a moralidade do que estávamos a fazer. Foi nessa altura que compreendi que com os esforços de enfrentar o risco imposto pelo inimigo, nós havíamos esquecido a nossa humanidade. Nós elegemos conscientemente desvalorizar a vida humana tanto no Iraque como no Afeganistão. Quando enfrentámos aqueles que entendíamos ser o inimigo, por vezes matámos civis inocentes. Sempre que matávamos civis inocentes, em vez de aceitarmos responsabilidade pela nossa conduta, elegemos esconder-nos por detrás do véu da segurança nacional e informação classificada de forma a evitar qualquer responsabilidade pública.
No nosso zelo para matar o inimigo, debatemos internamente a definição de tortura. Detivemos indivíduos em Guantanamo durante anos sem o processo legal devido. Nós inexplicavelmente virámos as costas a tortura e execuções pelo governo Iraquiano. E engolimos incontáveis outros actos em nome da nossa guerra ao terror.
O grito patriótico é frequente quando actos moralmente questionáveis são defendidos pelos que estão no poder. Quando estes gritos patrióticos afogam as nossas intenções lógicas, é geralmente o soldado Estadunidense que é ordenado a cumprir uma missão mal concebida.
A nossa nação tem tido semelhantes momentos negros para as virtudes da democracia – o Trilho de Lágrimas [Trail of Tears; a migração forçada dos Ameríndios], a decisão Dred Scott [a decisão do Tribunal Supremo que negou cidadania ao escravo Dred Scott, em 1857], o McCarthismo, os campos de internamento dos Estadunidenses de origem Japonesa – para referir apenas alguns. Estou confiante de que muitas das nossas acções desde o 11 de Setembro sejam vistas um dia sobre a mesma perspectiva.
Como o falecido [historiador] Howard Zinn uma vez disse: “não há bandeira suficientemente grande para cobrir a vergonha do assassinato de pessoas inocentes.”
Eu compreendo que as minhas acções violaram a lei, e lamento se as minhas acções feriram alguém ou feriram os EUA. Nunca foi minha intenção ferir ninguém. Apenas queria ajudar pessoas. Quando decidi revelar informação classificada, fi-lo por amor ao meu país e um sentido de dever perante outros.
Se negarem o meu pedido de perdão, servirei a minha pena sabendo que por vezes temos de pagar um preço elevado para viver numa sociedade livre. Pagarei esse preço comprazer se isso significa que podemos ter um país verdadeiramente concebido em liberdade e dedicado à proposição que todas as mulheres e homens são criados igualmente.»
3 comentários:
Manning ê um herôi,ou ,pelo menos,possui um carâcter e uma sensibilidade pouco comum dos cidadaos estadounidenses,Merece todo o apoio internacionalista,de todos os que lutam pela liberdade .
Gosto deste depoimento, embora pense que lhe falte um pouquinho mais de denúncia em relação à política dos EU.
Mesmo assim, são 35 anos de prisão!!!!!
A minha solidariedade para com Bradley Manning.
Um beijo.
Todos os impérios tombam. Nada do que é humano é eterno e imutável. Este império também cairá. Se não estiver já caindo...
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